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E se a gula deixasse de ser pecado?
Maria de Oliveira Dias criou o blogue The Love Food, que, em 2014, virou empresa e agora pode levar-lhe a casa comida 100% biológica que faz com que “a gula deixe de ser pecado”.
A vida de Maria de Oliveira Dias é uma estrada com muitas curvas e percursos distintos. Do teatro – a profissão abandonada – ao mundo da cozinha vegana. Ao longo dos anos alimentou, literalmente, a paixão pela culinária que a guiou à criação do blogue The Love Food e da empresa com o mesmo nome.
O teatro, que começou por ser uma grande paixão, conduziu-a de Viseu – onde nasceu – para Paris, onde se formou na Cours Florent. Voou até Nova Iorque para o Actor’s Studio, depois disso. A par da representação o amor pela comida e por um estilo de vida saudável continuava dentro de Maria de Oliveira Dias.
Aos 12 anos quis ser “gente grande” e tornar-se vegetariana. A mãe e a avó “torceram o nariz”, diz-nos, mas nada a demoveu da ideia. ”Na altura, não havia informação sobre o vegetarianismo. E eu era péssima para comer porque não gostava de ver o peixe inteiro no prato nem carne com veias”, afirma em conversa com o Life&Style.
A infelicidade e o cansaço de dez anos no mundo da representação serviram de base para a mudança radical que a levou a abandonar a carreira de actriz. Depois, já adepta do veganismo, mudou-se para uma quinta e, logo após, apercebeu-se do potencial que a terra tinha para lhe dar.
“Sempre tive o desejo de partilha e tinha que falar sobre o veganismo e sobre as opções saudáveis e biológicas que existem”, conta Maria de Oliveira Dias. O blogue The Love Food nasceu em 2010, onde Maria partilhava receitas veganas, porque na altura não havia nada que a satisfizesse nesse sentido.
Quatro anos depois, a empresa com o mesmo nome do blogue nasce da vontade e da procura de muitos participantes nos eventos, que Maria organizava, pela comida que era servida nos mesmos. “Comecei a ver que se calhar tinha potencial e que podia abrir encomendas, então arrisquei”, explica.
A The Love Food é a primeira empresa portuguesa que, além da fábrica de produção, tem um serviço de domicílio de comida 100% vegetal e biológica – desde os doces aos salgados. As entregas podem chegar-lhe a casa se for de Lisboa, Cascais ou Sintra, sendo que as encomendas são feitas através do site da empresa. Uma barra de cereais ou até um brunch estão à distância de um clique.
Na Rua do Gravato, no Restelo, é onde toda a magia acontece. É lá que os produtos da empresa são confeccionados para depois serem levados para a mesa dos portugueses. Até há cerca de dois meses a The Love Food não fazia entregas ao domicílio, apenas mantinha os produtos para revenda.
Maria de Oliveira Dias explica que o público dos produtos que vende é mais jovem, entre os 18 e os 40 anos. “É engraçado que tenho um punhado de gente mais velha a ligar-me todos os dias a pedir, mas não conseguimos chegar até eles porque não têm computador”, conta ao Life&Style.
A The Love Food está presente em 20 pontos de venda, mas Maria afirma que todos os dias recebe propostas para alargar essa rede de retalho dos seus produtos. O produto mais vendido é o bolo de chocolate que tem chegado à boca de muitos portugueses.
Os alimentos vêm de quintas certificadamente biológicas portuguesas, sobretudo do Oeste. Os produtos são confeccionados fazendo uso do azeite, de farinhas produzidas pela equipa especializada da empresa e, mais recentemente, foram lançados alguns sem glúten e sem açúcar.
A empresa que se assume “fanática pelo sabor” apresenta-se sob o lema “A gula deixou ser pecado”, algo que Maria de Oliveira Dias se orgulha em dizer. “A gula é associada a coisas muito pecaminosas e gordurosas, mas com os produtos da The Love Food podemos comer à vontade. Temos doces e salgados que não fazem mal”, acrescentou.
Antes de ter entregas ao domicílio, a empresa dedicava-se apenas aos workshops, onde existem vários temas para discussão; ao serviço de catering; e à consultoria, uma formação a outras empresas ou a particulares sobre o veganismo.
Para além de tudo o que Maria de Oliveira Dias construiu até aqui, ser coleccionadora de livros é mais uma adição que a empresária gosta de referir. Contudo, confessa que nessa vasta colecção, que começou a recolher desde muito nova, os livros de culinária ganham em largo número a todos os outros. A fundadora da The Love Food quer fazer um acrescento a essa colecção: o seu próprio livro.
“Tenho livros que guardo desde sempre e quero que o meu seja assim”, explica. Quando criou o blogue foi convidada por algumas editoras a transformá-lo em livro, porém Maria de Oliveira Dias pensou que seria prematuro fazê-lo na altura. “Hoje tenho tantas mais coisas e conhecimentos. Quero que o meu livro seja daqueles que as pessoas compram para a vida, tipo bíblia”, afirma a empresária.
Enquanto o livro não sai do forno, a dedicação à empresa continua a ser o seu foco principal. A meta está em converter as pessoas. Para si é importante conquistar os consumidores pelo sabor, para que estes percebam as vantagens de comer bem e que a comida biológica e vegetal é a opção mais saudável. “Quando se muda não se volta atrás”, conclui.
Texto editado por Hugo Torres