Dicionário dos Alimentos
P de Polvo
Portugal é um país de polvo. Não porque o consuma muito mas por fazer dele alimento, algo não muito comum por esse mundo fora, sendo que à boa maneira portuguesa logo se arranjaram várias formas de o confeccionar, desde o arroz aos filetes e também guisado ou no forno.
Se o polvo é hoje um petisco que não sai muito em conta, tempos houve em que foi o sustento de muitas famílias nos Açores, onde este cefalópode se alimentava dos moluscos e mariscos que aproveitavam o remanescente do esquartejamento das baleias nos cais.
O polvo entra na esfera das injustiças alimentares quando a sua apreciação se inicia sob o prisma dos razoáveis teores de colesterol que possui ou pelos níveis residuais de metais pesados que acumula - e que, comprovadamente, não atingem valores passíveis de causar preocupação. Esta injúria ganha ainda maior forma quando se constata que o polvo é provavelmente das fontes proteicas com maior densidade nutricional da nossa alimentação, com especial relevância para as excelentes quantidades de ferro, zinco, cobre e selénio que possui. Aliás, o polvo pode mesmo ser considerado um alimento “custom made” no que à prevenção de doenças cardiovasculares diz respeito, pois, para além de ser uma autêntica overdose de vitamina B12, tem igualmente níveis fantásticos de vitamina B6 e, não sendo um pescado gordo, possui valores muito interessantes de ómega 3.
Tudo isto equivale a dizer que, na altura de pesar todo este potencial nutricional e a quantidade de colesterol que possui, a nossa saúde sai claramente beneficiada do seu consumo, quer na diminuição dos níveis de homocisteína - e, por inerência, do risco cardiovascular -, quer na diminuição dos níveis de triglicerídeos e pressão arterial.
Logicamente que o seu modo de consumo requer especial atenção até porque alguns dos pratos típicos que encabeça, como os filetes fritos ou à lagareiro (quando se abusa do azeite), são por natureza desequilibrados. Assim, um bom critério no que ao consumo de polvo diz respeito passa sempre pela sua confecção acompanhada por outros “superalimentos”, como o azeite (em moderação), cebola, alho, tomate, vinho ou cerveja.
Em suma, o polvo, também na nossa alimentação vai de encontro à sua alegoria e consegue exercer variadíssimas influências, mas na nossa saúde.
*Assistente Convidado da Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto
pedrocarvalho@fcna.up.pt