É difícil encontrar um ritual tão universal como a abertura de uma garrafa de champanhe aos primeiros segundos do eclodir de um novo ano. Champanhe ou mais frequentemente espumante, uma vez que se torna hábito apelidar os vinhos espumantes (também produzidos no nosso país em zonas como Lamego, Bairrada ou Azeitão) dessa pequena região vinícola de França. Esta região de Champagne sobreviveu às invasões e destruições sucessivas das suas planícies, resultantes da 1ª Guerra Mundial, para se tornar a bebida de luxo que é hoje. Apesar do champanhe como hoje o conhecemos, existir apenas há cerca de 150 anos, a sua marca indelével de celebração está associada ao facto de ter sido palco e bebida oficial da coroação pelo Papa de todos os reis franceses, na Catedral Notre-Dame de Reims. A explosão da rolha que é sinónimo de alegria, festa e celebração tem também um forte cariz nacional, uma vez que 90% das rolhas utilizadas nas garrafas de champanhe são portuguesas!

Quando se faz a apologia de um consumo moderado de bebidas alcoólicas (1 bebida/dia para as mulheres; 2 bebidas/dia para os homens) numa perspectiva de redução do risco de doença cardiovascular e manutenção da função cognitiva, há que ter a preocupação de escolher bebidas que anexam ao álcool outros compostos interessantes. Neste contexto, cumprindo este intervalo muito ténue entre consumo moderado e consumo excessivo de álcool, faz mais sentido "aproveitarmos" o resveratrol do vinho tinto e o xanto-humol da cerveja em vez de arcar com os açúcares de licores, vinhos generosos ou espumantes doces. É então uma "mais-valia" do ponto de vista nutricional não associar o consumo de champanhe ou espumante à ingestão de açúcares e como tal preferir as versões "bruto" ou "seco" à variação "doce".

Em suma, não banalize o consumo do champanhe/espumante e disfrute das suas propriedades únicas em situações que o mereçam... se possível em bruto!

Um brinde a um excelente 2012 com todos os leitores!

*Professor Assistente Convidado da Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto
pedrocarvalho@fcna.up.pt