DR

Na ponta da língua

A verdadeira toalha turca de luxo parece-se com um pano da louça, custa uma ninharia e chama-se um pestemal

Nunca fui a um hammam ou sequer a um spa, mas gosto de ler livros sobre hábitos de banho e higiene.

Nunca fui a um hammam ou sequer a um spa, mas gosto de ler livros sobre hábitos de banho e higiene. Em matéria de higiene, ao longo do último milénio os povos mais porcalhões e mal informados, fossem muito, pouco ou nada perfumados, são os ocidentais.

A aversão à água (que se julgava cheia de doenças que penetravam o corpo através dos poros) faz com que seja mais sensato conhecer os hábitos dos japoneses ou dos turcos, para falar em duas nacionalidades sábias e limpinhas.

Embora as encomendas levem muitas semanas a chegar da Turquia (devem passar algum tempo na alfândega), quando não são coisas muito caras os nossos amigos alfandegários fazem o favor de considerar que a Turquia está quase na União Europeia. Ultimamente os governantes turcos têm-se portado mal mas isso não é razão para deixar de comprar os excelentes produtos da Turquia.

O luxo também é uma questão de tempo. Sempre que tomo banho gosto de me demorar tanto no banho como depois, tirando uma hora para secar-me e vestir-me, enquanto vejo um bom documentário ou uma colecção de Daily Shows do Jon Stewart.

Um dos maiores luxos são as águas-de-colónia. Hoje em dia faço como se fazia no século XIX: borrifo um lenço de algodão que trago no bolso e que tiro quando quero dar um cheirinho. Quando era mais novo aplicava directamente à pele mas, com o tempo, deixei de gostar: fica-se a feder de mais. Houve um breve período em que aplicava à camisa mas a intensidade ainda é maior.

No mouchoir é onde está bem. Espero que seja escusado acrescentar que para assoar o nariz uso lenços de papel. Ao longo dos anos tenho acumulado uma grande colecção de águas-de-colónia e todos os dias, conforme o tempo, a hora e o meu estado de espírito, escolho um diferente. Como estão bem guardados, duram muitos anos. Cada borrifadela — mesmo da colónia mais cara — sai por cinco ou dez cêntimos.

Ao tomar banho também dispomos de uma selecção de uma dúzia de sabões feitos só com azeite e hidróxido de sódio. Um deles — que recomendo — é feito numa pequena aldeia da Turquia e chama-se Caria. O site é http://www.cariahandmadesoap.com mas também se vende no eBay, no Etsy e na Amazon do Reino Unido.

Para tornar o banho luxuoso, a toalha pode ser muito grossa, grande e fofinha de um pano a que chamamos “turco”.

No entanto, a toalha tradicional da Turquia não é felpuda e pesada: é o pestemal, feito de algodão (100 %). É uma toalha muito leve e absorvente (com riscas bonitas e franjas brancas) que seca a pele muito depressa. São baratas e compram-se às dúzias mas desde que as comprámos nunca mais voltámos a usar as toalhas grossas e caras do costume. 

Bastou usar um pestemal uma vez para abandonar seis décadas de pseudo-turco. São maneirinhas, simpáticas e inteligentes. São também muito mais ecológicas e económicas. Se gostar de usar a mesma toalha duas vezes basta deixá-la pendurada na casa-de-banho para ela secar completamente em oito horas, mesmo num ambiente húmido e durante os meses de Inverno.

Se gosta de usar uma toalha nova cada vez que toma banho, pode lavá-la num programa rápido e morno e deixá-la a secar ao ar. Até de noite ficam secas na manhã seguinte.

O problema é inteiramente psicológico. Os pestemáis medem 95cm por 175cm e só custam à volta de 10 euros. Quando chegam parecem guardanapos gigantes ou sacos do pão planificados. Não pesam nada. Não acreditamos que dê para secar um corpo inteiro — e muito menos um corpulento.

Mas dá — e sobra! Por muito molhado que se esteja, o pestemal nunca fica totalmente encharcado. É um mata-borrão milagroso. Parece impossível mas vai secando enquanto nos seca. Isto no Inverno. No Verão, então, seria um sofrimento não poder tomar banho com um pestemal. 

Como são muito leves e finos, arrumam-se em qualquer lugar (enrolam-se lindamente) e são óptimos para levar para a praia ou para piqueniques. Bem dobrado, cabe no bolso do fato de banho para se poder ir para a praia como os cariocas, de mãos a abanar...