Dia da mãe
Fazemos tudo pelos filhos, até assistir a um directo de Nuno Markl
Os filhos também fazem muito pelas mães. Até as levam a mudar de opinião.
O programa 5 para a Meia-Noite iniciava nova temporada e o rapaz queria assistir ao regresso de Nuno Markl como apresentador no talk-show. Sabia da embirração da mãe com o humorista e queria provar-lhe que ele era divertido e nada “poucochinho” e “autocentrado”, como ela o definia. “Como é que podes concluir isso se só ouviste O Homem Que Mordeu o Cão uma ou duas vezes?” Tinha razão, em parte.
Lembrava-se de não ter podido deixar de o ouvir mais algumas vezes porque o rapaz levava o iPod e uma pequena coluna para o banho e ali escutava programas antigos com o som bem alto. “Lá estás tu a tomar banho com o Nuno Markl”, dizia-lhe. E riam-se os dois.
Houve uma história engraçada do humorista sobre o uso de uns binóculos à noite e outra sobre a dificuldade de transportar uma mesa no carro para a casa nova. “Mas é quase sempre à volta do que lhe acontece, percebes? Isso cansa-me”, dizia a mãe, mas concedia que ele atraía alguns azares e tinha pontaria para situações insólitas, o que até era divertido. Uma espécie de maldição Nuno Markl.
Para a convencer a assistir ao directo, aliciou-a com a presença dos Azeitonas, sabendo que assim ela não daria o tempo por perdido. Conhecia-a bem. “Trata lá disso, então. Eu vou contigo.” Se a conhecesse melhor, saberia que nunca daria por perdido o tempo passado com ele.
A ida obrigava a alguma logística, entre conciliar horários e geografias num dia de semana normal. No caminho até Paço d’Arcos (onde fica o estúdio), foi a mãe informada de que Nuno Markl escrevia textos para Os Contemporâneos, que viam juntos e de que tinham saudades. “Lembras-te do Chato, ‘vai mas é trabalhar, ó’?” Claro que se lembrava, adorava a personagem e o actor. “Foi ele que a inventou.” Duvidou: “Tens a certeza?”
A mãe só achava graça ao Nuno Markl na Mixórdia de Temáticas, porque era sempre crédulo dos disparates do protagonista: Ricardo Araújo Pereira. Segundo a mãe, este fazia “humor mais inteligente, não apenas sobre a sua vidinha e com mais níveis de leitura”. E adorava piadas à volta das frases feitas, das palavras mal aplicadas, dos lugares-comuns estafados. “Mesmo quando a rábula não é à volta disso, ele brinca sempre com tiques e erros de linguagem. Gosto disso.”
Filho: “Mas sabes que o Markl apareceu primeiro que ele e até acho que foi ele que o descobriu…” Mãe: “Duvido, mas hei-de investigar.”
Chegaram ao estúdio e chovia. “Maldição de Nuno Markl. Ontem esteve um dia lindo.” Como convidado, lá estava Marco Horácio, bem-disposto, a contar com simplicidade o seu percurso e a prometer o regresso de Rouxinol Faduncho. Divertida foi a paródia que se seguiu com água esguichada pela boca ao escutar-se anúncios de rádio impensáveis. Houve tempo para a divulgação do projecto Labirinto Lisboa, com uma morta-viva a assustar a audiência no estúdio. E, claro, os prometidos Azeitonas.
Foi quando Nuno Markl desenhou ao vivo durante a canção Desenhos animados que a mãe se rendeu ao anfitrião do programa. E admirou ainda a forma como pacientemente conversou e se deixou fotografar com os espectadores no final do directo.
Os filhos também fazem muito pelas mães. Até as levam a mudar de opinião.
Depois de um serão divertido, regresso a casa. Mais chuva e, por erro de percurso, mais de 20 quilómetros escusados. A maldição de Nuno Markl continua.