A bordo de um comboio indiano
Aproximo-me das portas que vão constantemente abertas, aproveitando para desfrutar da paisagem e tirar algumas fotos. O comboio abranda a marcha conforme nos aproximamos da estação. Está uma humidade elevadíssima e sinto a roupa a colar ao corpo...
Não consegui bilhetes em classe com ar condicionado, temos de viajar 12h até Goa, com uma temperatura insuportável, num comboio apinhado e com barras em vez de janelas. A juntar a isto, as imensas paragens que o comboio vai fazendo impedem-no de ganhar velocidade, fazendo com que não entre ponta de ar fresco pelas janelas escancaradas.
Mas as longas horas de viagem são tudo menos entediantes. Quando falta a animação, há comida, um bom livro e, muito mais importante, uma abastada dose de paciência.
Hoje, e parece que todos os dias, está montado um autêntico espectáculo de variedades a bordo do comboio. Há palhaços e malabaristas, miúdos franzinos com pinturas na cara que, a troco de umas rupias, se contorcem enfiando os corpos em arcos de metal. Há comida, muita comida. Há pepinos descascados e bolachas, água fresca e chaí, brinquedos e, já perto de Goa, vendedores de terços.
Faz tábua rasa de tudo o que conheces, porque num comboio indiano tudo pode acontecer...
Os vendedores que nos esperam nas plataformas, de tabuleiro aos ombros, preparam as suas iguarias. A pouco e pouco, os pregões e os cheiros percorrem as carruagens. Entram e saem estação após estação.
Passam o dia rodopiando com os tabuleiros à cabeça e os cestos nas mãos. Nós, ocidentais branquelas com ar ofegante, vamos comendo de tudo... Os indianos ao nosso lado fazem o mesmo. Contudo, são mais experimentados, conhecem as estações e os sítios onde se comem as melhores iguarias.
Entramos no estado de Maharashtra e a paisagem muda radicalmente. Torna-se luxuriante de um verde garrido e húmido.
India também é isto e Goa é já ali!
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