• Alexander Wang para H&M
    Alexander Wang para H&M DR
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  • Pedro Lourenço para Nike
    Pedro Lourenço para Nike DR
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  • A linha Sport da Mango
    A linha Sport da Mango DR
  • Sara Sampaio no desfile de apresentação da colecção de Wang para a H&M em Nova Iorque
    Sara Sampaio no desfile de apresentação da colecção de Wang para a H&M em Nova Iorque DR
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  • A DKNY fez uma colaboração em que peças desportivas condizem com as linhas mais clássicas da marca
    A DKNY fez uma colaboração em que peças desportivas condizem com as linhas mais clássicas da marca DR
  • Alexander Wang para H&M
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Moda

Alexander Wang para H&M, ou como o desporto saiu do ginásio e foi a correr para a moda

Alta-costura Chanel com ténis? Chinelos de piscina na Schiaparelli, slip-ons na Dior? O desporto saiu do ginásio e foi a correr para a rua. E para a moda.

Na semana em que a 10.ª colaboração da H&M com um criador de moda chega às lojas de todo o mundo, Portugal incluído, parece ter-se atingido uma espécie de pico da tendência que está a pôr o chic no sport, a recalibrar definições como “athleisure” e a aproximar nomes como o de Beyoncé ou Alexander Wang das lojas de moda rápida.
 
Esta quinta-feira de manhã, quem ganhar a corrida na H&M tem um troféu Alexander Wang à sua espera. Literalmente. As peças da muito esperada colecção-cápsula do criador de origem chinesa e de impressão digital nova-iorquina – e que é também o director criativo da mítica casa Balenciaga – chegam então às lojas num momento em que Alexander Wang é uma dos ponta-de-lança de um movimento que começou há um punhado de anos. Aquele que, bebendo das ruas, psico-sociologizando as necessidades dos habitantes das cidades e reagindo aos movimentos anteriores, desenhou uma silhueta desportiva com caução high fashion.
 
“Deixem-me fazer-vos recuar uns meses e lembrar-vos do primeiro momento em que nos apaixonámos com a tendência sport”, pede Stacey Duguid, editora da Elle numa coluna no site da Matches – marca que no último ano duplicou as suas vendas de calças de jogging e corrida. “Lembram-se do desfile Primavera/Verão 2013 da Stella [McCartney]?” Esse dia de Setembro do final de 2012 foi quando, para Duguid, tudo começou. Era tudo deliciosamente desportivo.
 
Dois anos depois, esperam-se filas à porta das H&M. Wang é sinónimo de “modelo à paisana”, de Nova Iorque, de génio na interpretação do que emana da rua e dos desejos ainda desconhecidos dos seus clientes. E se sempre teve um pé na estética do sportswear dos ambientes urbanos (e menos às convenções de um desporto em particular), agora entrou a pés juntos. 
 
São sweatshirts injectadas com espuma, leggings de corrida, bolas de futebol, calças de correr de pele, chinelos de piscina, mochilas com uma capa interior que protege o seu conteúdo, garrafas de água, casacos que repelem a água, tapetes de yoga ou tops esculpidos aqueles que Rihanna usou e tornou objecto de desejo, mas com soutien desportivo incluso. Entre óculos de natação e garrafas de água, há botas e saltos altos que misturam neoprene, atilhos e cabedal, referência às muito populares botas Freya que o designer criou em 2010 e camisolas em que o mais importante não é a performance, mas o estilo.
 
“Vivo em roupas de ginásio”, disse Wang ao New York Times quando apresentou a colecção em desfile há um par de semanas. Mas “não sou atleta”. Contudo “toda a gente faz exercício. Toda a gente é activa. Toda a gente sua”. Porém, a estética desportiva vai para lá do desporto. “Quando saímos à rua, agora é o uniforme.” E, por isso, ele devolve à rua, via H&M, essa mesma roupa, esse mesmo ambiente. Esse desejo. 
 
Uma das "vozes mais importantes"
Para Wang, a colecção chama-se “Sports at night”, porque “não somos só activos quando estamos a fazer desporto”. É o primeiro americano e, aos 30 anos, o designer mais jovem a emparelhar com a H&M. No décimo aniversário das colaborações que a empresa sueca começou em 2004 com Karl Lagerfeld – e há porta-chaves com luvinhas de boxe na colecção Wang X H&M semanas depois de Lagerfeld desenhar malas sob a forma de sacos de boxe para a série Icon & Iconoclasts - Celebrating Monogram da Louis Vuitton – a escolha recaiu numa “das vozes mais importantes na moda hoje”. É o que diz Margareta van den Bosch, fundadora e casamenteira destas colaborações e agora consultora de design da H&M depois de anos como sua directora de design. “As suas criações são urbanas, usáveis e cobiçadas, com uma nova abordagem do uniforme urbano. [Wang] Tem uma compreensão inerente do que as pessoas querem usar”. 
 
A colecção fez o diário britânico Telegraph perguntar  “equipamento de ginásio ou linha de moda?”. É que as peças são mesmo tecnicamente adequadas para uma vida activa. São impermeáveis, respiram, secam rapidamente. “É um processo completamente diferente daquele a que estou habituado”, contou Wang à Elle americana. Os tecidos e as fábricas são distintos dos que usa tradicionalmente, não só por uma questão de preço, mas sobretudo pela técnica. “Tiveram de ser testados exaustivamente. Precisam de desempenhar. Não podemos dizer que é à prova de água e não ser mesmo impermeável.”
 
Há dois anos, quando da parceria da H&M com a Martin Margiela, foram reeditadas peças dos arquivos da casa parisiense numa versão mais acessível em preço. Contudo, no caso de Wang, a sua própria marca mal tem dez anos. Em 2011 valeria, segundo o Telegraph, cerca de 19 milhões de libras (mais de 24 milhões de euros). Estava a meio do seu percurso ascendente cujo elevador tilintou em 2012 no andar Balenciaga. Já em 2013, segundo o New York Times, teve receitas de cerca de 79 milhões de euros. Em 2014 e para a H&M, o designer criou peças verdadeiramente novas. E quer fazer-nos suar para as apreciarmos integralmente. É que até há uma t-shirt com escritos que só aparecem quando suamos. 
 
Sporty chique, um negócio
No início do ano, só se falava no normcore. A fábrica desejante de rótulos e fenómenos formada pelo conglomerado moda + média identificou primeiro num gabinete de tendências, depois num artigo da revista New York, um regresso ao básico, ao anti-moda, ao que era “roupa de pai” e “jeans de mãe”, de uma certa fatia das tribos citadinas. Os ténis sem marcas cool, os cortes largos das calças e t-shirts indistintas, os bonés que eram demasiado impermeáveis à ironia para serem apropriados pelos hipsters dominaram uma parte, em forma de anedota, do discurso sobre a moda urbana. E encontraram o eco do conforto das massas ao poder categorizar algo que, até aí, não conseguia propriamente enquadrar.
 
Algo sucedia em simultâneo, mas nas passerelles, e que já grassava nas ruas, na ânsia de, depois dos stilletto das rainhas da moda e das saias justas de secretárias sexy, descer à terra e a um bom par de sapatos rasos, de chinelos Birkenstock, de calças largas e confortáveis. Pode argumentar-se que a obsessão pelo desporto nas passerelles foram os criadores a transpirar o culto da imagem nas redes sociais, a processarem o fluxo de fotos de realidade saudável e beleza impoluta devidamente enquadrada num post no Instagram.
 
Da moda do running à moda para running, da obsessão pela eterna juventude aos healthies (as selfies healthy, ou saudáveis). As eternas referências a materiais tecnologicamente evoluídos do skate e do surf (neoprene e família são cada vez mais convidados para os roupeiros lá em casa) juntaram-se à imagem de uma cultura que vai de um Woodkid monocromático desportivo em negro a sair dos auscultadores ao batom escuro da adolescente mais influente do mundo (Lorde, caso tenha estado distraído em 2013). Kanye West de calças de desporto de cabedal e ténis de milhares de dólares  e máscara – Margiela de tachas –, os skaters nas nossas ruas, os surfistas nas nossas ondas, o parkour na nossa vida. 
 
E tudo o que está a tornar o sporty chique é, obviamente, também um negócio. 
 
Foi o que levou Sir Philip Green, o sr. Topshop, a unir-se a Beyoncé numa empresa (e não uma simples colaboração episódica) de roupa desportiva para fitness ou dança que ainda não tem nome de marca mas que dentro de um ano deverá estar à venda. “Temos estado a olhar para esse sector [atlético] há algum tempo. É algo em que temos de estar”, disse o empresário britânico ao jornal especializado Women’s Wear Daily. É o que levou um dos mais conceituados sites de venda de high fashion a criar um novo espaço – o Net-a-Porter tem agora um Net-a-sporter. A Adidas estendeu o seu vigoroso braço para convidar a designer britânica Mary Katrantzou para uma aula de novas peças e estampagens, a DKNY fez uma colaboração de casacos de futebol americano, calças de fato de treino e t-shirts com a modelo-it girl dos últimos dois anos, Cara Delevigne, e agora tem como montra da sua colecção de cruise a mesma modelo e companhia de ténis a condizer com as linhas mais clássicas da marca. 
 
No vestuário masculino, as calças de desporto estiveram nas passerelles da Bottega Veneta,  Michael Kors ou Hermés. “É parte de um ‘soltar-se’ geracional que temos vindo a ver no menswear nas últimas estações – tudo o que seja demasiado rígido já não parece moderno”, diz ao semanário britânico Observer Damien Paul, responsável da secção masculina da Matches.
 
Passámos para uma espécie de emulação de uma folga eterna, mas com estilo. Hollywood e galácticos claro, um estilo de vida californiano das celebridades sempre em treinos no Instagram em corrida dos paparazzi, actores e jogadores acabados de sair de longos voos nos lounges dos aeroportos. Entre as corridas e os dias sem maquilhagem, as saias midi estão agora bem acompanhadas por ténis slip-on e os saltos não dispensam umas calças desportivas, cinturas elásticas e folga na largura da perna. 
 
Nas lojas de moda rápida e acessível, estas peças passaram das secções de desporto para os andares centrais de moda – e este circuito de manutenção tem uma nuance: a linha H&M Sport já existe desde 1970, esclarecem-nos do gabinete de imprensa da marca sueca, mas só agora tem tanto destaque nas lojas. “O que existe agora é uma maior atenção para os materiais utilizados tendo em conta que hoje em dia o conceito de exercício físico não só está na moda, como já não acontece só nos ginásios.” 
 
A Mango tem a sua linha Sport com supermodelos como Daria Werbowy a servir-lhe de rosto; a Oysho lançou-se numa linha desportiva em parceria com a Adidas em 2011 mas um ano depois já era uma aposta da casa a solo e a Bershka, por exemplo também tem uma linha de activewear recente.
 
Do lado das marcas de desporto tradicionais – que há muitos anos convidam, como faz a Adidas com Stella McCartney ou Yohji Yamamoto, designers de renome a desenhar para elas –, o discurso também se adapta. A nova colecção da Nike com o jovem designer brasileiro Pedro Lourenço (que aos 19 anos já apresentava colecções na semana de moda de Paris) surge “inspirada por um desejo emergente de luxo no equipamento desportivo”. E tal como Alexander Wang que passar do dia para a noite sempre activo, a mesma lógica se aplica na Nike: a nova colecção é “desenhada para fazer a transição dos treinos para a roupa quotidiana”. A rua é uma academia. Sem hora de fecho.