Levare
Pai e filho trocaram Niterói pelo Porto e regressaram a Portugal para criar a Levare, uma marca de cerveja artesanal produzida na cervejeira com o mesmo nome. São 800 metros quadrados escondidos na Praça da Batalha.
Não dá para adivinhar que por detrás de um portão de madeira pintado de azul forte, na Praça da Batalha, se esconde uma cervejaria com 800 metros quadrados. O letreiro ainda não está colocado na fachada do prédio, voltado para a lateral da imponente Igreja de Santo Ildefonso, mas o portão colorido pode servir de referência, por agora. Um túnel de pedra conduz até ao pátio interior, que lembra um bairro antigo, e à entrada da Levare: a confortável esplanada e o jardim vertical são o cartão de visita da casa de Adriano e Edgar Dias, pai e filho que se juntaram para apostar no mercado da cerveja artesanal.
A cervejaria é também cervejeira e as quatro cubas gigantes que pairam por cima do balcão de serviço não deixam dúvidas: aqui bebe-se a cerveja feita pela casa e é possível assistir a todo o processo de produção, liderado por Edgar Dias. O mestre cervejeiro de 35 anos quer ver a fábrica a produzir seis mil litros da bebida por mês, durante o horário de abertura do espaço. Para isso instalou a fábrica entre o balcão e a cozinha, separada por paredes de vidro, e é aí que se dedica à criação de quatro tipos de cerveja artesanal (e mais um sazonal).
Este negócio familiar com alicerces no Porto nasceu em Niterói, no Brasil. Adriano e Edgar viveram 26 anos naquele país sul-americano e a pronúncia denuncia-os. Foi lá que pai e filho decidiram mudar do ramo das artes gráficas para a restauração e regressar a Portugal para abrir um brew pub com dois pisos e capacidade para sentar 230 pessoas, em ambientes diferentes. Edgar começou a fazer cerveja em casa há três anos, de forma bem amadora, para consumo próprio e para oferecer a amigos. O interesse pela alquimia desta bebida cresceu, seguiram-se cursos e muitas experiências até se tornar num mestre cervejeiro responsável pela marca Levare.
Das cubas maturadoras de inox saem quatro receitas (a partir de 1,70€/copo): Lager, WitBier, Brown Porter e American IPA. Têm teores alcoólicos diferentes (a mais forte destas quatro é a IPA, com 6,2%) e à combinação água, malte e levedura foram acrescentados outros componentes aromáticos. A Lager, de estilo alemão, “é leve e sem muitos aromas”, define Edgar. “É a tal cerveja sem graça de que os mestres cervejeiros falam”, brinca, boa para quem quer aprender a gostar da bebida. A “cerveja de Verão” é a WitBier: “levezinha” (5% de teor alcoólico), tem especiarias e toques de coentros e laranja, com 30% de trigo. A vantagem de fábrica e bar coexistirem no mesmo espaço é que Edgar pode ir trabalhando as receitas à medida que recebe as opiniões dos clientes. É o caso da Brown Porter, uma stout com “aromas torrados de café” e ao “estilo inglês” que está, ainda, em processo de criação. A “mais amarga” é a American IPA, feita com “lúpulos americanos” e “muito aromática”. Nenhuma é pasteurizada e os sabores vão crescendo nas cubas.
A opção sazonal do momento é a Belgium Tripels, do barril para o copo. Com 8,6%, é aquilo que Edgar chama de “cerveja para apreciadores”. “Muito adocicada e muito alcoólica”, combina bem com pratos mais pesados — é aqui que entra a cozinha do Levare, dividida entre refeições mais completas e tradicionais e opções de snacks. A francesinha (9€) não podia faltar, assim como o prego do lombo em pão (7,50€) e o hambúrguer (7,90€) de novilho recheado com queijo Gruyére e cebola crocante. Há ainda misto de marisco (40€), bife do lombo com arroz de cerveja preta e molho Levare (17,50€), só para citar duas das dezenas de alternativas que a carta apresenta.
Quem quiser pode perguntar pela versão engarrafada da cerveja (a partir de 3€), com rótulos desenhados pela dupla pai e filho. Há versões ilustradas com a Torre dos Clérigos, a Ponte Luiz I ou a Casa da Música. Mas na Levare bebe-se apenas cerveja artesanal da casa, de pressão — e nem vale a pena perguntar por outras marcas.