São Tomé e Príncipe, “leve-leve” e o prodígio da selva equatorial
Mais uma vez em África a sorver rara beleza, mais uma vez encantada com a força da natureza.
Neste arquipélago, gostei especialmente do esplendor da floresta, que considero uma bênção que nos refresca o corpo e revigora a alma. Ver os abundantes e variados frutos suspensos nas árvores, caminhar por entre os coqueiros, palmeiras, bananeiras, embondeiros e tantas outras espécies do mundo arbóreo e vegetal, é, sem dúvida, uma experiência única.
A orla marítima é outra atracção, pois, ao espreitar-se, por entre a vegetação, as enseadas rochosas banhadas pelo mar e adornadas com coqueiros reflectidos na água azul-turquesa, dir-se-ia que se vislumbra o paraíso.
No ilhéu das Rolas, subimos, por entre densa vegetação, o morro que nos leva ao marco do Equador, aqui fixado há cerca de 100 anos por Gago Coutinho. Encontrar-me no topo do mundo, no traçado onde os hemisférios norte e sul se encontram a zero graus, foi tão emotivo como ter chegado a Machu Picchu no Peru, que concretizou um dos meus grandes sonhos.
Tanto em São Tomé como no Príncipe, visitámos algumas roças onde se cultiva e produz o cacau e também o café. Não imaginava a grandeza de algumas delas: casas fabulosas, algumas de arquitectura colonial, hospitais, casas dos trabalhadores, fábricas, armazéns, etc. Apesar de uma considerável parte se encontrar degradada, dá para ver a sua magnitude e imaginar como, em tempos idos, seria intenso o labor daquelas roças.
Entre elas, há uma muito especial, a Roça São João. E quem não se lembra de ver na RTP o chef João Carlos Silva a cozinhar “Na Roça com os Tachos”? Tivemos o privilégio da sua presença, simpática e acolhedora, durante o nosso almoço no seu restaurante/museu, de aspecto rústico mas com requinte, a funcionar num velho edifício restaurado.
Bastante me emocionou conhecer a Roça da Saudade, casa-museu onde nasceu Almada Negreiros, talvez por muito admirar a sua arte plástica e a sua poesia. Sob o alpendre, onde almoçámos, espraia-se uma extensa vista deslumbrante para a floresta equatorial.
Também a nossa visita à fábrica de chocolate de Claudio Corallo, considerado, por muitos especialistas, o melhor do mundo, foi bastante interessante. Aí ficámos a saber de todos os trâmites do cacau até chegar aos diversos e saborosos chocolates. Saímos satisfeitos com a simpatia da apresentadora e os conhecimentos adquiridos.
Durante as nossas deslocações por caminhos de terra batida, cor do barro, fui observando como vivem os são-tomenses e houve situações que me remeteram aos nossos anos 1950. Uma delas foi ver galináceos, patos, cabritos e porcos vagueando pelas ruas e quintais à procura de alimentos. Outra foi a lavagem de roupa nas ribeiras e depois a secar sobre pedras, que os meus olhos viram como tela colorida em enorme dimensão.
Gostei muito de muita coisa, uma delas foi o acolhimento e simpatia dos são-tomenses, a boa comida e os excelentes resorts, outra o falarmos a mesma língua, que me fez sentir em casa, mas inegável foi também a tristeza que senti de ver um património fabuloso, tão degradado, no seio do paraíso.