Calçado
Nos sapatos Undandy até os atacadores podem ser personalizados
Nova marca portuguesa produz sapatos feitos à medida. “O poder está do lado consumidor.”
Gonçalo Henriques e Rafic Daud, amigos de infância e, agora, sócios, estão de volta do computador e dos smartphones. É a partir destes aparelhos que se acede à plataforma de customização de sapatos da Undandy, uma marca de calçado em pele, com produção no norte de Portugal, criada para “passar o poder para o lado do consumidor e dar-lhe a hipótese de ser ele próprio e desenhar o seu próprio produto”.
É difícil um homem ir a uma loja de rua ou a um centro comercial e encontrar os sapatos que procura, explicam. “As mulheres têm uma variedade de calçado muito vasta enquanto os sapatos masculinos são praticamente os mesmos há uns 300 anos. Com pequenas reinvenções mas sem variar muito o estilo ou forma”, diz Rafic. “Às vezes há o modelo certo mas não é na pele certa ou numa cor específica que ficava bem com aquele fato”, corrobora Gonçalo, que teve a ideia de negócio depois de uma ida às compras falhada. A única maneira de encontrar “os” sapatos, era recorrer a marcas de calçado feitos à medida – existem “mas com preços exorbitantes e com um tempo de entrega de seis a oito semanas”, continua.
Primeiro, para satisfazer a curiosidade e perceber como funcionaria realmente um serviço deste género, Gonçalo e Rafic encomendaram um par mas “demorou tanto tempo” que se esqueceram da encomenda. Entretanto, surgiu a Undandy. De nome inglês mas produção portuguesa, a marca tem na sua génese o culto do eu, tal como tinha o movimento dandy quando nasceu, no século XVIII, em Inglaterra – o un, que nega o dandy, prende-se com as conotações mais superficiais que foram sendo associadas a este movimento.
O desafio foi, então, criar um produto de luxo baseado em quatros pilares: intemporal, qualidade estética indiscutível, exclusivo e com a melhor qualidade de materiais. “Mas um preço mais baixo, democratizando o acesso a um sapato customizado, specially made for you”, diz Rafic.
Em termos práticos, isto significa que um consumidor, esteja em que parte do mundo estiver, pode fazer um sapato à sua medida – pode escolher a forma, modelo, tipo de pele, cor, pespontos, atacadores e até pôr uma inscrição na sola do sapato. O manifesto é só um: Be yourself (sê tu próprio, em português).
Como comprar online
As vendas online somam cada vez mais adeptos, especialmente pela rapidez e variedade de itens à disposição, à distância de um clique. Ainda há quem receie comprar online e não dispense o toque físico. “Nós temos dois problemas. Temos de ensinar as pessoas a comprar online e temos de ensiná-las a desenhar o seu sapato na plataforma”, reconhece Gonçalo. Para diminuir a desconfiança acerca do “grande bicho do online”, a Undandy oferece as devoluções do produto – se o sapato não servir, a empresa vai buscá-lo a casa do cliente e permite a escolha de um novo tamanho ou nova personalização.
Mas é “um processo de aprendizagem” em curso e 30% do calçado mundial é já vendido online. “Comprar online é o mesmo que comprar por catálogo e as vendas por catálogo fazem-se há muitos anos”, compara o responsável, adiantando que estão a trabalhar com uma empresa portuguesa que vai lançar uma aplicação para as pessoas poderem medir os seus pés e conseguirem vê-lo no sapato Undandy, e que planeiam enviar catálogos de produto para casa dos interessados.
“Os millennials, que hoje ainda não têm dinheiro, vão entrar no mercado de trabalho mais tarde ou mais cedo, ganhar poder de compra, e vão comprar. Mas estão a crescer ligados a um aparelho digital e a um processo de compra e consulta diferente”, complementa Rafic, e, por isso, é preciso “quebrar estas barreiras da Internet”.
Tanto Gonçalo como Rafic reconhecem, no entanto, que tocar para perceber que o produto é bom “e diferente de tantos outros sapatos” é importante. Por isso, em breve terão “pontos de contacto”. “Não são lojas normais, com uma colecção ou stock. Vamos criar um sítio onde o consumidor possa sentir, tocar na pele, experimentar o sapato e, depois, fazer todo o processo de personalização do seu sapato ou neste ponto ou em casa”, esclarece Rafic. Estes pontos de contacto ainda não têm local fixo mas, numa primeira instância, não serão em Portugal. “Vão ser em locais de passagem onde o nosso cliente esteja”, avança Rafic, aludindo à possibilidade de se instalarem em aeroportos.
Sapatos para homem mas também para mulher
O ADN da marca é o calçado masculino e quando criaram a plataforma existiam apenas formas de sapatos para homem mas entretanto foram “obrigados por amigas” a introduzir uma forma feminina – chama-se 31, em homenagem ao ano em que as mulheres votaram pela primeira vez em Portugal (1931). A 31 (também masculina), a 15 e a 48 são as formas de sapatos disponíveis (220 euros) e existe também uma forma de ténis (145 euros). A partir destas, há mais de 156 mil milhões de combinações.
E há quatro tipos de pele: a normal (cabedal), suede (camurça), brilhante (patent leather) e a patina (uma pele crua pintada à mão, mais cara, 280 euros). Cada zona do sapato pode ter um tipo de pele diferente, se quiser. “Dá para fazer tudo. Sapato castanho em camurça, preto, com três cores, só com pesponto em verde porque é do Sporting. As combinações são infindáveis”, reforça Gonçalo, a utilizar uns dos ténis da marca.
Se surgirem dúvidas durante o processo de personalização – que demora cerca de quatro a cinco minutos – há um chat disponível bem como um número de call center que guia o cliente durante a sua criação. No fim, o sapato ganha o nome da pessoa que o personalizou (por exemplo, 31 by Life&Style). “É o pináculo da customização”, diz Rafic.
Objectivos
A Undandy foi lançada em Maio, em período de soft launch, altura em que venderam sapatos para países como a Rússia, Dubai ou Nigéria. Para uma nova empresa, têm “taxas de compra muito elevadas” e, “surpreendentemente”, Portugal é dos países onde mais vendem. “O facto de a marca ser portuguesa e incentivar o orgulho nacional está a ajudar muito. Extra esse efeito, o Reino Unido é, de longe, o nosso melhor mercado”, indica Rafic.
A aposta na língua inglesa para o site ajuda e, em breve, também vão ter disponível em alemão. “Em termos de e-commerce, a Inglaterra e a Alemanha são dois mercados gigantes. Cada um deles é maior que a Europa toda” e daí a aposta.
A médio prazo, a marca – que tem já uma colaboração especial com Nuno Gama à venda nas lojas do criador de moda e, em breve, online (também disponíveis para personalizar) – equaciona extensões a outras categorias de produto, mantendo os sapatos como núcleo da empresa e aplicando sempre o processo de customização.