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O gato das botas

Uma cura temporária e verdadeiramente divina para os maluquinhos do papel japonês Tomoe River: os cadernos da R L Allan

Sempre fui maluco por canetas e lápis e cadernos e papel.

O mundo das canetas e dos cadernos tem um lado de ebulição permanente (há sempre novidades e aperfeiçoamentos) e outro de permanência tradicional, onde as boas velhas marcas ainda são as melhores.

É no Japão que têm aparecido as maiores novidades em canetas, papel e cadernos. Há uma revolução nos preços (cada vez mais baratos) e na qualidade (cada vez maior).

Actualmente o papel que está na moda — até por ser impossível de encontrar na Europa — é o da Tomoe River. Trata-se de um papel muito fininho e macio que absorve miraculosamente a tinta permanente, sem borrar ou passar para o outro lado. A Net está cheia de elogios. Um dos mais lúcidos está no site canadiano Wonder Pens, onde um caderno A5 de 64 páginas custa 10 dólares canadianos.

site mais recomendado pelos maluquinhos do papel japonês é a jetpens.com. Vendem 100 folhas A4 de Tomoe River por 14,75 dólares americanos. Um site mais em conta exorbitante, também muito celebrado, é o californiano nanamipaper.com. Vende uma resma (500 folhas A4) por 39,40 dólares. Os portes para duas resmas e dois cadernos grandes A5 (com 480 páginas, 25,60 dólares cada um) saem por 66 dólares. Há sempre a ameaça — afinal justa — de ter de pagar direitos alfandegários.

Um dos aspectos curiosos da nanamipaper é o custo de vários cadernos conhecidos por polegada quadrada de papel. Dave, o dono, desatou a fazer contas e concluiu que o caderno mais caro é o giro mas rasca da americana Field Notes (279 polegadas quadradas por dólar). O Moleskine está no meio (630), ligeiramente mais caro do que o alemão Leuchtturm 1917 (653). O segundo mais barato é da francesa Clairefontaine Basic Large Clothbound (758) e o mais barato de todos é o Seven Seas Writer, feito pela Nanami com papel Tomoe River. Dave baseou-se no preço da Amazon americana. Na Europa é possível comprar os cadernos grandes da Clarefontaine por muito menos.

No Japão o papel até que nem é caro. No site global.rakumen.com, que parece vender tudo o que se fabrica no Japão, vendem 4000 folhas (o equivalente a oito resmas) por 9200 ienes: 77 dólares. 100 folhas custam menos de 2 dólares. Procure “notebook paper (52g)A4 4000 pieces” para encontrá-lo. Levei quase duas horas para lá chegar, procurando inutilmente por “Tomoe river paper”.

O problema é que não mandam para Portugal. Mandam para os EUA e para o Canadá, onde as pessoas se organizam para fazer vaquinhas, comprar as 4000 folhas e depois dividi-las conforme as contribuições.

Felizmente há na Europa uma alternativa muito mais bonita e mais em conta. Claro que os mais clássicos são os da londrina Smythson. Os preços são assustadores (embora merecidos): o caderno de bolso (“Panama”) custa 60 libras, o A5 (“Dukes manuscript”) custa 135 libras e o A4 (“Kings Manuscript”) custa 215 libras. O papel é finíssimo e impecável com tinta permanente e as encadernações, feitas à mão com bom cabedal, são indestrutíveis.

Melhor ainda é haver cadernos ainda melhores e maiores do que os da Smythson que acabam por ser mais baratos. São feitos pela editora R

17- L

Allan, cujo negócio principal (desde 1863) é publicar bíblias de excelente qualidade. Há dois anos, a firma foi comprada por um jovem casal — Dominique e Ian Metcalfe —, que decidiu fazer cadernos pautados com a mesma qualidade das bíblias. O site está em bibles-direct.co.uk. Somando o IVA de 20% ao preço de cada caderno (em pele de cabra verde, castanho ou vermelho) cada um sai por 38 euros. Os portes são por conta deles, seja qual for o país do mundo e seja qual o for o dinheiro que se gastar. O caderno verde tem a vantagem de não ter “Journal”

escrito na capa. São quase duas vezes maiores que os Smythson e têm mais páginas: 256 em vez de 192. O papel é muito bom mas não é tão fino como o da Smythson. O cheiro, o peso e a sensação nas mãos não poderiam ser mais agradáveis. São irresistíveis.

Por enquanto os japoneses e os americanos podem esperar...