Os heróis do ano 2011 foram os que protestam, que se amotinam - consagrados na capa da Time e em várias revoluções por minuto mundo fora. Ontem, a colecção de Ricardo Dourado na 38.ª ModaLisboa, o único designer de moda na lista da revista Wallpaper que comemorava Portugal, era-lhes dedicada.

A colecção, intitulada Rioters, produziu imagens fortes, negras, cinzentas, com vários volumes urbanos e com injecções de azul klein. No fundo, uma súmula do melhor que se fez na moda portuguesa a pensar no próximo Inverno.

O mundo lá fora infiltra-se na ModaLisboa. São as inspirações, a glorificar Portugal numa altura em que o país, visto de fora, é coberto de negrume - Luís Buchinho foi à rua, mais precisamente à calçada portuguesa, Ricardo Preto bebeu da "luz atlântica" para uma colecção elegante, Miguel Vieira cantou-nos o fado e até Os Burgueses, a contar a história d'O Principezinho, nos deram música em português.

E depois há o tema "luto" - de luta ou de perda - de Filipe Faísca, que encerrou a noite e a 38ª ModaLisboa, e os contrastes: Pedro Pedro a pensar a roupa para o trabalho vs. a alta-costura, Alexandra Moura a oscilar entre o amargo e o doce.

A ModaLisboa é uma janela para as culturas que cada vez mais se misturam em Lisboa, Portugal, planeta. Como os cidadãos do mundo, nómadas, de Ricardo Andrez; ou os jovens urbanos destroy dos Marques'Almeida; é a força do LAB, plataforma de pequenas grandes marcas; é o clássico de Nuno Baltazar; e é uma audiência cada vez mais fashion.

Há cinco anos, o blogger Yvan Rodic, o influente suíço de The Face Hunter, veio pela primeira vez à ModaLisboa e desiludiu-se com aquilo que, no futebol, se chamaria "a moldura humana". "As pessoas não estão a mostrar muita personalidade no seu estilo, é muito, muito conformista", disse na altura ao PÚBLICO sobre as pessoas que gostaria de fotografar para uma então disciplina emergente, a fotografia de street style. Agora, este profissional da Internet que se descreve como "uma nova raça de viajante, eternamente em missão para encontrar as mais recentes tendências globais", voltou e já tirou muito mais fotografias.

Veio de Guimarães, Capital Europeia da Cultura, e em Lisboa confirma aquilo que há um par de anos se vê cada vez mais à margem dos desfiles: pessoas que se vestem para dizer qualquer coisa. "A cultura web trouxe muita inspiração, especialmente para a geração mais jovem", explica o caça-tendências. "Há uma estética internacional" na Rua do Arsenal e Praça do Município, transformadas pelo sol na sala de estar não oficial da ModaLisboa.

A edição Outono/Inverno 2012-3 deu três salas aos criadores e eles pensaram em coisas práticas: os White Tent, na sua busca pela sustentabilidade da moda jovem minimal; a marca SayMyName; e o hóquei a reinjectar força no trabalho de Maria Gambina. Os homens de Nuno Gama queriam ser os seus próprios deuses, mas com os pés na Terra. E falando em tendências, essas que só a rua pode depois confirmar, muito preto, cinza e azulão, elementos anos 1990 e volumes em sobreposição.

A próxima ModaLisboa realiza-se em Outubro e o presidente da Câmara de Lisboa, António Costa, pretende renovar em 2013 o protocolo que fixa o evento à capital.