A marmota Punxsutawney Phil no seu momento de glória
A marmota Punxsutawney Phil no seu momento de glória Alan Freed / REUTERS

As próximas seis semanas são mesmo de Inverno, prevê a marmota do tempo

O Dia da Marmota é uma tradição que só se pode levar a sério, mesmo que a ciência aponte que as previsões deste meteorologista deixam muito a desejar. Punxsutawney Phil voltou a brilhar, Bill Murray não apareceu.

Em Portugal, a tradição do Groundhog Day é mais uma coisa de ficção, que muitos lembrarão dessa comédia de culto dos anos de 1990 com Bill Murray. O filme, em que o pobre Bill, bem baptizado de Phil, vive o mesmo dia uma e outra vez, tem como título português o muito apropriado O Feitiço do Tempo. Quem não teve já dias que parecem que são apenas cópias uns dos outros? Até este vosso escriba, que dá por si a escrever, mais uma vez, sobre como Punxsutawney Phil saiu de sua casa, olhou e viu a sua sombra. 

Poderia ser um momento muito íntimo do animal, sem grandes interpretações mais, mas não. Na Pensilvânia, EUA, precisamente na cidadezinha de Punxsutawney, o evento é uma grande, grande festa. E que todos os anos, mais sombra menos sombra, parece sempre igual. O Clube da Marmota toma conta de tudo, os senhores vestem os seus fatos de gala, chegam muitos visitantes, há banda, há fogo-de-artifício. E, acima de tudo, há muitos fotógrafos, muitos jornalistas. O Dia da Marmota é, aliás, transmitido em directo por vários canais de televisão —​ até a BBC fez um "ao minuto" no seu site (sim, a sério). Quem tem na memória o filme só pode sorrir: na comédia, o repórter Phil é obrigado a acompanhar o evento, mas sem vontadinha nenhuma. Que jornalista terá vontade de reportar as previsões meteorológicas de uma marmota? Ou mesmo de escrever sobre elas à distância? Bom, avancemos... 

Ora acontece que, este domingo, tudo se repetiu. Às 7h da manhã em ponto, a marmota, chamada a sair de casa, lá deu um ar da sua graça - há que reconhecer que Phil é muito fotogénico - e, empoleirado, avistou a sua própria sombra. Conclusão (como manda a lei): mais seis semanas de Inverno. O que não está nada mal visto: faltam mesmo seis semanas e pouco para começar a Primavera.

Qual o grau de acerto da marmota do tempo? Praticamente 50/50, apontava um responsável dos National Centers for Environmental Information à CNN. A ciência só fica aqui bem. Porém, realmente, isto não faz de Phil grande profeta.

Mas, por outro lado, é um ícone das ligações entre tradições do novo e velho mundo, da Europa aos EUA: o Groundhog Day terá tido origem nas comunidades germânicas da Pensilvânia, estando anotado desde o séc. XIX, explica o site oficial do clube dedicado a Punxsutawney​ Phil. Na verdade, deverá ter derivado da tradição religiosa do dia 2 de Fevereiro, em que se celebra a Nossa Senhora das Candeias (Candelária, também Nossa Senhora da Luz, da Purificação): reza a lenda que se "a Nossa Senhora das Candeias estiver a rir, está o Inverno para vir; se estiver a chorar, está o Inverno a passar". Ou seja, se estiver sol, o Inverno está para durar. Registe-se que por Portugal a análise científica é inconclusiva: este domingo tanto houve períodos nublados como soalheiros.

Aqui chegados, eis uma pergunta que se repete a cada ano (e um texto que também se vai repetindo, mas com variações à Bill Murray): por que razão tantos jornais e media se dão ao trabalho de acompanhar o evento, de avaliar as previsões, de fazer piadas, até consigo próprios em redor do assunto? Boa pergunta. Outra boa pergunta: por que razão é que já chegou quase ao final de um texto sobre uma marmota que prevê o tempo através da sua própria sombra? Mistérios. Mas algo de fascinante haverá nesta tradição. Talvez o mesmo que havia no feitiço do filme: a repetição, mesmo que com pequenas alterações aqui e ali, sempre com o suspense de a conclusão ser mais primaveril ou mais invernosa. Com sorte no próximo ano, cá estaremos todos para repetir este momento.