Constança Ferreira escreveu "Os bebés também querem dormir", editora Matéria-Prima, onde “traça um mapa de entendimento entre pais e bebés”.
Avassaladora parece ser a palavra que melhor define o que é ser mãe, seja de primeira ou segunda viagem. O medo de falhar é assustador perante aquela que passou a ser a maior responsabilidade da vida de uma mulher. Mas o ser mãe não tem que ser motivo de angústia e nervosismo constante. Na maioria das vezes, as respostas para o que parece não ter solução podem estar mesmo à nossa frente. “Ouvir” o bebé e aprender com cada dia que passa é o início de um caminho para uma relação equilibrada e saudável entre mãe e filho. “Aquilo que vai ajudar é tempo, confiança e calma para aprendermos a ser pais”.
Durante três anos, Constança Cordeiro Ferreira investigou as necessidades e
capacidades dos bebés desde o dia em que nascem. Terapeuta de bebés no Centro do Bebé, em Lisboa, e conselheira de aleitamento materno da Organização Mundial de Saúde, Constança Cordeiro Ferreira trabalha com as famílias a melhor forma de compreenderem os seus bebés e de superarem dificuldades de amamentação, choro inconsolável, cólicas e noites mal dormidas. Com base na sua experiência profissional e de mãe de duas crianças, escreveu Os bebés também querem dormir (editora Matéria-Prima), um livro que “traça um mapa de entendimento entre pais e bebés”, como explica a autora o Life&Style. O livro é lançado este sábado, em Lisboa.
Quando se lê o livro de Constança Ferreira é bom saber que não existem treinos milagrosos, nem métodos ultra-avançados para acalmar os bebés e ensiná-los a dormir. “O grande segredo está em perceber o que o bebé nos está a dizer!”, começa por desvendar a terapeuta de bebés.
Os conselhos dos avós, irmãos, amigos, vizinhos são bem-vindos, mas na maioria das vezes não são estes que ajudam a lidar com esta nova fase da vida, onde o medo de falhar assume proporções que até aqui nunca tinha assumido e isso pode ter tanto de produtivo como de contra-producente. Se o bebé precisa de protecção e ajuda, os pais também precisam. Os pais ficam numa situação de “abismo entre aquilo que pensávamos que ia ser, que íamos ser, e aquilo que de repente é a realidade”. “E é nesse momento que a mãe – e o pai – precisam de ser protegidos. Precisam de um ambiente amoroso, capacitante, empoderador que os faça descobrirem que têm exactamente aquilo que é preciso para cuidarem daquele bebé”, indica Constança Ferreira.
A especialista acrescenta que, “principalmente as mães, precisam ser maternadas e apoiadas para que possam elas mesmas maternar os seus bebés. A solução não passa por nos ocuparmos do bebé, mas sim da mãe. Porque a mãe é à partida, a melhor pessoa possível para cuidar daquele bebé – não nós”.
As experiências pessoais que quem rodeia os recém pais podem não ser as mais indicadas para o seu bebé. “A maternidade e a paternidade são feitas de caminhos individuais porque, até ao momento de nascimento, aquele bebé e aquela mãe e aquele pai simplesmente não existiam. Então aquilo que vai ajudar é tempo, confiança e calma para aprendermos a ser pais”, propõe. Mais: “Se reduzirmos o ruído em volta, vai ser mais fácil escutar a nossa voz. E o nosso bebé. Ele dir-nos-á o que precisa”.
E nesta fase, a mãe deve acreditar no seu instinto? A autora afirma que todas as mulheres têm o instinto, “mas às vezes ele está ali caladinho, por baixo de milhares de vozes que não são as nossas”. “Nas situações em que estamos sozinhas ou perdidas, o instinto é a ferramenta mais importante. O instinto desempata as decisões difíceis e com a continuidade vamos aprendendo a confiar nele”.
Colo é bom e recomenda-se
Em Os bebés também querem dormir, Constança Ferreira ajuda os pais a lidarem com os problemas mais comuns que surgem com o nascimento do bebé. A dificuldade em dormir ou as cólicas estão entre as principais preocupações dos pais quando pedem ajuda à terapeuta.
Outras das dúvidas é o colo. É bom, é mau, “estraga o bebé”? A autora é peremptória. “O colo é tão simplesmente a solução mais económica, intuitiva e natural de acalmar o bebé. É assim há milhões de anos. Nos primatas com quem partilhamos uma biologia muito semelhante, os bebés trepam pelas mães acima e agarram-se a elas. Nós deixámos de ter pêlos no corpo, portanto o bebé não pode agarrar-se enquanto a mãe está em movimento, tem de ser carregado. E reclama os nossos braços porque não consegue manter-se lá sozinho. Nos primeiros tempos de vida, o colo é uma prolongação natural da barriga da mãe, preenche a expectativa de continuidade com que o bebé nasce”.
Constança Ferreira sublinha que a defesa da restrição do colo está mais presente no mundo ocidental, incluindo Portugal. “Convenceram-nos de que o choro é de alguma forma necessário para ensinar algo ao bebé. Não é verdade. O choro não atendido eleva os níveis de cortisol (hormona do stress) e faz com que o bebé fique muito longe desse estado de regulação fisiológica que o ajudará a dormir melhor, a estar mais bem disposto e até a estar mais preparado para, fisiologicamente, caminhar na direcção da autonomia, no tempo certo”.
A terapeuta alerta, no entanto, que se a mãe considerar o dar colo ao seu bebé uma prisão, então isso poderá ser sinal de que precisa de “mais apoio, de um par de braços extra, de alguém que a ajude”. “Precisará de dormir, de comer, de ser cuidada. Precisamos ver se as necessidades da mãe estão atendidas, para que ela se sinta bem. É necessário esse equilíbrio. É fundamental dar colo às mães e aos pais”, defende.
Sem interesse nas ideologias da parentalidade e defensora do respeito pelas necessidades dos bebés e dos pais, Constança Ferreira nunca procurou teorias para ajudar mães e pais. Adepta do “favorecimento das hormonas de bem-estar, de relaxamento, de segurança”, rejeita a “luta” ou o “treino” para conseguir que um bebé durma ou deixe de chorar. “A minha experiência diz-me que consigo ajudar pais e bebés a dormirem, descansarem e entenderem-se melhor exactamente pelo caminho oposto. Na minha prática não há choro progressivo ou controlado, o meu objectivo é sempre eliminar totalmente o choro do momento de dormir, encontrar os interruptores de relaxamento que estimulam o bem-estar, dotar os bebés e os pais de segurança e paz para entrarem na noite sem medo nem ansiedade”, diz ao Life&Style.
Bebés e horários não combinam
No seu livro, e quando fala nas formas de diminuir ou eliminar a ansiedade entre mãe e filho, a terapeuta questiona a imposição de rotinas, de horários, de agendas rígidas. “Quando estamos a olhar para o relógio não estamos a olhar para o nosso bebé. E os sinais mais importantes estão ali… no bebé”, começa por realçar. “Tentar seguir um horário rígido quando a vida acabou de mudar pode dar-nos uma ilusão de controlo, mas gera muitas vezes sensações de estarmos a falhar quando não o conseguimos. É difícil encaixar o bebé num esquema horário… o bebé não conhece o relógio. Na barriga da mãe havia ritmo, não relógios. A previsibilidade, os rituais, o encadeamento doce dos dias isso sim dá segurança aos pais e bebés”. Constança Ferreira diz que no trabalho que tem feito com as famílias que procuram a sua ajuda “a adequação dos tempos em função do que o bebé está a transmitir tem muito melhores resultados”.
Não há mães perfeitas, nem bebés perfeitos mas é possível chegar a um meio caminho que se transforme numa relação de equilíbrio e saúde para ambos. Aos pais, e principalmente às mães, que criaram expectativas da mãe que viriam a ser no futuro, a autora faz uma espécie de chamada à realidade para que a mulher saiba que tem de desbloquear e ultrapassar a ideia que tinha da mãe que queria ser. “Quando temos o nosso bebé finalmente em braços é preciso despedirmo-nos, sem pena, da mãe que idealizámos. Porque essa mãe e esse bebé, que nunca existiram senão na nossa cabeça, podem estar a impedir-nos de viver a vida real com alegria”.
“O meu conselho, ainda na gravidez, é que a par da preparação ‘logística’, nos preparemos para a revolução emocional do pós-parto, praticarmos, ouvirmos a nossa voz interna é importante. Conversar muito com o marido ou companheiro, falarem sobre os anseios, as expectativas. Combinarem ser solidários. E prepararmos um círculo de apoio no pós-parto, não ter medo de pedir ajuda às mães, avós, irmãs, primas”, aconselha às futuras e mães recentes.
Às mães que acham que não vão conseguir acertar agulhas e estar em sintonia com o filho nos primeiros meses de vida, a terapeuta volta a recomendar que as mulheres tenham confiança em si próprias, que “reduzam o ruído” à sua volta e “oiçam o coração”. “Parece uma frase estafada mas: confiem em vós próprias. Confiem no vosso bebé. Entendam-se com ele em liberdade. Ele quer-vos bem. Para ele vocês já são as melhores mães do mundo… ele não quereria nenhuma outra. É preciso mais validação que esta?”
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