Não é só na comparação com os salgadinhos supracitados que as amêijoas se tornam interessantíssimas. A sua composição nutricional é intrinsecamente merecedora de grande relevo, pois para além de baixo valor calórico e lipídico (contendo ainda assim quantidades generosas de ácidos gordos ómega 3) as amêijoas – atendendo até à forma como são consumidas – são autênticos shots de ferro e vitamina B12. Não desprezando todo o restante cardápio nutricional, de onde se destaca a vitamina A, zinco, selénio e cálcio, é nos dois primeiros micronutrimentos que reside o maior foco de interesse deste bivalve, que se torna assim num autêntico cocktail “anti anémico”.

As amêijoas, à semelhança de outros alimentos que vêm do mar e não são peixes, carregam sempre o fardo do seu elevado teor de colesterol e consequente alerta para os “perigos” do seu consumo. Pois bem, para além da sua quantidade de colesterol não ser muito elevada (cerca de 45mg por porção), é justamente no seu potencial de redução do colesterol que se tem centrado grande parte da investigação recente relativa à amêijoa. Sendo estes efeitos ainda apenas demonstrados em animais e com extracto de amêijoa, não existem para já razões para demasiado optimismo nem para uma crença generalizada de que as “amêijoas diminuem o colesterol”. Certo é que este não será mais um pretexto para a diminuição do seu consumo. Neste contexto, a preocupação relativamente à sua ingestão passa apenas pela eventualidade (cada vez mais remota, segundo os últimos estudos realizados em Portugal) de acumular níveis elevados de chumbo e outros metais devido à coexistência destas espécies com actividades geradoras de poluição nas águas que habitam.

O modo como são consumidas traduz fielmente a dicotomia sempre presente na nossa tradição gastronómica. Tanto podem ser fantásticas em homenagem ao escritor e amante de gastronomia, Bulhão Pato, onde se fazem acompanhar de outros “super alimentos”, como o alho, azeite e coentros, como ser totalmente inferiorizadas na companhia de batatas e carnes de porco gordas que nada justificam o seu epíteto “à alentejana”. 

Assim, usufrua deste “mini-luxo” sem preocupações, mas cuidado com as companhias…

*Assistente Convidado da Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto
pedrocarvalho@fcna.up.pt