À tarde, num almoço com os jornalistas, o director executivo do programa Texbrasil, focado na exportação da moda brasileira, já dizia ao PÚBLICO que a verdadeira essência do estilo de vida brasileiro e decorrente moda é o seu multiculturalismo. Rafael Cervone não estaria a pensar nas mulheres, muitas delas loiras, uma minoria negras, algumas morenas de olhos claros, que encheram a passerelle do Fashion Rio Verão 2012-13 para mostrar as propostas da conhecida (e comercializada em Portugal) Cia. Marítima. Mas que foram elas a encher a passerelle, ofuscando por vezes aquilo que envergavam, foram. E elas também são o Brasil multicultural.

Nos anos 1990, as supermodelos reinavam e o problema, depois do zénite do fenómeno, foi que se tornaram mais importantes, mais visíveis do que a própria roupa que eram pagas para mostrar. Saberíamos melhor que víamos Claudia Schiffer do que uma peça da Guess. Seguiu-se-lhes um exército pálido de caras eslavas, brandas e muitos anos 2000. Domínio só quebrado por uma tal de Gisele Bundchen. E companhia morena, de Alessandra Ambrosio à mais quente e actual Izabel Goulart, corpo Victoria’s Secret. Ora no desfile da Cia. Marítima, e no desfile da Salinas, duas conhecidas marcas de biquínis de média gama, as suas herdeiras e uma sua antepassada mostraram a sua raça - um fruto multicultural, sim, miscigenado e muito escolhido do cesto que parece ser o Rio Grande do Sul e regiões adjacentes para onde migraram muitos alemães e nórdicos, produtores de algumas das maiores, melhores e mais louras modelos da actualidade.

Nos bastidores da Cia. Marítima, entre triquínis e estampados havaianos que podiam passar pelo tropicalismo brasileiro, túnicas e sapatos de salto em amarelos e rosas penduravam-se ao lado dos retratos das modelos que os iam usar. Nem uma delas é carioca, muito poucas vivem sequer no Brasil. “São todas do sul [do Brasil] e vivem em Nova Iorque”, dizem-nos. Aline Weber, Alícia Kuczman, a veterana Shirley Malman ou Carol Francischini juntaram-se à popular Goulart para encher os olhos e as ideias da imprensa local, que chegou a notar que no desfile anterior, da aniversariante Salinas (30 anos), apesar das muitas opções de moda praia (caicai, push up, com folhos, recortes ou decotes profundos), havia cores mais mornas mas que ainda assim se adequariam ao Brasil.

Porque apesar de ambas as marcas estarem presentes no mercado internacional, muito antes do marketing que vende a ideia do “lifestyle brasileiro” e da “moda praia”, elas são pensadas como etiquetas brasileiras, para brasileiros, em praias e costas brasileiras. Ainda que a Salinas tenha homenageado o inefável multiculturalismo, dos banhistas japoneses aos índios.

No segundo dia de Fashion Rio, sobressaíram ainda a marca pernambucana Filhas de Gaia e a carioca Totem ainda no sector moda praia, mas sem precisar de se despir - a Totem mostrou uma série de propostas com os inconfundíveis estampados da marca, com potencial comercial e, ao mesmo tempo, mais sofisticadas. Afinal, como disse a designer Yamê Reis à imprensa, a ideia é fazer roupa para quem, como eles, viaja pelo mundo à procura de calor e tempo quente.

O Fashion Rio decorre até sábado, dia 26, no Rio de Janeiro.

O PÚBLICO viajou a convite da Texbrasil (Programa de Exportações da Indústria de Moda Brasileira)