Dicionário dos Alimentos
C de Cavalo
Questões culturais à parte, o único risco que corre em comer carne de cavalo é… ingerir um produto mais saudável!
A carne de cavalo está na ordem do dia e, claramente, não pelas melhores razões. Aliás, tendo em conta a nossa cultura e a relação terna do povo português com os cavalos, a junção na mesma frase das palavras “carne” e “cavalo” dificilmente teria um resultado positivo. Ainda assim, propomos o exercício de esquecermos a nossa ligação afectiva aos equinos e focarmo-nos única e exclusivamente na sua carne do ponto de vista nutricional.
O hábito de comer carne de cavalo, não sendo comum, não é de todo uma prática nova no nosso país, tendo o seu consumo vindo a aumentar assim como o número de abates visando a exportação desta carne. E, fazendo uma rápida pesquisa, percebe-se facilmente que existem cada vez mais talhos que a vendem, várias receitas para a confeccionar disponíveis e, mesmo a nossa Tabela da Composição de Alimentos fez a análise nutricional desta carne (facto que, de resto, permite a elaboração deste artigo).
Há ainda quem não se esqueça da clássica recomendação (em algumas zonas do país) da carne de cavalo para combater anemias, algo que se compreende pelo facto de a sua quantidade de ferro e vitamina B12 superar em larga escala as mais comuns carnes de porco, vaca e frango. Aliada a este facto, a sua escassa quantidade de gordura e colesterol tornam a carne de cavalo muito mais próxima das carnes de aves do que das carnes de mamíferos, tornando-a assim na “carne vermelha” nutricionalmente mais equilibrada.
Contextualizando estes factos com as recentes notícias, logicamente que a inclusão de carne de cavalo em produtos pré-processados não os tornará muito mais equilibrados devido ao alto teor de gordura e sal que lhes é característico e continuará sempre a ser uma situação imperdoável (mais como fraude económica do que como problema de saúde pública).
Como tal, se conseguir olhar para o cavalo como olha para a vaca, porco, cabrito, borrego e demais mamíferos que sempre nos foram apresentados como “comestíveis”, pode ter a certeza de que o único risco que corre ao ingeri-lo é o de levar para casa uma carne mais saudável e substancialmente mais barata.
*Assistente Convidado da Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto
pedrocarvalho@fcna.up.pt