Dicionário dos Alimentos
M de Mate
O mate pode ainda não nos dizer muito mas é quase a bebida nacional de países como Paraguai, Argentina e Uruguai. Para estes, o mate não é apenas uma bebida mas sim um ritual que começa na sua meticulosa preparação e termina na forma como é ingerido: idealmente em grupo e com a partilha da “bombilla”, o recipiente utilizado para criar esta infusão.
Por cá, o mate tem chegado aos poucos; não tanto numa tentativa de alargar os nossos horizontes culturais ao nível da alimentação, mas sim (e mais uma vez) pelos relatos do seu efeito na perda de peso devido aos seus teores de cafeína e alguns polifenóis.
Começando por este assunto que é sempre o mais apetecível, o que há a dizer (e que não é novidade para ninguém, certamente) é que não existem dados suficientes para se afirmar que o mate tem um papel benéfico na perda de peso. Apenas um ensaio clínico foi feito em humanos e com uma mistura de mate que incluía guaraná, chá preto e chá verde em cápsulas, não em infusão. Ainda assim, do ponto de vista nutricional e químico, o mate é quase uma mistura entre o chá preto e o verde - ainda que lhe falte o polifenol que neste último tem sido mais associado à perda de peso, capacidade antioxidante e prevenção de alguns tipos de cancro (a epigalocatequina galato).
E é relativamente ao cancro que os dados disponíveis em relação ao mate são mais interessantes. Se, por um lado, existem na sua composição polifenóis que o colocariam na rota da prevenção da formação e desenvolvimento tumoral, por outro, a sua inevitável contaminação com hidrocarbonetos aromáticos policíclicos durante o seu processamento tem exactamente o efeito oposto. Efeito este que é exacerbado se concomitantemente existirem hábitos tabágicos que aumentem ainda mais a nossa exposição a estes compostos cancerígenos, sendo a associação entre estes dois hábitos muitas vezes frequente e até cultural nos países de origem do mate.
Também a alta temperatura a que o mate é ingerido poderá ter um papel na maior prevalência de cancro do trato digestivo superior (ainda que apenas verificado com ingestões acima de 1 litro/dia).
Concluindo, para o melhor e para o pior, os estudos sobre o mate não são muito conclusivos. Tendo em conta as notícias mais favoráveis relativas ao seu análogo chá verde, o mate será sempre uma boa experiência, mas dificilmente será um bom hábito.
*Assistente Convidado da Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto
pedrocarvalho@fcna.up.pt