Os óculos da Fora são feitos cá dentro
A marca de óculos de sol Fora nasceu em 2013 e, no último ano, toda a sua produção foi feita numa fábrica portuguesa no norte do país. O Life&Style visitou a linha de montagem.
Os óculos de sol da Fora Sunglasses, a marca de Miguel Barral, Miguel Alves e Jorge Duarte, têm acetato italiano e lentes alemãs mas a produção é totalmente portuguesa – com três anos, a marca conseguiu passar todo o seu processo de produção para uma fábrica no Norte do país, e segue os métodos artesanais antigos. “As pessoas valorizam cada vez mais o que é feito em Portugal e as marcas mais pequenas e não estabelecidas. Isto foi uma aposta, não é um sector conhecido em Portugal, nunca foi. Tal como nunca houve uma marca de referência em Portugal. Nós estamos a produzir 100% em Portugal e queremos ser essa marca”, diz ao Life&Style o fundador Miguel Barral.
A aventura no mundo dos óculos de sol começou em 2010, conta Barral durante uma viagem a caminho da fábrica que actualmente produz os óculos Fora. Foi nesse ano que, por mero acaso, encontrou uma série de óculos de sol vintage dos anos 1970, 1980 e 1990 e criou, com um amigo, a marca Stockglasses.
Durante três anos tentaram encontrar mais óculos e modelos deste estilo mas a procura tornou-se difícil – com o conhecimento de mercado ganho com a marca, resolveram criar uma de design próprio. “Vendíamos directamente ao cliente e isso fez com que começássemos a perceber o mercado e o que as pessoas queriam”, explica. Várias viagens a Itália depois, para perceber como iniciar o processo de produção, surgiu a Fora.
Os primeiros cinco modelos desenhados, inspirados nos óculos vintage que mais vendiam na Stockglasses, foram produzidos numa fábrica no norte de Itália, onde estão sediadas as maiores fábricas de óculos de sol. “Isto foi tudo em 2013”, recorda, e o objectivo foi sempre ir passando, aos poucos, a produção para Portugal. “Cá é muito mais handmade do que em Itália. Lá é tudo mais automatizado. Mas é normal, é uma indústria muito maior e tem de ter capacidade de produção”, diz, reconhecendo que a produção completa numa fábrica portuguesa deixa a marca “um bocadinho dependente” mas confere “uma identidade brutal”.
É sob a supervisão do senhor José Maria que nascem os pares de óculos da Fora Sunglasses. As paredes são despidas, há lascas de acetato no chão e as máquinas têm ferrugem visível. Há cerca de uma dezena de artesãos, antes havia muitos mais. “Mas funciona tudo muito bem. Isto é tudo uma categoria”, garante José Maria, orgulhoso e frisando sempre que “o que é nacional é que é bom”.
Começa tudo com os desenhos de Miguel Barral e do director criativo Miguel Alves – de modelos “clássicos e intemporais mas diferentes”, descreve o fundador. Já na fábrica, o processo inicia-se com uma placa de acetato grande, imaculada, explica o mestre José Maria, há 48 anos a trabalhar nesta fábrica, a única ainda activa em Portugal e que tem também a seu cargo a produção de óculos de dez marcas estrangeiras.
O resultado final de uns óculos Fora pode demorar até três meses e passa por uma série de máquinas: desde o pantógrafo, copiadora, modelagem por meio de fresagem, a colocação das charneiras aos tambores de polimento… Em todos os passos há mãos experientes. “A fresagem à mão é muito importante para não magoar o nariz. Fica menos áspero e assenta melhor”, explica José Maria, frisando que estes acabamentos manuais só são feitos em fábricas pequenas como esta. “Os estrangeiros não estão cá com pormenores.”
A marca tem agora onze modelos de óculos, cinco dos quais são bestsellers, e um preço médio de 118 euros por modelo – e embora o foco seja sempre os óculos de sol, todas as armações servem também para lentes com graduação. “O que vamos tentar fazer agora é manter esses cinco modelos mais clássicos e intemporais e começar a fazer outros mais diferenciadores. Conseguimos isso através da combinação de acetatos, por exemplo”, diz Miguel Barral, enumerando a conjugação das cores diferenciadoras ou as lentes planas e semi-planas como algumas das próximas novidades.
Na sala dos tambores de polimento da fábrica, onde os moldes passam 48 horas para ficarem macios, os responsáveis da marca desvendam que um dos dois novos modelos da Fora tem menos tempo de tambor. O que significa que é menos arredondado e “mais cru. Tem mais massa. Dá-lhe graça.”
“Não estamos a tentar acompanhar as tendências de moda, claro que têm importância, mas a ideia é tentar sempre ser intemporal. E ao mesmo tempo ter estas colaborações ou parcerias que nos ligam um bocadinho mais à moda”, diz Miguel Barral, lembrando a colaboração com o criador Luís Carvalho, que criou o modelo oversize Dry e o apresentou na ModaLisboa, gerando buzz em torno da marca.
Para este ano está nos planos uma nova loja e o início da “exportação à séria”, com idas a feiras internacionais. “Quando começarmos a exportar queremos ir como marca sólida para que tenha um crescimento sustentável lá fora. Daí, também, o nome Fora”, diz o fundador.
Neste momento, a Fora continua com um expositor no espaço EntreTanto, no Príncipe Real, e uma loja própria na Avenida Alvares Cabral, que abriu em Junho de 2016 e o crescimento está a ser rápido: “Desde que lançámos a marca, em 2014, temos vindo a crescer 100% todos os anos.”