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O gato das botas

Um livro de aventuras para todas as semanas do ano e para todos os anos da vida que se pode levar para toda a parte e ler de uma só assentada

Não se pode dar uma ideia do livro porque ele está cheio de ideias diferentes, todas elas fascinantes e fáceis.

Acontece muito raramente, mas há livros para crianças que é preciso comprar duas vezes. Compra-se a primeira vez para dar a uma criança mas, dando uma vista de olhos para ver se é adequado à idade e aos interesses dela, fica-se tão preso ao livro que não se descansa até lê-lo de capa a capa.

Como queremos ficar com esse livro temos de comprar outro exemplar para dar à criança. É o caso do livro Um Ano Inteiro da admirável editora Planeta Tangerina. Tudo no livro é atraente, sólido, divertido, estimulante e bonito. 

Isabel Minhós Martins escreve muito bem, sempre a desafiar-nos e a ensinar-nos coisas de uma maneira cúmplice e excitante. Aprendemos coisas importantes sem darmos por isso. É como se as tivéssemos descoberto sozinhas: é a sensação mais difícil de criar num leitor. Mas Isabel Minhós Martins consegue, mais uma espantosa vez.

O livro é ilustrado maravilhosamente por Bernardo Carvalho mas isso não chega. Eles são dois dos fundadores da editora e pensaram o livro na totalidade. Lê-se a ficha técnica e pasma-se com o cuidado que tiveram. 

A revisão científica geral do livro é de Maria Ana Peixe Dias e de Inês Teixeira do Rosário. Juntamente com Isabel Minhós Martins, fizeram a selecção de conteúdos.

A revisão científica de Astronomia é feita por Rui Agostinho, Suzana Ferreira e Ismael Tereno (do Observatório Astronómico de Lisboa) e por Sónia Anton. Na Geologia, a revisão foi feita por Teresa Melo e na Meteorologia por Teresa Leal Rosa.

Para além de pintar as ilustrações, Bernardo Carvalho colaborou com Yara Kono no projecto gráfico, que também é, escusado será dizer, exímio. As fotografias são dele ou da autora. Finalmente, a revisão de texto, impecável, foi feita por Carlos Grifo Babo.

Só depois de me deliciar a ler e ver o livro é que fui ler a ficha técnica para ver a quem devia aquele grande prazer. São muitas pessoas a trabalhar muito bem umas com as outras.

O livro apresenta-se como uma agenda para explorar a natureza mas é muito mais do que isso. Embora cada semana do ano proponha uma aventura concreta com quadros para preencher e dicas de observação e de registo, é preciso dizer que o livro lê-se muitíssimo bem sem fazer nada do que propõe. Esta é uma das grandes qualidades que leva um adulto sedentário a querer ficar com ele.

Tal como já aconteceu com outros livros da Planeta Tangerina, fiquei a saber imensas coisas que desconhecia completamente. Mas nunca me senti envergonhado ou, pior ainda, sujeito a qualquer pedagogia. Não é um livro para estudar: não se consegue estudar porque apanha-nos logo na aventura de descobrirmos não tanto o que nos rodeia mas tudo em que estamos mergulhados.

Para a quinta e última semana de Abril, por exemplo, o desafio é “Pode ser que tenhas sorte...e vejas um arco-íris”. Explica-nos com claríssima brevidade como se forma um arco-íris e dá-nos dicas para vermos um arco-íris neste mês de “Abril com as suas “águas mil” e o sol da Primavera já a espreitar”.

Depois diz-nos: “Quando vires um arco-íris repara como a tua posição em relação ao Sol é sempre a mesma; estás de costas para o Sol com a chuva ou as nuvens à tua frente, ou seja, estás entre os dois, ali mesmo no meio...”

É isso que este livro maravilhoso faz: coloca-nos no meio do mundo, do tempo, da vida, dos campos, dos animais, das plantas.

Parece-me que é o entusiasmo com que o livro foi escrito que se transmite, sem perda de força, ao leitor. Aposto que até os vários revisores científicos se deixaram empolgar, lendo as partes do livro que outros reviram.

Não se pode dar uma ideia do livro porque ele está cheio de ideias diferentes, todas elas fascinantes e fáceis. O tom nunca é condescendente nem pregador nem irritantemente mobilizador. Aqui nada há de haut en bas: nem sequer a própria natureza é apresentada como estando armada ao pingarelho.

Que alívio! Que prazer! Obrigado mais uma vez, pessoal da editora Planeta Tangerina!