Outlux
Casamento à prova de crises
É difícil imaginar um final feliz quando só se pensa em se os convites estão prontos, se as alianças servem ou se a firma de catering se está a aproveitar da inexperiência dos noivos. Para evitar estas e outras crises, Sandra Gomes deixou a advocacia e fundou uma empresa de casamentos “chave na mão” a preços low cost. Pode relaxar a noiva.
Quando se casou, há aproximadamente um ano e meio, Sandra trabalhava numa firma de advogados e desejava “um casamento original e acessível, que fugisse um pouco das quintas habituais”. Na hora de organizar o evento, percebeu que conciliar originalidade e bom preço era uma tarefa desgastante, “até porque quanto mais original era o conceito do casamento mais caro se tornava o serviço”. Estava detectada a lacuna no mercado que o empreendedorismo da ex-advogada de 30 anos viria a preencher com a Outlux, empresa que organiza casamentos a preços reduzidos, sobretudo na zona de Lisboa.
A ideia de criar um negócio que oferecesse um “casamento original e barato, mas sem perder qualidades” acabou por ganhar forma pouco tempo depois, com o nascimento de Mateus, agora com sete meses. “Precisava de fazer uma opção de carreira e queria dedicar-me à maternidade sem estar parada, contribuir para o mercado mas ter alguma flexibilidade. Com a crise e com a era low cost em que vivemos fez todo o sentido avançar com o projecto”, afirma Sandra, que deixou para trás oito anos de advocacia para se dedicar ao novo negócio.
“As pessoas de início pensam que um casamento custa x por cabeça, mas depois começam a ver que falta contabilizar extras como o vestido, alianças, fotógrafo e, no fim de contas, a despesa é muito maior.” É para evitar estas situações que a Outlux oferece pacotes de casamento completos e personalizáveis, que incluem ainda o acompanhamento de Sandra Gomes como wedding planner. O Make it Simple é o mais barato e, por 5,000 euros, inclui uma festa para 40 pessoas num espaço ao ar livre, com decoração, DJ, catering, bolo, alianças, vestido por medida e mais.
De acordo com Sandra, os preços dos oitos pacotes discriminados no site da empresa “servem para dar ao cliente uma ideia daquilo que pode ser feito”. Assim, sabemos que por 12.550 euros é possível ter um casamento “Hippie Chic” na praia para 100 pessoas, tudo incluído. Um casamento típico em Portugal, numa quinta ao fim-de-semana, pode custar entre 20 ou 30 mil euros, contudo Sandra Gomes sublinha que não é fácil calcular o que um casal poupa ao trabalhar com a Outlux: “Depende das pessoas e do que procuram. Podem poupar cinco, dez mil euros ou nada, mas pelo menos têm o valor acrescentado de alguém que tenta pensar em ideias originais e trata de tudo, até no dia do casamento.”
“Este não vai ser o dia mais feliz da minha vida”
O primeiro casamento organizado pela empresa aconteceu no início de Junho. Durante os três meses de preparação do evento, Sandra acompanhou todas as visitas ao local, provas do vestido de noiva e maquilhagem, como uma madrinha. “São duas pessoas na casa dos 36 anos, que vão no segundo casamento e já têm filhos. Isso permitiu que houvesse imensa descontracção na hora de organizar tudo, porque não querem gastar demasiado dinheiro, mas também não tinham demasiadas preocupações”, conta. A empresária recorda o que um dos noivos lhe disse nas primeiras reuniões: “Este não vai ser dia mais feliz da minha vida”.
“São pessoas que já foram pais ou mães, já se divorciaram e já viveram tanta coisa que querem muito celebrar a união, mas não ficam stressados se o talher estiver um centímetro mais acima ou mais abaixo”, afirma Sandra Gomes. Casados de fresco, os primeiros clientes da Outlux pertencem ao grupo dos “clientes descontraídos, que não vão procurar 500 espaços diferentes, nem têm tempo para fazer todo o trabalho de campo”. A tarefa fica assim delegada na fundadora e única funcionária da empresa de casamentos low cost.
No mercado dos casamentos desde Março, Sandra Gomes distingue dois tipos de cliente: “Alguns são muito descontraídos, pedem-me para tratar de tudo e confiam no meu trabalho. Geralmente não têm tempo ou não se querem preocupar demasiado porque sabem que é impossível estar tudo perfeito”, afirma. “Depois há outro tipo de cliente: são pessoas que dizem que estão relaxadas mas acabam por querer controlar tudo ao pormenor. Não conseguem abdicar de certas coisas, logo caem no mais tradicional dos casamentos com pompa e circunstância.”
Casamento organizado, casal descansado
Para Pascoal Júnior e Larissa Orenga, um português e uma brasileira residentes em Macau, o cenário ideal para o casamento começou por ser uma praia na Tailândia, plano que mudou depois de uma visita a Portugal. “Estávamos no casamento de um amigo no Algarve e ficámos maravilhados. Tínhamos pensado em casar-nos na praia, onde as pessoas pudessem andar na areia e pôr os pés na água, como é comum naquela zona, até que uma amiga que conhecia a Sandra nos falou da empresa que tinha atenção aos custos e à organização de casamentos”, recorda Pascoal, director comercial de uma empresa em Macau.
Sandra Gomes é assertiva quando afirma que quer “oferecer um serviço de qualidade premium e não apenas low cost” e, para o casal luso-brasileiro, a qualidade pesa na hora de dar o nó. Posta de lado a ideia da praia tailandesa, decidiram contactar a Outlux e, depois de uma primeira reunião para troca de ideias, Pascoal encontrou diferenças neste serviço: “Nota-se que ela está concentrada em nós e no modo como queremos casar. Outros organizadores de casamentos com quem falámos nunca nos perguntaram pelos nossos hobbies ou quiseram saber que aspectos que achávamos positivos”.
A distância foi outro factor que entrou em linha de conta. “Como moramos em Macau é uma grande vantagem ter alguém em Portugal a organizar o casamento, porque não podemos estar sempre a fazer viagens para tratar desses assuntos, como um amigo meu que mora em Londres e teve que vir cá umas dez vezes”, conta Pascoal, cujo casamento está marcado para o Verão de 2015. “Queremos ter tudo pronto um ano antes, porque temos convidados a vir do Brasil e de Macau”.
Pascoal, que prefere não revelar o orçamento de que dispõe para o casamento, reconhece que a Outlux lhe irá prestar um “um serviço low cost, mas sem perder de vista o luxo ao tornar certos espaços acessíveis, por exemplo.” As próximas reuniões com a organizadora do casamento poderão acontecer via Skype para discutir e apresentar propostas, em cima da mesa estão espaços como o hotel Sheraton no Algarve. “A ideia é fazer com que os convidados venham passar umas férias a Portugal e que o casamento surja nesse contexto. Há muito a fazer, desde preparar actividades a encontrar alojamento para todos”, afirma Sandra.
Apesar do conceito low cost, Sandra sublinha que “o público-alvo da Outlux são pessoas que até podem gastar algum dinheiro, mas se calhar preferem investir parte no casamento e parte a viajar pelo mundo”. Já lá vai o tempo em que se poupavam 30 mil euros para esbanjar no casamento. Noivos que querem controlar tudo não conseguem abdicar de coisas simples (como trocar convites impressos por electrónicos) e ainda querem gastar o mínimo, dificultam o trabalho de Sandra. Nessas situações, o seu poder de negociação deixa de fazer sentido. Pascoal Júnior remata: “Um bom wedding planner é como um gestor financeiro que vende sonhos reais”.