Pedro Cunha/Arquivo

O que comer depois dos excessos da noite passada?

Duas nutricionistas explicam quais os melhores alimentos a ingerir quando acordamos de uma noite de excessos.

Ovos. Cozidos, mexidos ou escalfados, cozinhados com o mínimo de gordura. Depois de ingerir uma boa quantidade de água para hidratar ao organismo, este é um dos primeiros alimentos a comer após uma noite de excessos alimentares, regada com álcool. “O mais importante é diminuir a quantidade de alimentos industrializados. Limpar o nosso corpo, dar-lhe alimentos naturais, sem químicos ou adoçantes”, explica a nutricionista clínica Catarina Lopes.

O período festivo de Dezembro está recheado de pratos mais salgados, muitos doces, vinhos ou espumantes – o Washington Post analisou as principais diferenças entre uma refeição num dia normal e outra numa destas festas e estima que, nesta última, ingerimos a mesma quantidade de calorias que devíamos comer durante um dia inteiro. E se numa primeira instância existe prazer ao deliciar-se com uma certa iguaria, o sentimento de culpa surge depois, associado também a um inchaço abdominal e ao sentimento de má-disposição. É difícil falar em truques milagrosos mas há opções e produtos a privilegiar: caso dos ovos (uma boa opção para o pequeno-almoço), legumes, fruta, frisa Catarina, reforçando que é essencial evitar “tudo o que seja pão, bolachas, leites com chocolate ou mesmo leite com café e açúcar”.

“Quer já se tenha um estilo de vida saudável ou não, no dia seguinte [aos excessos] não se deve deixar de comer. É isso que acontece muitas vezes. Mas não é isso que é aconselhado. Devem beber muita água, hidratar-se muito, e não saltar refeições”, aconselha Catarina Lopes numa conversa por telefone com o Life&Style.

Para o almoço (e jantar) pós-passagem de ano, a nutricionista (que também costuma dar dicas aos seus seguidores via Snapchat) aconselharia “tirar os maus hidratos, de absorção imediata, e escolher arroz, batata-doce, quinoa com muitos legumes, de preferência cozidos a vapor para não perderem propriedades e terem todo o poder antioxidante”. A acompanhar, “peixe, carne ou ovos, dependendo se a pessoa é vegetariana, ou um tofu biológico. Terá de ser uma proteína que diminua também o índice glicémico dos hidratos que vamos consumir”. Em resumo: “refeições basicamente completas, com todos os grupos mas grupos de qualidade. Não colocaria uma massa, por exemplo”.

Outra boa opção para beber ao longo do dia são os sumos com frutas e legumes. A nutricionista Lillian Barros, autora dos livros Sopas, Saladas e Chás Detox (editado pela Manuscrito, em 2015) e Sumos e Águas Detox (Esfera dos Livros, 2014), recomenda para o dia 1 de Janeiro, o início de um “plano compensatório”, rico em antioxidantes e em vitaminas e minerais.

“Iniciar o dia com um bom copo de água morna com gotas de limão” é uma boa opção, uma vez que “ajuda a alcalinizar o meio interno na digestão e no funcionamento intestinal”, diz. Lillian aconselha também, para o início do dia, a preparação de uma infusão de ervas e especiarias, por exemplo de cavalinha, gengibre e canela – a canela ajuda a estabilizar os picos de glicémia e, portanto, “é um bom elemento que nos ajuda a reverter o ciclo do açúcar”; a cavalinha é um bom drenante e o gengibre ajuda a estimular a produção energética.

Neste pós-passagem de ano, a nutricionista apostaria “em dois, três dias de uma dieta mais rigorosa onde o ex-libris poderia passar pela produção ou preparação de sumos verdes, de frutas, vegetais e sementes para beber ao pequeno-almoço como complemento e em substituição dos lanches do meio da manhã e do meio da tarde. “Um litro e meio deste sumo detox ao longo do dia dá energia e ajuda o nosso organismo a voltar a encontrar o equilíbrio”, explica.

Para refeições principais, aconselha sopas ricas em fibra – “onde adicionaria eventualmente um bocadinho de farelo, de aveia ou sementes tostadas para conseguirmos que a sopa seja mais saciante”, complementada com “uma proteína limpa, com baixo teor em gordura ou com um perfil lipídico adequado”, caso dos ovos mexidos, escalfados e saladas ricas em vegetais verdes escuros e frutas. “Vamos sentirmo-nos claramente melhores. Depois nos restantes dias do ano temos de seguir com a alimentação saudável, claro, mas este pode ser apenas o arranque”, diz, garantindo que esta não se trata de uma “dieta restritiva” mas sim de um plano com o objectivo de regularizar.

Catarina Lopes frisa também a importância de se exercitar ao invés de ficar todo o dia no sofá – “não precisa de correr mas fazer uma caminhada de pelo menos uma hora” – e aconselha que se tente regularizar o sono, dormindo sete a oito horas por dia nos dias seguintes. “O facto de termos o sono regularizado, não estarmos cansados, faz com que nos sintamos melhor e por isso não temos necessidade de consumir alimentos tão calóricos”, realça.

As duas nutricionistas lembram a importância de evitar comer os restos do jantar da noite anterior: podem antes ser oferecidos a instituições de solidariedade, distribuídos pela família ou congelados para momentos mais pontuais.

Apesar dos excessos alimentares, um novo ano é altura para novas resoluções e novos hábitos – perder peso, fazer uma dieta ou começar a correr são alguns dos objectivos mais desejados. A nutricionista Catarina Lopes relembra, porém, que é “impossível” fazer tudo de uma vez e garante que uma das maneiras de não desistir das resoluções de ano novo é ir introduzindo os tais novos hábitos “aos poucos”. E exemplifica: “Uma pessoa que não bebe água, começa por beber água. Uma pessoa que não come fruta, vai começar a introduzir a fruta. Pegar em certas coisas que a pessoa não faz e fazer com que comece a ter esses hábitos saudáveis.”