Dicionário dos Alimentos
F de Funcho
Das sementes ao bolbo passando pelas folhas, no funcho tudo se aproveita. Não há ninguém que consiga ficar indiferente à sua emblemática fragrância que não raras vezes o faz ser confundido com o anis.
De facto, o funcho é daqueles casos em que não se associa o nome ao alimento pois, para além de ser utilizado de várias formas, sempre que sentimos o seu aroma temos a tendência para o designar erradamente de “erva-doce”. Se existissem dúvidas sobre a sua importância na nossa cultura, basta recordar que foi a sua elevadíssima concentração em terras madeirenses que baptizou o Funchal, sendo igualmente um dos aromas mais distintivos das alimentações mediterrânicas.
Na realidade, mais do que um alimento que se come, o funcho é um alimento que se cheira, de tal modo que em Inglaterra era consumido pelas classes mais baixas por lhes fazer lembrar o peixe - uma vez que os mais abastados comiam o funcho com o peixe. Este mesmo potencial aromático do funcho faz dele um fantástico alimento com vista à redução dos níveis de pressão arterial, quanto mais não seja por dispensar a utilização de uma quantidade abusiva de sal. Esta prevenção indirecta é igualmente efectuada pelo papel positivo do funcho na redução dos níveis de colesterol e pela sua grande capacidade antioxidante, fruto do seu riquíssimo teor de flavonóides.
Mas os benefícios do funcho não se ficam por aqui e, se é verdade que o seu aroma inconfundível nos proporciona vantagens sensoriais, é também verdade que os compostos que originam esse aroma não se limitam a perfumar a refeição. Anetol de seu nome, este composto aromático goza de uma vasta reputação terapêutica dentro da medicina alternativa sendo “cura” para quase tudo desde anemia, indigestão, flatulência, obstipação, problemas respiratórios, disfunções menstruais e “por aí fora”. Obter comprovação científica para tudo isto é uma tarefa “hercúlea”, no entanto se todas estas potencialidades terapêuticas forem o móbil para o aumento do seu consumo, nada a opor! De uma coisa temos a certeza, o funcho é uma excelente fonte de fibra e vitamina C no que toca ao seu bolbo e folhas, sendo estes nutrimentos acompanhados de cálcio e ferro quando falamos do consumo das suas sementes.
O funcho deu nome ao Funchal, mas é na Sopa de Funcho dos Açores que tem uma das suas aplicações gastronómicas mais conhecidas. O facto de ser um melhor amigo sensorial do peixe do que da carne torna novamente o funcho numa erva aromática a reter, sem nunca esquecer a sua incorporação no pão. Assim, desde sopa, pão, prato, sobremesa e até chá, o funcho é o que quisermos fazer dele - e a nossa saúde agradece!
*Assistente Convidado da Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto
pedrocarvalho@fcna.up.pt