Salão
Antony Millard, um hairstylist com uma pitada de rock’n’roll
Antony Millard começou a trabalhar num salão em Londres quando ser cabeleireiro não era "adequado".
Ser cabeleireiro “não é um trabalho fácil. Não podes chegar aqui e dizer que queres aprender a cortar cabelos. Não é assim. Primeiro aprende-se a limpar o chão”, diz Antony Millard, hairstylist do salão de cabeleireiro Facto, em Lisboa, enquanto a sua equipa está reunida num workshop a aprender novas técnicas e a conhecer novos produtos. Cabelos louros compridos, tatuagens nos braços, correntes ao pescoço e anéis com caveiras nos dedos, chapéu na cabeça – este é o look habitual de Antony, um britânico há quase duas décadas em Portugal, e é assim que nos recebe, lamentando ter de baixar a música, uma das suas maiores inspirações, sempre alta e de acordo com o estado de espírito do dia, para a entrevista.
Antony Millard foi gerente dos salões Westrow e director criativo da Toni&Guy, em Londres; e foi convidado do programa da BBC Clothes Show. Abriu o Facto em 1999, na altura num antigo talho da Rua da Rosa, no Bairro Alto – agora é um salão amplo com muitos espelhos em redor que recebe a luz natural da Rua do Norte, na mesma zona da cidade. É embaixador da marca Wella Professionals em Portugal e o cabeleireiro oficial da MTV. Mas nem sempre esteve ligado ao mundo dos cabelos.
Aos 17 anos, em Londres, foi trabalhar com o pai num escritório mas só “aguentou” dez meses. “Era aborrecido e não era o que queria fazer para o resto da vida”, diz, recordando que os seus penteados e roupas extravagantes começaram a ser “proibidos” no escritório. Depois de a irmã lhe pedir para acertar uma franja mal cortada, ponderou a ideia de trabalhar como cabeleireiro, apesar de não ser considerado um trabalho “adequado” e havia muito preconceito.
“Encontrei um salão cool em Londres, tinham sempre como banda sonora os grupos de que gosto. Comecei a trabalhar lá pelo ambiente e não pela profissão em si, na altura não estava assim tão interessado”, confessa. Começaram a treiná-lo e a paixão cresceu. “Não foi sorte ou coincidência, era uma coisa que estava dentro de mim. Graças a Deus!", diz o hairstylist, cuja referência na área é o cabeleireiro britânico Vidal Sassoon (1928-2012), que “revolucionou o corte bob, criou movimento e formas geométricas nos cabeleiros das mulheres”.
Antony Millard estabeleceu-se em Portugal há 17 anos, depois de ter vindo de férias e se ter “apaixonado pela luz” de Lisboa. Mas quando começou a cortar cabelos na cidade apercebeu-se que eram precisas mudanças e que havia um atraso considerável em relação à capital britânica. “Não foi fácil porque a maioria das pessoas estava habituada a cortar o cabelo em salões tradicionais”, explica.
Enquanto cabeleireiro, classifica o seu estilo como “acessível, prático, confortável, agradável, na moda e temperado com um bocadinho de rock’n’roll”. Acredita no estilo pessoal de cada pessoa, gosta de dar confiança, beleza, outra atitude aos clientes. Não é um “trabalho fácil”, frisa várias vezes, “é muito competitivo e é preciso continuar a aprender para evoluir e não ficarmos para trás”.
Cortar e pentear cabelos é uma arte? “É. Porque estamos a criar algo e a expressar-nos. Se o cliente vai para uma festa, criamos um penteado elaborado que depois, ao final do dia, pode ‘despir’. Mas no dia-a-dia, quando um cliente entra, queremos facilitar o seu dia-a-dia. As pessoas vêm aqui para se sentirem melhor. É a nossa função”, atesta.