Fotografia do livro The Grind, editado pela Gost Books
Fotografia do livro The Grind, editado pela Gost Books ©Steve Madden

A “estranha beleza” dos passageiros dos autocarros de Londres

Em dias de chuva, o radialista da BBC Steve Madden olhou para o interior dos autocarros londrinos e, em vez de pessoas, viu cores e formas abstractas: assim nasceu The Grind, agora em fotolivro.

Steve Madden, famoso radialista da BBC, cresceu em Londres e apaixonou-se, ainda durante a infância, pelos típicos autocarros vermelhos Routemaster que circularam, entre 1954 e 2005, pelas vias da capital inglesa. No ano em que saíram de circulação, já no século XXI, na Avenida Shaftesbury, Madden viu no interior do 38 a figura de uma mulher que se fundia com os reflexos das luzes do exterior. Madden fotografou. Anos mais tarde, diante de uma visão similar, o britânico teve a ideia de desenvolver um projecto fotográfico que isolasse essas figuras, de forma a torná-las abstractas. A série The Grind, agora materializada em formato de fotolivro pela Gost Books, descreve “a estranha beleza dos viajantes anónimos por detrás das janelas enevoadas da rede de autocarros de Londres”.

“Eu era um pequeno observador de autocarros que circulava pela cidade de Londres com um [passe diário] Red Rover. Eu tenho Routemasters a circular-me nas veias”, brinca o radialista que, além de fã de autocarros, é proprietário, há cerca de 20 anos, de vários desses grandes veículos vermelhos de dois pisos. Nas quase 80 imagens que estão dispostas sobre as 128 páginas do livro repetem-se as figuras humanas, de roupas coloridas, que se confundem com as luzes do interior e exterior do autocarro, distorcidas ou desfocadas pela presença de águas sobre o vidro. O resultado é caótico e visualmente inesperado, embora nela se encontrem vislumbres da obra Tokyo Compression, do alemão Michael Wolf (1954-2019).

As imagens que Steve Madden captou entre Janeiro de 2017 e Março de 2020, data que marca o início da pandemia, foram realizadas em vários locais da cidade de Londres. “As melhores fotografias foram aquelas que me escaparam, claro – é uma das cidades mais frenéticas do mundo, cheia de obstáculos, alguns deles humanos”, refere o britânico, que viajou por toda a cidade de Londres “em busca dos locais perfeitos” para fotografar. “Regressei a algumas paragens vezes e vezes sem conta, nomeadamente às de Houndslow, Islington, Kingston, Strand, Waterloo e Whitechapel”. Desde a pandemia que “as janelas enevoadas já não são o que eram, devido ao ar condicionado”, acrescenta. “O número de passageiros diminuiu também, devido à covid. Por isso o que eu fiz nesses anos está a transformar-se em história.”

O radialista-celebridade britãnico agradece a Martin Parr, Max Pinckers, Mark Power, Fiona Rogers, Nicola Shipley, Stuart Smith e “especialmente a Larry Towell”, pelas “observações e conselhos” que lhe deram aquando do desenvolvimento do projecto. Dedica o livro aos pais, Maureen e Ernie, “e aos passageiros anónimos dos autocarros de Londres, sem os quais não existiria livro nenhum”.