Nelson Garrido

Por trás de um grande pai, há uma grande mãe

A começar porque as senhoras é que escolhem os futuros pais dos seus filhos. Goste-se ou não da ideia, são as mulheres que têm a palavra final quanto ao candidato a perfilhar o sonho da sua vida. À partida, os pais são uma decisão das mães. Este é o primeiro acto de amor de uma mãe para com o seu filho: escolher-lhe um bom pai.

E há excelentes pais.

Os pais estão lá, na sala de partos, a fotografar. Nas consultas e cursos de preparação pré-parto. Envolvem-se na escolha do nome, do carrinho, da creche. Mudam fraldas, dão banho e brincam. Vão às reuniões da escola. Confortam a meio da noite e preocupam-se com a tosse; porque quiseram e querem ser pais. A figura do pai distante com muitos filhos foi substituída pelo pai afectuoso com poucos filhos. E o pai saiu do escritório para entrar em casa.

Mas não basta.

É preciso explorar a casa. O frigorífico não é o único habitante na cozinha. E a zona de lavandaria não é um sotão fechado a sete chaves. O que não há, ainda, são excelentes pais-do-lar. O caminho pela igualdade parental é bonito, mas coxo. Faltam anos, muitas décadas, para o pai vestir o fato completo sem precisar que a mãe lhe ajeite a gravata. É que na certidão de nascimento de um filho está escrito, nas entrelinhas, um rol exasperante de necessidades da cria. Este trabalho chato calha, desde sempre, às mães. É, essencialmente, por causa destas letras miudinhas, que “Por trás de um grande pai, ainda há uma grande mãe”.

Claro que todos nós, sem sequer precisarmos de ser pais ou mães, gostamos de ter as costas quentes.

Um-dó-li-tá, quem está livre de lavar o pijama bolsado, livre está!

É o cérebro maternal que se desgasta com o trabalho sujo, salvo seja. As datas das consultas e vacinas, a lista de supermercado, a roupa que é preciso pôr para lavar, a lembrança do protector solar. Os neurónios maternais estalam como pipocas para planear cada pormenor da festinha de aniversário da criança; não, não pode ser um bolo qualquer. E o bolo não aparece sozinho à porta de casa pronto a saltar para cima da mesa. Ter um filho implica também gerir estes “consumíveis” do dia-a-dia.

Os pais esforçam-se.

Os homens só recentemente é que conciliam trabalho, paternidade e actividades domésticas. Muita coisa ao mesmo tempo após séculos sem encostar a barriga ao tanque. Mas se as mulheres levaram quase dois mil anos para pôr o pezinho fora de casa, porque estão à espera que os pais dos seus filhos conheçam os cantos à casa em três dias?

Calma. Chegará o tempo de ver os papás a cortar as unhas aos filhos, tirar-lhes cera dos ouvidos, conversar com outros papás sobre chuchus – que até são legumes, mudar o lençol molhado a meio da noite, decidir que é altura de comprar mais pijamas porque a criança cresceu, preencher o livro do bebé, preparar o saco de ginástica ou a lancheira para o dia seguinte. Porque as mães não são secretárias dos pais.

Os pais-do-lar não existem. São uma teoria à espera de acontecer. Um sonho a ser vivido pelas futuras gerações femininas. Quase diria que estamos a educar os futuros maridos das nossas netas. Essas sim, têm a papinha feita.

Claro que há sempre um cavalheiro que se levanta ofendidíssimo porque “eu faço tudo!” e desata num chorrilho de auto-elogios. Porque sim, já há homens assim. Mas convenhamos: são uma agulha no palheiro.

O irónico é que, quando um pai consegue ainda ser pai-do-lar, a sua esposa é bagunceira. São estas mulheres mais desorganizadas que se safam sempre melhor. Ou talvez não, se acreditarmos na sabedoria popular que diz que as mulheres não caem de quatro por homens certinhos.

Mas afinal, queremos ou não pais que criem os nossos filhos, literalmente, em paridade connosco? Sem dúvida que queremos. Mas tem de ser um pai-e-marido-do-lar-que-não-seja-certinho. E valorize uma grande mãe. Ao seu lado e não nas costinhas.