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Os sete pecados maternais nas férias

Mãe, católica ou não, peca. Seja à vista de todos ou às escondidas. Algumas são punidas, outras escapam ilesas, sem castigo nem terços para rezar. Mas a maioria expurga-se sozinha após as férias. Sim, porque é nas grandes férias familiares que vivem 24 horas por dia com os filhos, dia sim dia sim, sentindo-se mais tentadas a pecar. Os comportamentos maternais discorrem cada “pecadito”, desavergonhadamente, sob o sol do Verão.

Gula com ou sem creme:
– Que se lixe! Dê-me uma bola de Berlim, se faz favor!

Vou comê-la aqui sentadinha na sombra com a toalha enrolada à volta da barriga. É só hoje. Até porque é a primeira do Verão e os miúdos adoram. E comer uma bola de Berlim na praia deveria ser programa obrigatório no plano nacional de férias, caso existisse.

– Não há com creme? Está a brincar comigo!

As de chocolate não me aquecem nem arrefecem… Uma pessoa quer uma bola normal e já não há, “minha senhora, só de alfarroba!” Agora reinventam tudo. Tudo, menos pessoas... estas andam ocupadas a desforrar-se nos pastéis de bacalhau com queijinho da serra, nas carripanas de rua, no pão com peixe. É que não se consegue tirar férias da excitação deste país com o gourmet!

Inveja de um simples guarda-sol:
Não estou a acreditar! Eu sabia que o guarda-sol da Decathlon é que era… Alguém me explique porque é que estão aqui 200 guarda-sóis e só o meu é que se vira?! Está decidido: para o ano vou alugar um colmo. De primeira fila. Olha-me ali aquela família, ao fundo, com a roupinha toda bem pendurada no colmo… Aquilo até tem cabide. A mãe não está nada mal, se aqueles miúdos forem todos dela. Não posso mesmo comer mais bolas… Bom, vou mas é tirar uma fotografia aos meus pés na areia com o mar ao fundo.

Ira perante uma pistola de água:
– Ó, Rui Miguel! Pregas mais uma amona à tua irmã e quem te vai mostrar os peixinhos todos lá em baixo, sou eu. Estamos entendidos? E acabaram-se os disparos da pistola de água, por favor.

– Ó, Rui Miguel! Sai da água imediatamente! Raios partam o miúdo... Não há mais último mergulho nenhum! Tens cinco minutos para te vires vestir. E limpa os pés, não quero areia no carro. Não, não limpas os pés com a pistola de água. Vê lá se queres ir a pé… Toca a entrar no carro.

Avareza às voltas no carrossel:
– Tira a pistola de cima da mesa, Rui Miguel. Não, logo não há mais voltas no carrossel. Sim, amanhã talvez possas andar na zebra. Não abuses… O cisne fica para o próximo ano, nem penses que vais andar no zoo todo do carrossel com bilhetes a dois euros cada voltinha. Aliás, ou andas no carrossel ou comes um gelado de uma bola apenas: escolhe. Bem, o que querem jantar? Atenção que uma dose chega perfeitamente para os quatro. Não precisam tocar no paté de sardinha e no queijinho. Só pão e azeitonas. Amanhã levo reforço de fruta e sandes de ovo mexido, lá do buffet do pequeno-almoço.

Vaidade a pés juntos:
– Meninos, vejam esta fotografia que tirei aos meus pés na areia com o mar ao fundo. Está de roerem as unhas lá no emprego, não está? Vou postar também no Facebook a fotografia das amêijoas à Bulhão Pato, aproxima aí o copo de vinho branco para compor melhor o enquadramento. Isso. E tira o babete nojento da miúda para o lado. Perfeito!

Preguiça nos ouvidos:
Que barulho foi este? Um dos miúdos a asneirar... Claro, agora a mãezinha que resolva… Vou fazer de conta que não estou a ouvir. Vou fazer de conta que não estou a ouvir. Vou fazer de conta que não estou a ouvir. Vou fazer de conta que não estou a ouvir. Vou fazer de conta que não estou a ouvir.

– Já vou!

Luxúria é fazer sexo:
Isto é que é vida. Óleo hidratante no cabelo. Loção no corpinho todo. Até mesmo tomar banho todos os dias. Mas alguém mexeu neste antirrugas... Enfim, amanhã logo investigo quem foi o espertinho. Agora estou de férias e os miúdos deitados. Olá! Vou fazer sexo... E amanhã vou comer outra bola com chocolate… É a última do Verão. Depois faço dieta lá no emprego.