Dicionário dos Alimentos
A de Açaí
Quem já visitou o Brasil ou tem brasileiros no seu grupo de amigos, já ouviu certamente falar do famoso açaí. Olhando para a baga em si, quase poderíamos confundir o açaí com o mirtilo, no entanto o açaí apenas nos chega noutros formatos muito diferentes da sua versão mais pura. Mas antes de lá chegarmos, concentremo-nos na sua composição nutricional.
O açaí, do ponto de vista nutricional, não foge muito de outras bagas mais conhecidas entre nós como as amoras, framboesas, arandos e seu “gémeo falso”, o mirtilo. Falso, porque o açaí possui uma quantidade substancial de gordura (entre 3% a 6%, predominantemente ácido oleico, o mesmo do azeite) que as outras bagas não têm. No entanto, quer em açúcares, quer nas restantes vitaminas e fibra o panorama é semelhante. E continua a ser semelhante no que diz respeito ao potencial antioxidante.
É perfeitamente normal que uma baga que não nos é muito familiar ganhe a fama de ser ainda mais antioxidante do que as nossas amoras, framboesas e mirtilos. Mas, na realidade, não o é - o que não invalida o facto de ser mais uma alternativa a ter em conta numa alimentação equilibrada. O equilíbrio aqui é palavra de ordem até pela forma de consumo do açaí.
Ao contrário das outras bagas, o açaí não é por norma consumido ao natural, mas sim em sumos, batidos ou, na sua forma mais tradicional, na tigela! Aqui, à polpa de açaí congelada com guaraná (como chega ao nosso país), podem ser adicionadas várias coisas desde outras frutas – com morango e banana em destaque - a iogurte, mel e a tradicional granola (um muesli “à brasileira”). Daí que tenha de ser encarado mais como uma sobremesa (saudável e cheia de coisas boas no panorama vitamínico e mineral) do que como fruta “em natureza” e, como tal, deve ser ingerida ocasionalmente e não com uma base diária.
Quanto aos seus efeitos na saúde, para além do expectável papel positivo na capacidade antioxidante do plasma (maior com a ingestão de polpa de açaí do que com o seu sumo), apenas um estudo demonstrou (se é que que se pode utilizar este termo num estudo feito sem grupo de controlo e com uma ingestão de umas dificilmente atingíveis 200g diárias de açaí) mudanças positivas nos níveis de colesterol de pessoas com excesso de peso.
Respondendo então às questões básicas sobre o açaí: Tem um potencial antioxidante acima do da maioria dos frutos? Sim. Tem um potencial antioxidante acima do da maioria das bagas (mirtilos, framboesas, amoras, etc.)? Não. Precisamos diariamente desta overdose de antioxidantes na nossa alimentação? Não! As espécies reactivas de oxigénio, vulgo radicais livres, também são necessárias em pequena quantidade e não devem ser totalmente eliminadas do nosso organismo.
Assim, encare o açaí como uma nova experiência gastronómica ou como um teletransporte instantâneo para o Brasil e não como um tratamento anti-aging ou de perda de peso.
*Assistente Convidado da Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto
pedrocarvalho@fcna.up.pt