Estudo
A virgindade já não é tabu e os jovens falam abertamente sobre sexo
Um estudo concluiu que, nos EUA, perder a virgindade nos dias de hoje é muito diferente de há duas décadas. O Life&Style falou com o sociólogo Pedro Vasconcelos que explicou que a maior alteração é a abertura com que os jovens falam sobre as suas experiências sexuais.
O estudo da norte-americana Susan Sprecher concluiu que, actualmente, os jovens sabem lidar melhor com os sentimentos de culpa e ansiedade e têm mais prazer. A investigadora quis aprofundar um estudo já realizado sobre reacções emocionais à primeira experiência sexual. “Porque a primeira relação sexual é uma importante transição de vida, o seu significado emocional, seja uma experiência positiva ou negativa, pode ter efeitos duradouros sobre futuras relações sexuais”, explicou.
Mas Pedro Vasconcelos, sociólogo de família do ISCTE, diz que embora “interessante” devido ao “carácter longitudinal que acompanha muitas gerações”, este estudo “não reflecte a sociedade americana”. Isto porque uma das maiores limitações do estudo, referida também por Susan Sprecher, é a amostra: uma única turma de uma única universidade americana, a Illinois State University, durante 23 anos. Embora tenham sido analisados mais de cinco mil questionários preenchidos entre 1990 e 2012, os resultados não são representativos.
“É um estudo que diz alcançar, de certa forma, o significado emocional da primeira experiência sexual. Mas não. A única coisa que alcança são as narrativas que as pessoas estão dispostas a produzir em contexto de interrogação”, explica Pedro Vasconcelos, que considera que é precisamente aqui que reside a importância do estudo: os jovens alteraram as suas narrativas e estão dispostos a falar sobre a sua experiência sexual abertamente. “Mesmo não sendo representativo, é um bom princípio para falar das narrativas culturais e normativas que existem hoje em dia”.
O objectivo de Sprecher foi examinar as diferenças de reacção por género na experiência de perder a virgindade. Os resultados, à primeira vista pouco surpreendentes, mostraram que os homens experienciam “mais prazer e mais ansiedade do que as mulheres, enquanto as mulheres têm mais sentimentos de culpa do que os homens”, concluindo-se que “a maior diferença entre os dois géneros prende-se no prazer”.
Embora a distinção emocional entre os dois sexos seja grande, o estudo revela que é uma diferença que está a diminuir. “A ansiedade, nos homens, diminuiu durante as três décadas analisadas; para as mulheres o prazer aumentou e a culpa diminuiu”. Pedro Vasconcelos explica que “há, realmente, uma tendência para a forma como homens e mulheres falam da experiência sexual, ser mais semelhante”.
“A maneira de falar sobre isto perdeu alguma carga negativa. Houve uma diminuição dos esquemas tradicionais de repressão que associavam a sexualidade à imoralidade. Há, aliás, uma exaltação da sociedade. Há uma espécie de discurso cultural que circula por todo o lado: televisão, revistas, cinema, redes sociais…” continua o sociólogo.
No estudo, Sprecher esclarece que “a primeira experiência sexual passou a estar associada a uma relação, o que pressupõe um aumento gradual de intimidade entre o casal”, sendo esta a explicação para o aumento do prazer feminino e a diminuição da culpa.
Um grupo de investigadores portugueses explorou esta questão no estudo “Sexualidade dos jovens portugueses”, publicado em 2013. De uma amostra de 396 jovens (entre os 13 e os 21 anos), 189 disseram já ter tido relações sexuais. Desses, a maioria confirmou ter tido como parceiro para a primeira relação sexual o companheiro da altura (75,5% dos rapazes teve como parceiro a namorada, enquanto 83,9% das raparigas teve o namorado). Já relativamente às pressões sentidas, apenas 12,2% da amostra total de inquiridos disse ter-se sentido pressionado. Apesar disso, Pedro Vasconcelos considera que hoje há “uma pressão gigantesca para ser um sujeito sexual” porque “as narrativas que existem acentuam que a sexualidade é sempre boa e se a coisa não corre bem e não foi bom, a culpa é da pessoa”.
No entanto, “a sexualidade hoje faz parte de um esquema que tem a ver com a expressão individual das pessoas” e, por isso, a virgindade já não é um assunto tabu. “Um tabu é uma coisa da qual se está sempre a falar mesmo quando não se fala. Hoje, na sociedade portuguesa e na maioria das sociedades ocidentais, há uma aceitação da sexualidade juvenil que tem efeitos médicos importantes, como a prática do sexo seguro”, diz o sociólogo, concluindo que esta aceitação crescente “faz com que toda a questão à volta da virgindade seja irrelevante”.