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O Paraíso Escondido pode ser um bungalow suspenso e histórias de família

Novas suítes e dois bungalows de madeira elevados na paisagem são as novidades do Paraíso Escondido, uma unidade de turismo rural vocacionada para o descanso no Sudoeste Alentejano.

Berny Serrão diz “Bom dia” de sorriso aberto, trata os hóspedes pelo nome quando entram na sala de refeições onde os pequenos-almoços são servidos e brinca: “Ponho uns pozinhos na água e as pessoas dormem sempre bem.” Os pozinhos de que fala são metafóricos, convém dizer, até porque o Paraíso Escondido tem tudo o que é preciso para uma noite de sono sem falhas. Garante Berny que a “linguagem corporal das pessoas muda” assim que chegam à unidade hoteleira que construiu, ao longo de 13 anos, com o marido, Glenn Cullen. Começaram com uma suíte e quatro quartos duplos na casa principal, em Novembro de 2014. Agora, quase três anos depois, o número de quartos duplicou com a criação de novas suítes e dois bungalows independentes, encaixados na subida para um monte do Sudoeste Alentejano.

O Paraíso Escondido fica na aldeia de Casa Nova da Cruz, em São Teotónio, e estende-se por oito hectares; o caminho para lá chegar é sinuoso e íngreme, ladeado por muitas árvores (medronheiros, sobreiros, eucaliptos) e pelas sombras que estas projectam. Numa das primeiras curvas, à direita, uma construção de madeira assente em estacas esconde-se entre a vegetação. É o Camomila, um dos dois novos bungalows (o outro é o Cidreira), inaugurados em Maio último após as obras de ampliação. Parecem suspensos — culpa da construção sobre estacas —, com alpendres que encaram a paisagem. Há cadeirões brancos estrategicamente posicionados à entrada, tudo em “madeira tratada do Norte da Europa” e construído no local pela empresa portuguesa Mood 4 Wood, peça a peça.

“Queria que representassem a minha história: arquitectura colonial, tropical, grandes varandas para manter a frescura e embrenhados na natureza, com as comodidades modernas”, conta Berny, portuguesa nascida em Moçambique que já passou pela África do Sul e por Singapura. Nos bungalows, a ideia é que os hóspedes possam descansar, longe de outras pessoas se assim o desejarem (e precisarem); a casa-mãe e a zona da piscina estão a poucos minutos a pé. A cama de dossel é o elemento principal em cada um dos bungalows, com tectos altos em madeira branca e uma casa de banho espaçosa. Aqui, como nos outros quartos duplos e suítes do turismo rural, não há televisão — mas não falta Internet. Faz-se silêncio, dorme-se “com pozinhos”.

O caminho continua até ao cimo do monte e, na última curva, o Paraíso Escondido revela-se. A casa principal, de traça tipicamente alentejana, tem um novo alpendre voltado para o relvado da piscina e para o deck de madeira de onde se vê a pequena barragem de aproveitamento das águas da chuva. Foi Berny quem escolheu a nova cor das paredes da casa, em alusão “à terra” (e à revelia dos arquitectos, diz, em jeito de brincadeira) e com vontade de não ser impositiva no meio da natureza. “Gosto de partilhar, não de impor uma filosofia ou uma espiritualidade. Abro a porta, as pessoas entram se quiserem.”

“As pessoas precisam de amor”

Berny, Glenn (inglês nascido na Austrália) e Gisela, a filha de ambos, vivem ali ao lado, numa casa com uma arquitectura moderna voltada para a barragem e para o pomar. Pêssegos, laranjas, limas, romãs, peras e maçãs hão-de crescer naquela terra que partilha a cor com a África que Berny recorda, todos os dias. O Sudoeste Alentejano assumiu o lugar que a saída de Moçambique deixou vazio, as referências estão por todo o lado, conjugadas com objectos familiares e mobiliário asiático que o casal foi adquirindo em viagens. A mobília tem história, os quadros — muitos deles pintados pela própria Berny — e as fotografias de família também, claro.

Não há uma zona de recepção tradicional, com balcão e computadores, o conceito é o de “no lobby”. “Quando chegam, os hóspedes já estão de férias.” Os dados pessoais e as preferências foram recolhidos previamente, o check in feito com alguns dias de antecedência. À chegada, a sala de refeições é a primeira coisa que vêem, agora instalada num antigo terraço, com direito a duas mesas familiares e várias mais pequenas, uma lareira acolhedora e um bar. “Maguduza” é o que se lê numa placa colocada no bar, ao fundo da sala, em homenagem ao pai de Berny. Significa “homem branco com alma de negro” e é mais uma referência a uma história familiar feita de encontros noutros continentes. O casal conheceu-se na África do Sul, viveu em Singapura e mudou-se para Portugal para cumprir o sonho de Berny. No início, Glenn ainda se dividia entre São Teotónio e o estrangeiro; agora, está no Paraíso Escondido a 100%.

Além dos bungalows, o novo cartão-de-visita deste turismo rural, foram construídas duas suítes independentes (Marula e Jasmim) no mesmo plano da casa-mãe e outras duas, voltadas para a barragem (Malva e Verbena). Nestas últimas, o objectivo é que os hóspedes “se sintam numa espécie de toca, protegidos”, explica Berny, durante um passeio pela propriedade na companhia de Zulo. O simpático leão da Rodésia divide as atenções da família e dos hóspedes com Candy, uma west terrier de pêlo branco.

A água das chuvas, canalizada para a barragem, é utilizada na rega dos jardins, do pomar e da horta, e painéis solares aquecem a água que serve as suítes. Há ainda uma zona, protegida do sol, com um posto de abastecimento para carros da Tesla e outro para o carregamento dos demais carros eléctricos. Da horta saem muitos dos produtos que compõem a ementa do novo restaurante da casa, outra das novidades. O chef Pedro Mendes, responsável pelo restaurante Maria Pia, em Cascais, criou o conceito e orienta a carta, com produtos locais; os jantares estão a cargo de dois jovens chefs residentes e devem ser reservados com antecedência. Isto porque os produtos são frescos e locais, garante Berny, que quase todos os dias vai às compras. “Saber de onde vêm as coisas que comemos é amor”, acredita. É por isso que se desloca ao mercado de Aljezur para comprar as frutas e o peixe e à casa da vizinha, dona Assunção, para os queijos de cabra que serve com mel de rosmaninho à mesa do pequeno-almoço. As sobremesas ficam, muitas vezes, a cargo da filha Gisela.

“As pessoas precisam de amor”, vai repetindo, e a primeira refeição do dia pode ser a altura ideal. Um regresso ao início deste texto para recordar o pequeno-almoço, que foge ao registo de buffet e é preparado mediante as preferências dos hóspedes. À mesa chegam uma garrafa de vidro com sumo de laranja natural, uma travessa de fruta fresca, pão e compotas alentejanos, ovos (caseiros) mexidos, iogurte com granola e queijos e presunto, além das bebidas quentes convencionais. Talvez seja para provar duas vezes este pequeno-almoço que uma passagem pelo Paraíso Escondido exija uma estadia mínima de duas noites. Berny justifica: “Sinto-me completamente realizada quando vejo que as pessoas estão tranquilas, mesmo que sejam só três dias”. 

 

Paraíso Escondido
Casa Nova da Cruz, 7630-568
São Teotónio
Tel.: 912 470 206
www.paraisoescondido.pt
info@paraisoescondido.pt
Preços: quarto duplo a partir de 135 euros em época baixa (185 euros nos meses de época alta); bungalows entre 250 e 300 euros (época baixa e alta, respectivamente); jantares a partir de 30 euros/pessoa

No pequeno spa do Paraíso, localizado por cima da casa familiar de Berny, Gleen e Gisela, é possível agendar massagens e tratamentos (a partir de 50 euros), que terminam com um chá português servido na zona de relaxamento. São três os terapeutas disponíveis, mediante marcação prévia, especializados em massagem ayurvédica, reflexologia do pé, massagem indiana na cabeça, massagem profunda ou aromaterapia.

Positivo
A qualquer hora do dia (ou da noite), há um bolo caseiro ao dispor dos hóspedes na sala de refeição. É só servir-se de uma fatia

Negativo
A distância entre os dois bungalows e as áreas comuns, onde são servidas as refeições e onde está a piscina, pode ser dissuasora, já que a inclinação do terreno é bastante acentuada

 

A Fugas esteve alojada a convite do Paraíso Escondido