Daniel Rocha

Os mitos associados à PHDA

Muito se fala sobre Perturbação de Hiperactividade e Défice de Atenção (PHDA). Embora seja tão comentada, ainda existem muitos mitos associados.

Os indivíduos com PHDA enfrentam desafios diariamente e com frequência sofrem o estigma do aluno "mal-educado", desobediente, obstinado, etc. Quando, na verdade, tudo é feito com esforço acrescido. Por outro lado, também há crianças a ser apelidadas de hiperactivas quando não deverá ser essa a denominação.

E aquelas que por serem apenas desatentas mas não agitadas passam despercebidas e só se detectam as dificuldades mais à frente no percurso académico? E os pais, serão todos eles maus disciplinadores? Procuro, neste breve texto, desmistificar algumas destas questões.

“Ele não tem PHDA, é preguiçoso e mal-educado!”
Não! A PHDA é uma perturbação real que afecta cerca de 4% da população e que traz consequências ao nível do desempenho escolar, familiar e social. Ao contrário do que se pensa, as crianças com PHDA não conseguem controlar o seu comportamento. Não fazem as coisas porque não saibam mas sim porque não conseguem!

São crianças que têm muita dificuldade em envolver-se em tarefas que exijam esforço mental prolongado e por isso são muitas vezes apelidadas de preguiçosas. A verdade é que muitas vezes se esforçam mais do que os outros.

“Todos os hiperactivos têm PHDA!”
Não! Todas as crianças precisam de se mexer para conhecer e explorar o mundo. A agitação motora faz parte do desenvolvimento. Existem crianças que são mais mexidas do que outras mas isso não implica a presença duma perturbação. Para que tenham uma PHDA as dificuldades devem afectar o seu desenvolvimento pessoal, escolar e social e deve ter impacto significativo nos diferentes contextos de vida.

“Tem PHDA porque os pais não sabem educar!”
Não! Quando uma criança com PHDA não cumpre o que lhe é pedido ou faz birras, não é porque os pais não imponham regras e limites. Isto acontece porque uma criança com PHDA não consegue antecipar as consequências do seu comportamento. O problema advém de dificuldades na autorregulação do comportamento e não da falta de disciplina em casa.

“Só aparece em rapazes”
Não! As raparigas têm tanta probabilidade de ter uma PHDA quanto os rapazes. A diferença está na manifestação dos sintomas. Normalmente os rapazes são mais agitados que as raparigas e como tal, os sintomas de agitação motora, aquando duma PHDA, são mais marcados e evidentes. Por seu turno, as raparigas apresentam mais sintomas de desatenção, sintomas que passam mais facilmente despercebidos porque “não perturbam a aula”.

“Isto passa com a idade!”
Não! A PHDA é uma perturbação crónica que evolui ao longo da vida. Cerca de 30% a 50% dos casos permanece até à idade adulta e quando não dignosticado atempadamente pode evoluir para outro tipo de dificuldades. Há uma tendência para os sintomas de agitação motora diminuirem mas as dificuldades de autorregulação, controlo da atenção e impulsividade persistirem ou intensificarem-se.

“Fica horas a jogar playstation, não tem PHDA?”
Não! Muitas crianças e jovens com PHDA ficam muito tempo a jogar consola ou computador porque é mais fácil estar atento a actividades em que o estímulo está em constante mudança e em que há constante reforço das nossas acções (vidas, pontos…). Crianças com PHDA têm mais dificuldade, como qualquer outro inidvíduo, em manter a atenção em tarefas monótonas e menos motivantes.

“Consegue ouvir, perceber tudo o que se passa à sua volta, não tem PHDA”Não! Crianças com PHDA estão atentos a tudo mas não se concentram em nada! “Até a mosca vêem passar”, mas não conseguem seleccionar o estímulo mais importante (focar a atenção) para conseguir realizar a tarefa que têm em mãos.

“Ao darmos apoio na escola a crianças com PHDA ou estamos a ser injustos com os restantes alunos”
Não! Quem tem uma PHDA tem um défice ao nível das competências para estar atento, ou seja, não tem a estrutura necessária para conseguir estar concentrado nas tarefas. Ao fazermos adaptações em sala de aula estamos a dar ferramentas para ultrapassar estas dificuldades. Não estamos a retirar os obstáculos do percurso mas sim a dar estratégias para os ultrapassar. Mais ainda, estas estratégias podem facilmente ser implementadas com todos os alunos e assim estimular a aprendizagem de todos.

Psicóloga Clínica, CADIn (phda@cadin.net)