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  • Luís Sanchez (à esquerda) e João Branco fundaram a Storytailors há dez anos
    Luís Sanchez (à esquerda) e João Branco fundaram a Storytailors há dez anos Tiago Machado

Especial aniversário

Dez anos, dez perguntas para os Storytailors

Em dia de aniversário, desafiámos Luís Sanchez (L.S.) e João Branco (J.B.), os criadores da Storytailors, a fazerem uma reflexão em jeito de questionário. Uma pergunta por cada vela, depois do desfile que levou amigos, equipa de produção, jornalistas e muitos convidados quinta-feira ao Bes Arte & Finança para uma noite de celebração de dez anos de carreira.

1 – O momento mais inesquecível

L.S. – O dia de hoje.
J.B. – Este. Eu ia dizer este.

2 – O momento mais detestável

J.B. – Para mim, foi quando o meu pai morreu, no primeiro ano de Storytailors. Foi das alturas mais dificeis de todo este percurso. Foi a perda do meu pai, a perda da minha avó, a perda de várias pessoas que me são muito queridas e que, pela dedicação que todo este projecto nos tem exigido, eu sinto que não consegui acompanhar durante algum tempo a vida destas pessoas da forma que gostaria.

L.S. – O que eu mais detesto é ter de fazer noitadas (risos) por causa do trabalho. 

3 – A lição mais valiosa

J.B. – Uma lição tem de ter qualquer coisa de agridoce... Nós temos tendência, e eu em particular, para ser naïve. Estou sempre de boa-fé a fazer as coisas e parto sempre do princípio de que toda a gente está comigo de boa-fé. E tenho aprendido ao longo destes dez anos a ter um tipo de cautela que não tinha. Estava completamente desarmado. E, naturalmente, eu sou desarmardo, mas uma coisa que a vida me ensinou ao longo destes dez anos é que temos de ter alguma cautela em muitas situações, não só para nossa protecção, mas para protegermos aqueles de quem gostamos e os projectos em que acreditamos. Nomeadamente, a Storytailors. 

L.S. – Todos os dias aprendemos mais um pouco, também é isso que nos motiva, nem sempre tudo é fácil. Há dias em que só apetece ficar em casa, mas depois acordamos dispostos a lutar e a acreditar que, de facto, conseguimos sempre fazer melhor.

4 – O erro mais crasso

J.B. – Eu não gosto nada de dar força às coisas negativas. E falar sobre elas às vezes é dar-lhes força. Portanto, concentrar-me em coisas que têm um peso negativo é difícil porque é dar-lhes importância quando não devem ter. 

L.S. – Eu estou sempre em cima do trabalho e às vezes esqueço-me de comer, de descansar. Sofremos bastante com isso. 

J.B. – Essa foi uma óptima resposta. Acho que tens razão: o erro mais crasso é esquecermo-nos de nós próprios e de quem gostamos. É fundamental relativizar, afastarmo-nos um bocadinho, senão, tornamo-nos obcecados com as coisas. 

5 – Uma figura, pública ou não, que gostariam de vestir

L.S. – A minha mãe, por exemplo. Ela farta-se de me pedir, mas, de facto, acabo por não ter tempo.

J.B. – É óbvio que eu gostava de vestir a Keira Knightley, a Natalie Portman, a Kate Blanchet, a Isabelle Adjani... Isso são tudo mulheres maravilhosas que eu adoraria vestir. A Madonna, que, apesar de ter umas peças nossas, seria maravilhoso vesti-la pessoalmente. Adorava vestir o Tim Burton. E adorava vestir um presidente qualquer, um rei ou uma rainha porque acho que eles são tão boring e têm tão pouca liberdade. Não há uma, são uma data delas. 

6 – Se pudessem voltar atrás no tempo dez anos, o que dirias a ti próprio quando começaram os Storytailors?

J.B. – Dizia algumas das coisas que já respondi nas perguntas anteriores. E depois dizia: “Ganda maluco.”

L.S. – É um contra-senso, mas se calhar dizia: “Não te metas nisso!” (risos).

7 – Um sonho que ainda não cumpriram

L.S. – Tornar este projecto internacional. Acho que é isso que nos pode dar mais pernas para andar.

J.B. – Que este projecto não só ganhe uma escala internacional – pronto, isso era um sonho, por muito que... era! – mas que se tornasse de tal forma auto-sustentável que nos permitisse ter a qualidade de vida que nós não conseguimos ter agora porque lhe estamos permanentemente dedicados. Com recursos e meios para podermos experimentar ainda mais e investir mais nas pessoas que trabalham connosco. Ou seja, melhorar ainda mais as nossas bases e dar ainda mais qualidade ao nosso trabalho. E que isso contribuisse para ajudar também o nosso país.

8 – Uma figura histórica com quem gostariam de tomar café

J.B. – Nós pesquisamos sobre “n” figuras públicas e há duas com quem eu gostaria de tomar café, um homem e uma mulher. Adorava tomar café com o Fernando Pessoa. Adoro o Fernando Pessoa e, ainda por cima, ele nasceu no mesmo dia que eu. A minha irmã disse-me isso há 15 anos e eu acho que a complexidade de personalidade dele é fascinante. Agora, uma mulher. Há uma infanta portuguesa que viveu no século XVI com quem eu adoraria falar. É uma das filhas do D. Manuel e que se tornou imperatiz alemã. Foi uma mulher importantíssima que foi, aliás, apelidada de Isabel, A Perfeitíssima. Foi uma das mulheres mais bonitas da época. Conseguiu educar sete filhos, infantes, que vieram a ser regentes de “n” países e imperadores importantíssimos. Que morreu muito nova – foram 14 partos, salvo erro, o que também não é nada fácil – mas naquela época foi também das mulheres mais amadas. Porque um dos imperadores mais importantes da Europa e do mundo na altura, o Carlos V, era perdidamente apaixonado por ela. Quando a perdeu, ficou de tal forma destruído que fez votos de celibato e durante o resto da vida foi devoto à própria mulher. Uma mulher assim deve ter sido fascinante, para mais na época em que viveu.  

L.S. – Há uma pessoa sobre a qual eu tenho descoberto umas coisas interessantes. Era um cientista, um matemático, é o Einstein, porque comecei a perceber que ele escrevu umas coisas muito curiosas e inteligentes sobre o amor e achei que era um contra-senso. Como é que uma pessoa tão racional e matemática conseguiu escrever coisas tão bonitas. Acho que foi uma pessoa extremamente inteligente e se calhar tinha curiosidade de tomar café com ele para o conhecer melhor. 

9 – Qual o conto de fadas a que gostavam de mudar o fim

J.B. – A Menina dos Fósforos. Não suporto o final d’A Menina dos Fósforos. Adoro a história, mas aquela menina desgraçada que vê os seus sonhos todos à luz de um fósforo pela luz da janela de uma casa abastada e morre de frio no final, foi uma coisa que me destruiu na infância. E eu encontrei hoje em dia um paralelo num dos filmes mais bonitos que vi, desde sempre. Eu chorava imenso em miúdo. Havia coisas que me deixavam genuinamente triste. Acho que chorei tanto que, muito mais tarde, comecei a chorar muito pouco. E este filme pôs-me a chorar. É como se tivesse trazido uma série de memórias à superfície. Estou a falar de O Labirinto do Fauno, acho-o assim qualquer coisa, e faz-me lembrar A Menina dos Fósforos. Eu, se pudesse, salvava A Menina dos Fósforos

L.S. – Acho que mudava o “E foram felizes para sempre...”. Há tantas coisas mais interessantes do que isso. É sempre o mesmo. 

10 – Ainda se pode viver feliz para sempre?

L.S. – Há muito mais do que isso. Sofrer também faz parte.

J.B. – Não somos sempre felizes. Ponto. Acho que a felicidade é um conceito semelhante ao da fé – e não estou a falar de fé religiosa –, é aquilo que nos motiva a viver cada dia porque é a capacidade de acreditar que podemos ser felizes e de que o vamos ser. A fé é um acto de coragem. Nas alturas de maior contrariedade, nós temos de ser capazes de nos afastar um bocado, de olhar para as situações de fora e acreditar que somos capazes de ser felizes e de construir a felicidade. Se não conseguirmos fazer isso, caímos numa profunda depressão e isso provoca doenças físicas e mentais. E a ausência dessa capacidade só chama a destruição.

L.S. – É o reflexo do que está a acontecer no nosso país e em outros aparentemente intocáveis: também estão a ter o seu cunho de falta de fé.