Ou se ama ou se odeia: há beleza no Brutalismo japonês?
O brutalismo, no Japão ou fora dele, suscita quase sempre a mesma reacção: ou se ama ou odeia. O livro Brutalist Japan, de Paul Tulett, revela 200 exemplares deste estilo arquitectónico.
Em Agosto de 1945, no rescaldo da Segunda Guerra Mundial (e das duas bombas atómicas lançadas pelos EUA sobre Hiroshima e Nagazaki), o Japão era um país devastado, destruído. Grande parte de Tóquio e de outras cidades estavam reduzidas a cinzas ou a escombros em resultado da guerra que vitimou, entre militares e civis, quase dois milhões de japoneses. O processo de reconstrução do país, que se desenrolou nos anos seguintes, deu origem a grandes fenómenos migratórios, a um boom económico e à rápida construção de novos edifícios, que se desejavam sólidos, duráveis e funcionais.
É neste contexto que surge o brutalismo no Japão, uma corrente arquitectónica que cortava radicalmente com a tradição japonesa, que era centrada o uso de materiais orgânicos, como madeira, papel, e numa grande flexibilidade espacial associada a leveza, luminosidade, impermanência. O brutalismo introduz nas cidades japonesas algo completamente diferente e controverso: edifícios de betão armado, de grande volumetria e peso, brutos, sem acabamentos, e de formatos inusitados.
Ao longo de cinco anos, entre 2019 e 2024, o fotógrafo Paul Tulett, que é especialista em brutalismo e autor da conta @brutal_zen, percorreu todo o território Japão em busca de exemplares dessa corrente arquitectónica. As fotografias que captou descrevem cerca de 200 edifícios brutalistas e integram o livro Brutalist Japan: A Photographic Tour of Post-War Japanese Architecture, que lançou pela Prestel no final de 2024.
As estruturas que fotografou são maioritariamente edifícios públicos: museus, escolas, universidades, sedes administrativas de governos locais – os favoritos de Tulett são a Câmara Municipal de Nago e o seu Centro Cívico, em Okinawa, onde reside, ou a Escola Feminina de Iwata, em Oita, ou o Observatório Astronómico de Kohoki, em Kagoshima. Mas há também, nas suas imagens, blocos residenciais, construídos por iniciativa privada, e edifícios comerciais que albergam pequenos negócios.
O brutalismo japonês desenvolveu características únicas que em muito se destacam das expressões ocidentais. Mais aberto, fluido, ele incorpora, por vezes, elementos mais artesanais, mais detalhados, menos crus ou brutos, alguns de estética mais tradicional japonesa; ele tenta integrar-se de forma mais harmoniosa no seu entorno, procurando não destoar ou destacar-se; ele inclui alguns elementos da arquitectura metabolista, corrente que nasceu no Japão na mesma época e que priorizava a flexibilidade dos espaços, a sua capacidade de adaptação e crescimento.
Embora existam, no Japão, nomes que se associam imediatamente ao brutalismo – como os de Kenzo Tange, Arata Isozaki e Tadao Ando, o fotógrafo britânico contou ao Japan Times que, no Japão, o cidadão comum não entende o brutalismo como um estilo arquitectónico. “As pessoas não sabem o que têm”, comentou. “Creio que nem sequer existe uma palavra em japonês para definir brutalismo.” Compreendem, no entanto, que esteticamente os edifícios brutalistas podem destacar-se entre os demais. Tulett refere, numa entrevista à Dezeen, que muitos edifícios brutalistas japoneses são demolidos com base na “opinião subjectiva de poucos indivíduos”. Em risco, refere, estão o “sublime” Teatro Nacional de Tóquio, o “incrível” Ginásio da Prefeitura de Kagawa e a “fantástica” Câmara Municipal de Nago.
No país que tem o maior número de prémios Pritzker do mundo, “muitos edifícios estão marcados para demolição”, observa Tulett. E isso acontece “num período em que parece haver um aumento do interesse e fascínio por este estilo – particularmente entre os jovens”, comenta. “[Com o livro], o meu objectivo é fomentar o apreço pela estética e pela beleza destas estruturas [brutalistas] e gerar discussão em torno da sua preservação. Defendo, derradeiramente, o reconhecimento e a preservação desta arquitectura incompreendida.”