Monarquia
Sofia, a rainha discreta, foi a pedra angular do reinado de Juan Carlos
Um misto de discrição e compaixão levaram Sofia, uma princesa grega educada na Alemanha, a esquecer as suas origens e tornar-se a rainha de Espanha, tendo, durante todo o reinado de Juan Carlos, ocupado um lugar essencial.
Sofia manteve-se sempre à margem dos escândalos que envolveram o marido, permanecendo como o membro mais popular da família real espanhola em 75 anos.
Na noite de 2 de Junho, depois do anúncio oficial da abdicação, Sofia partiu para Nova Iorque, EUA, mantendo a sua agenda oficial. “Tudo permanecerá igual. O meu filho vai dar continuidade a tudo, ele já está ao corrente de todos os assuntos”, disse à imprensa com um sorriso tranquilo.
Filha mais velha do rei Paulo I da Grécia, que reinou de 1947 a 1964, e da rainha Frederika, Sofia nasceu em Atenas a 2 de Novembro de 1938 e passou, tal como o seu marido, parte da infância no exílio. Logo após o seu nascimento, a II Guerra Mundial rebentou, obrigando a família a ir para o Egipto e, posteriormente, para a África do Sul. Terminou a sua escolaridade num colégio interno na Alemanha.
Quando finalmente conseguiu voltar a Atenas, Sofia ingressou em estudos de puericultura, música e arqueologia. A monarca é ainda dotada de uma especial apetência para as línguas. Devido à infância no exílio, além do grego e do espanhol, Sofia aprendeu inglês (uma língua que fez questão de ensinar ao filho Felipe), italiano e alemão.
Velejadora experiente, fez parte da equipa de vela grega em 1960, como suplente. A paixão pelo mar aproximou-a de Juan Carlos, que conheceu em 1954 durante um cruzeiro de luxo. Em Maio de 1962 casaram-se em Atenas e receberam a permissão do ditador Francisco Franco para se instalarem no Palácio da Zarzuela, perto de Madrid. Em 1969, o ditador escolheu Juan Carlos como futuro sucessor ao posto de chefe de Estado.
“O apoio da rainha foi fundamental” durante aqueles anos, sublinha Fermin Urbiola, autor de vários livros sobre a realeza espanhola. “Foi graças ao seu grande senso de realidade que eles se tornaram rei e rainha”, explica Abel Hernandez, outro biográfico.
Para agradar aos espanhóis, Sofia renunciou à religião ortodoxa e converteu-se ao catolicismo. A operação de charme continuou com o nascimento dos filhos: Elena em 1963, Cristina em 1965 e Felipe em 1968, com o casal a deixar-se filmar e fotografar em cenas familiares de aparente simplicidade.
Sensível, a rainha dedica grande parte do seu tempo à caridade e sempre mostrou preocupação e um lado muito humano, demonstrando a sua compaixão em grandes tragédias. Exemplo disso foi quando, em 2004, lágrimas lhe caíram pelo rosto durante o funeral das vítimas do atentado de 11 Março, em Madrid.
Mas a rainha também teve os seus momentos divertidos, como quando surpreendeu os jogadores da selecção espanhola nos balneários, semi-nus, depois da meia-final do Campeonato do Mundo de Futebol em 2010.
Embora, com o passar dos anos, o seu relacionamento com o marido, Juan Carlos, se tenha tornado mais distante, isso não a impediu de cumprir o seu papel. “A rainha é a chave desta família”, diz Abel Hernandez, “foi ela que conseguiu manter a coesão e o bom senso” em todas as circunstâncias, entre elas o casamento de Felipe com Letizia, uma plebeia, o divórcio da filha Elena e, desde 2011, o escândalo judicial que atinge Cristina.
Sempre “estóica face às relações extraconjugais do marido, o seu maior dever foi transformar Felipe em monarca”, escreve o jornal grego Ta Nea, descrevendo uma relação muito estreita entre mãe e filho, classificando-os como os “verdadeiros líderes da casa real espanhola”.
Seguindo as regras da Constituição espanhola – que entretanto foram alteradas –, é Felipe que sobe ao trono, passando à frente das suas irmãs mais velhas; tal como Sofia o fez a favor do seu irmão, Constantin, o último rei da Grécia.