Plantas silvestres

Cozinhar com pica: três receitas de urtigas

À semelhança da rúcula, acelga e beldroegas, no passado, as urtigas fizeram parte da cozinha tradicional portuguesa. Actualmente, estas plantas silvestres estão a ganhar um novo interesse. Em Portugal, há mesmo a “Capital da Urtiga”. É a partir daí, em Fornos de Algodres, que a Confraria da Urtiga trabalha no sentido de recuperar esta planta para a mesa dos portugueses.

Se lhe disséssemos que há um alimento que sabe bem, é nutritivo, gratuito e que cresce relativamente perto de onde está agora, ficaria interessado? E se acrescentássemos que é fácil de cozinhar e muito versátil, teríamos aberto o seu apetite? Arriscando ser aborrecidos, diríamos ainda que tem mais vitaminas e minerais que os espinafres e os brócolos. No fundo, estamos a mandá-lo para as urtigas.

As urtigas são uma planta bem protegida, mas que existe em abundância na natureza. Por picarem, deixam a sua marca desde tenra idade, sendo frequentemente a primeira planta de que nos lembramos de descobrir. Apesar desta capacidade repelente da urtiga, estas plantas silvestres são um presente para qualquer pessoa que goste de cozinhar com ingredientes locais, frescos e de época.

A única parte da urtiga que se aproveita para a cozinha é a sua folha, uma vez que os caules são fibrosos. O seu sabor é irrefutavelmente verde, entre o espinafre, couve ou brócolo, com um ligeiro efeito de formigar na boca. Sendo rica em vitamina C e ferro, torna-se ainda num alimento que faz bem à saúde. 

Deve-se usar luvas quando se colhe urtigas e logo de imediato separar as folhas dos caules. Depois, para que se possam utilizar, lava-se as folhas e escalda-se rapidamente em água a ferver temperada com sal. Quando escorridas, as folhas tornam-se inofensivas para a pele, podendo daí em diante ser manuseadas e ingeridas sem qualquer problema.

As urtigas são usadas como um vegetal, sendo as suas aplicações culinárias muito semelhantes às dos espinafres. As suas folhas podem ainda ser desidratadas de modo a serem usadas no Inverno e as suas sementes podem ser utilizadas como um complemento crocante aos iogurtes.

Boas novas da Capital da Urtiga

Em Portugal existe mesmo a “Capital da Urtiga”. A vila de Fornos de Algodres, Guarda, soube aproveitar a ligação desta planta à gastronomia portuguesa, decidindo revitalizá-la e recuperá-la. 

Por essa razão, a urtiga foi, mais uma vez, o tema da oitava edição das Jornadas Etnobotânicas que decorreu, no passado fim-de-semana, em Fornos de Algodres. A localidade foi mais uma vez anfitriã de um evento dedicado a esta planta silvestre, organizado pela Confraria Gastronómica da Urtiga que lá está sedeada.

De acordo com Manuel Paraíso, dinamizador do evento e elemento da Confraria Gastronómica da Urtiga, a primeira a surgir no país (2009), o fim-de-semana da urtiga tem por objectivo “promover a urtiga enquanto mais-valia na gastronomia local e nas mais diversas utilizações”. O confrade explica ainda que a planta “já foi comida com regularidade mas a sua utilização para a alimentação caiu em desuso”, garantindo que habitantes do concelho “recordam-se de consumir sopas” feitas à base desta planta selvagem.

O chef espanhol Martín Alvarez, da Escola Superior de Turismo Ourense, autor do livro 40 receitas com urtigas, foi um dos convidados do piquenique onde se trocaram e provaram diferentes pratos de urtigas. Aí foi possível experimentar sopa de urtigas, cerveja de urtigas, pão, paté, molhos e até pastel de nata de urtigas. 

Já imaginou comer borrego assado com molho de urtigas e frutos secos, gratinado de bacalhau com urtigas e raspa de queijo da serra ou mesmo um bolo de urtigas com gelado de baunilha?

As urtigas são saborosas, saudáveis e gratuitas. Experimente estas receitas e confirme-o você mesmo.

Sopa de urtigas

(Retirada do livro infantil Sementes à solta, Fernanda Botelho, editado pela Dinalivro)

4 cebolas
2 folhas de louro
6 batatas médias
2 cenouras
4 chávenas de folhas de urtigas picadas
sal q.b.
3 colheres de azeite
4 colheres de flocos de aveia (opcional)

Preparação

Junta-se a cebola, o azeite e o louro numa panela até alourar. Adiciona-se um litro de água, as batatas e as cenouras descascadas e cortadas. Deixa-se cozer durante 30 minutos.  Colocam-se as folhas de urtigas e deixa-se cozer mais 10 minutos. Para finalizar, tritura-se tudo.

Quiche de cogumelos, espargos e urtigas

Para a massa:
1dl de água
1 casca de limão
Sal q.b.
50g de manteiga
300g de farinha
50g de urtigas em pó

Para o recheio:
Cogumelos laminados previamente salteados em azeite
50g de bacon aos cubos
1 colher de sopa de azeite
Sal e pimenta
Espargos verdes cortados e salteados em azeite
3 ovos
2dl de leite
Noz moscada

Preparação:
Leva-se ao lume a água com a casca de limão e uma pitada de sal e deixa-se levantar fervura. Tira-se do lume, retira-se a casca de limão, junta-se a manteiga e deixa-se derreter. Deita-se a farinha numa tigela e junta-se aí o líquido. Mexe-se até obter uma massa que se solte das paredes da tigela. Muda-se a massa para a bancada da cozinha e continua-se a amassar até ficar lisa e elástica. Deixa-se descansar enquanto se prepara o recheio.

Leva-se um tacho ao lume com o azeite e salteia-se o bacon com os cogumelos e os espargos. Tempera-se com pimenta. Liga-se o forno a 180ºC. Cobre-se a tarteira com a massa. Junta-se o recheio. Parte-se os ovos e mistura-se com o leite numa tijela. Tempera-se com um pouco de sal, pimenta e noz moscada.Cobre-se a tarteira com o preparado e leva-se a quiche ao forno durante 20 a 25 minutos.

Bolo de urtigas

180g de urtigas (escaldadas e trituradas)
200g de açúcar amarelo
250g de farinha
1 colher de sopa de fermento
100g de manteiga
5 ovos
Raspa de 1 limão e de 1 laranja

Preparação:
Juntar a manteiga com o açúcar. Deitar as gemas e mexer bem. Peneirar a farinha com o fermento e envolver. Juntar as urtigas ao preparado anterior e por fim a raspa de limão e de laranja.Bater as claras em castelo e envolver sem mexer para não perderem o volume. Levar ao forno previamente aquecido a 180.C. Para os mais gulosos, poderá ser feita uma calda de chocolate com raspa de limão.