Mães há muitas

Faz de conta que a pança do papá é sexy
Esta semana foi noticiado um novo tipo de homem: o Dad Bod. Uma designação que, em português, se refere a um pai com “corpo de pai”. Devo admitir que a expressão me soou imediatamente a “corpo de Cristo” e, logo depois, a hóstias. Mas não, é mesmo um corpo de pai com braços moles e barriguinha saliente, não por comungarem em excesso mas devido ao pecado das cervejinhas de domingo.
Cá está uma tendência pronta a consumir e deitar fora. A designação, não os pais. É que estes pais sempre existiram com as suas pequenas barrigas-panças-almofadas, pelo que assumi-las como tendência, só se for no Japão. O mundo está cheio de Sanchos-Panças, desculpem, Dad Bods. O meu pai. O seu pai. E, deduzo, o pai da autora deste desvario, uma estudante americana de 19 anos com um provável deslumbramento edipiano.
Mas porquê catalogar os corpos dos pais? Será que os papás não são suficientemente sexys? É óbvio que os estereótipos estéticos já não são território exclusivo das mulheres. Os corpos da maioria dos homens, pasmem-se, são banais. Nem todos conseguem manter trícipes, abdominais e glúteos dignos de se acender as luzes todas do quarto. Os modelos masculinos das revistas e anúncios de publicidade, os tipos do ginásio, os metrossexuais e até os homossexuais, chutaram o físico dos pais normais para canto. E as mães não ajudaram: “Querido, não te ponhas em cima de mim que me pesas... Queres que te empreste a minha cinta pós-parto?”
E é neste calcanhar de Aquiles que a tal miúda, ao lançar o Dad Bod, foi visionária. Porque levantou o moral de 80% dos pais de todo o mundo. Devolveu-lhes a auto-estima ao definir o seu tipo de corpo como sensual. Enquanto este conceito correr as bocas do mundo é provável que se façam mais filhos. Em poucos instantes surgiram centenas de comentários masculinos a esta notícia. Homens, pais e não pais, entusiasmadíssimos, levantaram a voz para afirmar: “Até que enfim! Estou na moda!”, “Estou safo este Verão!” e “Um homem sem barriga é um homem sem história”. Porque é bom que o peso masculino de se desempenhar o papel de herói esteja fora de moda.
Sim, estas definições são sexistas. Mas o surpreendente é que os homens gostam. E querem, muito, ser tratados como objectos sexuais. Mesmo os que dizem que não. Mesmo os que se ofendem. Mesmo os nossos pais, irmãos e avôs e não apenas os maridos e pais das outras. Por isso é que estas modas pegam. Chamem-lhes o que quiserem: corpo de pai, lenhador, pai com quem gostaria de ir para a cama, metrossexual, spornossexual. Mas chamem-lhes nomes. Os senhores agradecem.
Quanto às mulheres, principalmente as mamãs, terão de aguardar que apareça igualmente um macho que consiga convencer o mundo de que as mamas descaídas e barriguinha de quem teve vários filhos são a última tendência. E se ainda se atrever a lançar a moda da celulite, então será um génio. Mas aguardemos sentadas, minhas senhoras. E de preferência de boca fechada.