A geração Europa tem mais olho para o negócio
A 38.ª edição da ModaLisboa começa hoje na Praça do Município. Perdeu veteranos para a crise, mas, entre a Internet e o espaço Schengen, os jovens criadores exportam cada vez mais.
“Ser europeu”, “geração Erasmus”, “salto”, “global” e “negócio”. A primeira geração da moda portuguesa já nascida no espaço comunitário estuda dentro e fora do país e, em tempos de recessão, faz o que os grandes demoraram ou tentam ainda conseguir: exportar.
Na universidade, os colegas de Pedro Eleutério e Mia Lourenço eram “os conceptualistas”; eles – hoje a dupla Os Burgueses – eram “os comerciais”. Esta velha divisão já não faz sentido para as seis micromarcas que integram a plataforma LAB da 38.ª ModaLisboa. “Há muitos designers que começam no vazio comercial. Nós pensámos primeiro no ponto de vista comercial”, explica Paulo Almeida, da dupla Marques’Almeida que, com Os Burgueses, SAYMYNAME, Daniel Dinis, Ricardo Andrez e V!TOR são LAB que investem em tempo de crise.
A mesma crise que causou pelo menos duas baixas no evento: a dupla Alves/Gonçalves, focada nas vendas e encomendas, e Aleksandar Protic, que está a apostar na sua nova loja. Já Ana Salazar, a primeira criadora portuguesa a perder a marca que criou, está fora na sequência de um litígio com João Barbosa, hoje detentor da Ana Salazar Lda.
“Era inevitável”, assume Eduarda Abbondanza, directora da Associação ModaLisboa, face às ausências. Mas, em Outubro de 2011, viu no elenco do LAB “um grupo com os elementos de uma nova geração, como a primeira da indústria da moda em Portugal”, que incluía as duplas Abbondanza/Matos Ribeiro e Alves/Gonçalves. “Têm a formação, os mestrados, os MBA e o Erasmus. Neles, a ideia começa pela criação de uma marca, quando no passado a ideia era ‘fazer roupa’.”
Os Burgueses têm uma fórmula: moda de “autor comercial”. Os LAB têm idades entre os 25 e os 37 anos, vivem em Portugal, mas também fora, e todos têm pontos de venda pelo mundo. Não são milionários, fazem pequenas colecções de produção limitada. Mas Catarina Sequeira, a mais velha, que trabalhou com Luís Buchinho e tem a SAYMYNAME em cerca de 20 lojas, do Porto a Bari, passando por Hong Kong, Tóquio e Singapura. Mesmo assim, tem reservas em relação à ideia de uma geração já vencedora. Criou a SAYMYNAME há quatro anos com a “principal preocupação de uma colecção comercializável”; procurou um agente, fez “feiras lá fora”, e um showroom asiático começou a representá-la. A velocidade online e viver num espaço Schengen à boleia de voos low cost favorece a criação, “mas há milhares de marcas no mundo. Não basta o Facebook nem as feiras, é preciso um grande investimento financeiro”. E na escola não aprendem gestão. “Aprendemos a ser designers para outras marcas”, acrescenta Mia Lourenço.
Ricardo Dourado, que se estreou em 2004 no LAB e hoje está na passerelle principal, lembra: “Ensinaram-me que entrava em concursos, ia à semana de moda, abria o meu atelier e que aos 30/40 anos tinha a minha loja. Percebi que não tinha de ir por aí.” Em 2011, retirou-se das lojas onde estava à consignação; aposta em lojas temporárias. Desistiu de ter agente em Londres (incomportável) – como muitos, acumula a criação com um day job: a indústria têxtil.
Já Vítor Bastos criou a Carbon Copy, subcontratando operários despedidos da cintura têxtil do Porto para responder a encomendas, sobretudo berlinenses. Nasceu em São Paulo, fixou-se no Porto e trabalhou em Berlim. “Não acredito que esteja em lugar algum. Às vezes, as pessoas com quem estou na Internet infl uenciam mais o meu trabalho e a minha vida.” Aos 26 anos, tem a sua marca V!TOR. Sabe que “em Portugal há muitas marcas que explodem e desaparecem”. A sua cautela transpira para o vizinho portuense Ricardo Andrez, que fará a sua 5.ª Moda- Lisboa. Tem 31 anos e é nas vendas pelo Facebook que concretiza a sua “linguagem global”. “Sou um jovem europeu.”