Dicionário dos Alimentos

G de Goji

Entramos em 2013 com o último grito no que diz respeito a “super alimentos”: as bagas Goji.

Estas bagas têm feito as delícias das “medicinas alternativas” e temos de reconhecer que têm todos os condimentos necessários para resultarem. Um nome e aspecto excêntricos, uma história bonita (são consideradas um dos elixires da juventude dos anciães chineses e tibetanos) e efeitos na saúde para dar e (sobretudo) vender! 

Uma das principais dificuldades na análise destas bagas passa por encontrar a sua composição nutricional. Apesar dos seus polissacarídeos, carotenóides e outros fitoquímicos estarem bem identificados e quantificados, temos de nos socorrer do rótulo do produto para descobrir como se agrupam os macronutrientes. E este rótulo presenteia-nos frequentemente com uma alegação nutricional sobre o “alto teor em fibra” destas bagas que se resume a 2% da sua composição (por lei deveria ter no mínimo 6%). Ainda no mesmo rótulo, os 57% de açúcar que possuem não merecem nenhum tipo de alegação, mas fazendo o devido enquadramento, é algo que não foge muito à composição nutricional de outros frutos secos como ameixas, damascos, figos ou passas. 

Relativamente aos seus efeitos na saúde, até ver, apenas boas notícias mereceram publicação científica. Retirando os estudos que utilizaram os extractos destas bagas em concentrações “impossíveis” de atingir na alimentação humana, sobram ainda algumas referências positivas ao seu papel benéfico no aumento do metabolismo basal, diminuição do perímetro da cintura e em sensações subjectivas como diminuição do stress e fraqueza, melhoria da qualidade do sono, performance cognitiva e concentração.

Outro dos grandes poderes sempre associados às bagas Goji passa pela sua capacidade antioxidante, algo que não deixando de ser verdade, se assemelha muito a outras bagas como as amoras e os mirtilos. Como tal, os seus efeitos positivos em patologias associadas ao envelhecimento, como aterosclerose, hipertensão e diabetes, não são de estranhar. Uma vez que os radicais livres que este grande manancial de antioxidantes inibe são necessários ao organismo, recomenda-se contenção na ingestão destas bagas (até 10g por dia), como aliás a isso o seu preço obriga. Devido a alguns relatos de interacção de alguns compostos destas bagas com anticoagulantes orais como a varfarina, não é de todo sugerida a sua ingestão concomitantemente com estes fármacos.

Concluindo, as bagas Goji apresentam de facto efeitos promissores a vários níveis na saúde, de modo que vale a pena experimentá-las, mas sem grandes esperanças de que sejam o novo Messias alimentar no que diz respeito ao emagrecimento e à juventude eterna.

 

*Assistente Convidado da Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto
pedrocarvalho@fcna.up.pt