Educação
Estudar também se aprende
Uns declamam a matéria, outros desenham esquemas que só os próprios decifram e outros ainda recorrem a mnemónicas para os assuntos menos óbvios. Muitas são as maneiras de estudar, mas há quem precise de ajuda para encontrar a que melhor lhe serve.
Motivar para o estudo, treinar as qualidades inatas e explorar outras, combater receios de errar, responsabilizar, ensinar a seleccionar materiais e sistematizar conhecimentos são algumas das práticas que conduzem a uma melhor aptidão académica. Por acreditar nisso, Graça Cunha desenvolve acções de sensibilização para o estudo destinadas a alunos do 1.º ao 9.º ano de escolaridade. Ou seja, dos seis aos 15 anos.
“Quanto mais cedo se aprender a estudar, maiores são as possibilidades de êxito”, diz a formadora, actualmente a coordenar sessões diárias em Coimbra, no Pavilhão Centro de Portugal, integradas num conjunto de actividades pedagógicas para crianças e jovens da iniciativa da Orquestra Clássica do Centro.
“Não é invulgar que alunos universitários tenham dificuldade na expressão escrita, na organização dos materiais, na pesquisa. Não gostam, não sabem, não querem ou não aprenderam a fazer uma boa síntese, por exemplo.” Por isso, Graça Cunha sugere que se incuta métodos de trabalho logo nos primeiros anos de escolaridade. “O aluno trabalha a perícia, a memória, mas também as técnicas, para depois, com menor esforço, ter maior rendimento nas aulas”, explica à saída de uma sessão em que mostrou aos miúdos um documentário sobre o atleta Cristiano Ronaldo.
“Para perceberem como é que o treino, a técnica, a perspicácia ajudam a rentabilizar as capacidades. E verem que as aptidões depois de treinadas funcionam por si só, tornam-se automáticas.” Exemplificando: “Cristiano Ronaldo recolhe 90% da informação com o olhar e logo antecipa as jogadas e os movimentos dos adversários. Ele já não se apercebe de que faz isso. Já está no subconsciente e funciona por si só.” Não é só talento, é trabalho: “Com base num método de rentabilizar capacidades através do treino.” Os alunos “captaram bem a ideia”, diz.
Graça Cunha sabe que, para muitos, “estudar é uma carga penosa” e o seu incumprimento leva “ao conflito com os pais”. Tenta então motivá-los de várias formas, para evitar “que vão acumulando desinteresse pelo estudo, que muitas vezes acabam também por associar à penalização” familiar.
Rentabilizar capacidades
Na prática, o que faz é tentar perceber o handicap de cada aluno e também as suas capacidades, “se tem boa memória visual ou auditiva, por exemplo”. Porque, diz, “aprender a fazer síntese, a sistematizar matéria, a distinguir o que é essencial do que é acessório não é subjectivo, é até muito objectivo; o que é subjectivo é como é que cada um rentabiliza as suas capacidades para fazer isso”. Não tem dúvidas de que “um aluno de Matemática tem mais facilidade em fazer esquemas do que um aluno de letras, que tem as capacidades vocacionadas para outro tipo de estudos”. Por isso, tem também o papel de “encorajar a reflexão e o conhecimento das características individuais”, sempre com vista ao êxito escolar.
A formadora, que começou por estudar Direito, mas viria a licenciar-se em Jornalismo, frisa que estas acções de sensibilização para o estudo “não são explicações, não é esse o espírito”. Descreve que o ponto de partida é sempre o dia-a-dia da criança na escola, tentando perceber o que é que falhou e o que correu bem. Tendo como objectivo levá-la “a saber estudar sozinha, a posicionar-se na sala de aula e a relacionar-se com professores e colegas”. Fazer os trabalhos de casa durante as sessões também está previsto.
“A minha figura é a de educador, não a de professor (que exige o retorno da matéria leccionada) nem a de pai (que exige o retorno do investimento emocional, financeiro e educacional)”, explica. E quer que os miúdos percebam “que estudar não é apenas obter bons resultados na aula, estudar é dotar-se de capacidades que são úteis para a vida em todos os domínios”.
Através de “método, disciplina, organização”, o estudo, segundo a formadora, “alarga horizontes, diminui o receio do fracasso como obstáculo à concretização das tarefas e fá-los ganhar autoconfiança, tudo isto baseado na convicção do conhecimento”.
Acções de sensibilização para o estudo
Dos 6 aos 15 anos
Segunda a sexta-feira, a partir das 15h30 (sessões de 1h30)
40€/mês
Orquestra Clássica do Centro
Pavilhão Centro de Portugal, Av. da Lousã
3030-476 Coimbra
Tlm: 916 994 160, 919 458 994, Tel: 239824050
email: occ@
www.orquestraclassicadocentro.org