Dicionário dos Alimentos

B de Beterraba

Baixa a pressão arterial e sobe a resistência.

Olhando para uma tabela de composição de alimentos, a beterraba parece-nos um hortícola como tantos outros: baixo valor calórico, razoável quantidade de fibra e um vasto leque de vitaminas e minerais, sem nenhum que sobressaia propriamente dos demais (podemos abrir eventualmente uma excepção para o ácido fólico). Nem mesmo a sua pungente cor tem o equivalente em carotenos (uma vez que esta lhe é atribuída pela betanina), nem tão pouco se traduz num extraordinário potencial antioxidante em comparação com outros legumes.

Assim, a beterraba é um belo exemplo de que por vezes, mais do que olhar para o que uma tabela de composição de alimentos tem, é necessário olhar para o que ela não tem. É que aquilo que torna a beterraba especial não é nenhuma vitamina nem mineral. É sim um ião e chama-se nitrato (não confundir com nitrito ou nitrato orgânico, esses sim com riscos para a saúde). 

A investigação acerca do papel dos nitratos alimentares na nossa saúde é ainda uma criança, mas bastante promissora diga-se. Também o seu metabolismo é digno de uma história infantil começando esta viagem na nossa cavidade oral onde os nitratos da beterraba são transformados em nitritos pelas bactérias nela existentes e já na corrente sanguínea se dá a passagem a óxido nítrico, sendo este o composto responsável pela vasodilatação e relaxamento vascular que justificam o seu papel benéfico na diminuição da pressão arterial. Logicamente que este efeito é moderado, mas possui a vantagem de ser observado poucas horas depois da ingestão de beterraba.

Uma outra vantagem é que, quando se fala de hipertensão, todos temos ideia do que não devemos comer, mas já não sabemos muito bem o que de facto podemos comer para a contrariar! A este nível a beterraba, para além da sua riqueza em nitratos, é também uma boa fonte de potássio, o “bom da fita” nesta relação nem sempre pacífica com o sódio / sal. 

Já no âmbito desportivo, o sumo de beterraba tem merecido amplo destaque pela sua capacidade de redução do consumo de oxigénio durante o exercício aumentando assim a tolerância ao mesmo (sobretudo quando em altitudes elevadas). De resto, quer em exercícios de endurance quer em intermitentes de alta intensidade, foram já observadas melhorias na performance, algo que faz do sumo de beterraba o alimento/suplemento ergogénico da “moda”. 

Em suma, apesar do seu sabor não ser para todos os gostos, a beterraba renasceu das cinzas com as recentes notícias, podendo (e devendo) ser uma lufada de ar fresco e de cor na monotonia ainda presente em muitos pratos e saladas.

 

Assistente Convidado da Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto
pedrocarvalho@fcna.up.pt