Prémio Nobel
Malala não tem dúvidas: é a educação que muda o mundo
"Eu, Malala – A Minha Luta pela Liberdade e pela Educação" conta a história da jovem paquistanesa, agora premiada com o Nobel da Paz.
E ali se descreve como tudo se passou: “Foi então que ele ergueu uma pistola preta. Mais tarde vim a saber que se tratava de uma Colt 45. (…) As minhas amigas dizem que disparou três tiros, todos de seguida.”
Contado na primeira pessoa, mas escrito por uma outra. A voz de Malala Yousafzai, “uma criança que desafiou os taliban”, foi vertida em letra impressa por Christina Lamb, correspondente internacional que trabalha para o jornal britânico Sunday Times e é casada com um português. A edição de Eu, Malala chegou às livrarias de Portugal há um ano, em Novembro de 2013, pela mão da Editorial Presença.
Logo na capa se escreve aquilo que terá certamente contribuído para que a mensagem desta jovem se tornasse universal: “Uma criança, um professor, um livro e uma caneta podem mudar o mundo.”
Uma obra que comove e inquieta e pode ajudar os jovens privilegiados a mudar o seu olhar perante a escola, a formação, a educação formal e a cultura. Deixando de as ver como “uma perda de tempo” ou, em linguagem coloquial, “uma seca”. Ajudará certamente também os mais novos (e os outros) a perceber como não nascer homem pode ser um grande peso e limitação para toda a vida, sobretudo em determinadas culturas. Como se denuncia imediatamente na dedicatória de Malala para esta obra: “A todas as meninas que enfrentaram injustiças e que foram silenciadas. Juntas seremos ouvidas.”
“Quem é a Malala?”
Um excerto do episódio dramático que a celebrizou e que se passou dentro da carrinha que a levava simplesmente para a escola.
“(…) O homem trazia um boné com pala e tinha um lenço a tapar-lhe o nariz e a boca como se tivesse gripe. Parecia ser um aluno universitário. Em seguida, saltou para a traseira da carrinha e inclinou-se sobre as nossas cabeças.
– Quem é a Malala? – exigiu saber.
Ninguém disse nada, mas várias meninas olharam para mim. Eu era a única rapariga que não trazia o rosto coberto.
Foi então que ele ergueu uma pistola preta. Mais tarde vim a saber que se tratava de uma Colt .45. Algumas raparigas gritaram. Moniba conta-me que lhe apertei a mão.
As minhas amigas dizem que disparou três tiros, todos de seguida. O primeiro atravessou a órbita do meu olho esquerdo e saiu debaixo do ombro do mesmo lado. Caí sobre o colo de Moniba, com sangue a escorrer da orelha esquerda, de modo que as outras duas balas atingiram as meninas que estavam ao meu lado. Uma bala atravessou a mão esquerda de Shazia. A terceira atravessou-lhe o ombro esquerdo e alojou-se na parte de cima do braço direito de Kainat Riaz.
Mais tarde, as minhas amigas contaram-me que o atirador tinha a mão a tremer enquanto disparava.
Quando chegámos ao hospital, o meu cabelo comprido e o colo de Moniba estavam cobertos de sangue” (págs. 19-20).
De seguida, a protagonista usa a mesma pergunta do atirador para prosseguir a sua narrativa: “Quem é a Malala? Eu sou a Malala e esta é a minha história.”
Um livro de coragem e revolta, mas sobretudo de esperança. Nunca de vingança.
Eu, Malala – A Minha Luta pela Liberdade e pela Educação
Texto: Malala Yousafzai com Christina Lamb
Tradução: Maria de Almeida, António Carlos Andrade e Cristina Carvalho
Foto da capa: Antonio Olmos
Edição: Editorial Presença
352 págs., 16,90€