Poupança
É possível poupar mesmo em tempos de crise
É possível poupar mais de 800 euros em cafés por ano, 200 euros na compra de pão, 50% do orçamento familiar destinado à compra de frutas e legumes ou 95% na aquisição de medicamentos.
Quem o diz é Ana Bravo, especialista em economia doméstica, no livro ABC da Poupança. A autora deixa mais de mil conselhos para conseguir poupar e gerir orçamentos mas o consumidor deve ser realista quanto às suas economias e estar aberto a sugestões que podem fazer toda a diferença ao fim do mês.
Há cerca de três anos, Ana Bravo era entrevistada para o programa Contas Poupança da SIC, desenvolvido pelo jornalista Pedro Andersson. No final do encontro, Andersson incentivou-a a pôr por escrito dicas para poupar. Surge assim o ABC da Poupança, editora Vogais, “um manual prático de consulta dividido por temas com as diferentes formas de poupar ponto por ponto”, conta a autora, também criadora da RP Cash, empresa de consultoria financeira de crédito, ao Life&Style.
Os conselhos que se encontram no livro são o resultado da experiência pessoal de Ana Bravo que não encontrou no mercado a ajuda que procurava quando decidiu dar um “rumo diferente” às suas finanças pessoais.
Ao longo do livro são apresentadas formas de poupar mesmo nas coisas mais pequenas mas que, segundo a autora, fazem toda a diferença quando se faz um balanço no final do mês ou do ano. Através de tabelas, Ana Bravo ajuda as famílias a organizarem-se e a gerir o seu orçamento de forma a conseguir pôr de lado algum dinheiro, a ter mesmo uma vida mais saudável e amiga do ambiente.
O resultado é exemplificado pela autora com o consumo de café e de pão para um agregado familiar formado por duas pessoas. Ana Bravo diz que “existem imensas formas de se poupar em café e que esta poupança pode ir até cerca de 850 euros ano”. No caso do pão, pode poupar-se “cerca de 80% no valor gasto”. “Para um casal em que os dois consumam quatro carcaças por dia, fazer pão em casa poupa-lhes pelo menos 200 euros por ano. E só em duas rubricas acabaram de poupar pelo menos 87,50 euros por mês”.
Maioria dos portugueses é financeiramente desorganizada
A actual crise financeira pode minar qualquer tentativa de poupança mas Ana Bravo acredita que é sempre possível, basta uma mudança de mentalidades. “As pessoas estão muito presas aos hábitos e rotinas que criaram e as suas resistências à mudança tornam o processo menos fácil. No entanto, a minha experiência e crença é que tudo é possível desde que se queira. Vamos dando pequenos passos”, defende.
Ana Bravo acredita que é “sempre possível melhorar os nossos consumos” e mesmo perante esta crise é “possível não só poupar, como na realidade aprender muito sobre previdência, lembrar que a economia é cíclica, que existem períodos melhores e nesses devemos aforrar e tomar decisões que não nos prejudiquem quando chegarem os períodos mais desafiantes”.
O problema pode parecer difícil de enfrentar, principalmente quando a maioria dos portugueses se “encontra financeiramente desorganizada”. “É um facto que a maioria não fez contas e não teve uma consciência do verdadeiro alcance das suas decisões. Por exemplo, se um banco oferece um crédito que representa mais do que 35% do valor do rendimento do agregado familiar será que foram feitas as perguntas certas? Que dinheiro me resta para as despesas com alimentação, saúde, gestão do lar, vestuário, deslocações, educação? Em que situação vou ficar quando as taxas de juro subirem? De que forma isso vai afectar o rendimento disponível?”.
Ana Bravo lamenta ainda que alguns portugueses negligenciem a sua real capacidade financeira e alimentem o erro do “querer ter para parecer”. Priorizando o status ou a elegância, muitos “acabam por hipotecar a sua dignidade, paz de espírito e noites de sono bem dormidas”. A autora sublinha que esta questão é transversal já que o desconhecimento sobre como gerir o rendimento de forma eficaz acontece em “qualquer classe social”.
“Já vi muita gente com rendimento de ordenado mínimo, e pouco mais, a fazer poupança e a gerir de forma muito boa o seu orçamento, contrariamente a outras com rendimentos excelentes entre os cinco mil euros e os 15 mil euros a gastarem mais do que têm e a não ter qualquer noção de quanto gastam e onde”, exemplifica com base na sua experiência pessoal. Para Ana Bravo é “necessário reforçar uma cultura de 'ser' em vez da que temos”. “Quando as pessoas 'são' elas próprias têm sempre, pelo menos o suficiente para estar em equilíbrio”.
Escolas deviam ensinar a poupar
A incapacidade de poupar ou de não saber gerir as prioridades de consumo pode explicar-se, segundo a autora, devido à “falta de aprendizagem tanto na vida como na escola de matérias que permitam às pessoas organizarem-se financeiramente e estarem atentas a estas questões pelo menos o suficiente para não se chegarem a situações complicadas”.
Numa sociedade em que as anteriores gerações, que tiveram “pouca liberdade financeira, algumas dificuldades até e muitas restrições”, querem dar o melhor aos seus filhos e netos, o risco de os colocar à margem da realidade financeira da família existe. Ana Bravo alerta que assim irão existir “mais adultos sem literacia financeira e que vão, muito provavelmente, cometer erros graves para a sua vida, tomar decisões pouco ponderadas e financeiramente pouco equilibradas”.
Os pais devem “não só instruir-se sobre estas matérias o mais possível como envolver os filhos nesta aprendizagem e trabalharem em conjunto”, aconselha.
É nesse sentido que Ana Bravo é uma “defensora acérrima” de que estas questões sejam leccionadas nas escolas. “Quando se é jovem está-se mais aberto à aprendizagem e também por isso devemos investir em desenvolver estas capacidades de gestão e análise crítica e isso é possível se essas matérias forem ensinadas nas escolas a nível global e criando uma política de profilaxia”.
A especialista em economia doméstica propõe a criação da disciplina de Finanças Pessoais, na qual deveriam ser abordadas questões como a organização e gestão de espaços familiares, introdução à economia e conceitos básicos como juros, diferentes taxas, créditos, investimentos ou ainda a criação de orçamento.