Colaboração
H&M+Marni é como ter Lego no roupeiro
A Marni, marca italiana de culto, acredita em guarda-roupas modulares em que tudo joga entre si. Agora, a H&M quer apresentá-la aos consumidores mais novos. Para o conseguir, este fim-de-semana houve festa em Los Angeles com muitas celebridades e it girls.
A colaboração 2012 é dirigida - Versace é um nome que mesmo os que não consomem informação sobre moda conhecem; a associação à Jimmy Choo colheu do sucesso da série Sexo e a Cidade, que pôs num pedestal os sapatos e acessórios da marca britânica. E agora, Marni?
A Marni não é uma casa de moda luxuriante (Versace) nem tem uma figura de proa que é um ícone pop (Karl Lagerfeld) e não faz parte do léxico das massas. É mais Comme des Garçons (uma das convidadas pela H&M e talvez uma das menos bem sucedidas — a marca não fornece dados de vendas) do que Roberto Cavalli — outra parceria passada. A Marni é culto, como admite o próprio gigante sueco da fast fashion. E a colecção parece então ser dirigida a quem pegue numa peça pelo seu impacto de cor e padrões e a quem, simplesmente, faça parte dos entendidos do fã clube da Marni.
Fundada em 1994 pela suíça Consuelo Castiglioni, fez um percurso que a leva do sector das peles (a especialidade da marca do marido de Consuelo) a uma etiqueta sinónimo de estampados e cortes à italiana, geométricos, repletos de códigos que permitem aos entendidos identificar, de imediato, uma peça sua nas ruas. Numa curta entrevista por email, Consuelo Castiglioni não consegue fugir à resposta habitual à pergunta sobre as vantagens de se associar à H&M, para além da oportunidade de chegar ao mercado de massas: “Chegar a um público mais alargado.” Mas lá acrescenta que lhe interessa, “em particular, [chegar] às gerações mais jovens: como designer, é muito inspirador”.
Os consumidores mais jovens e os restantes podem, a partir de 8 de Março, ir testar a ideia — haverá filas? Preços em tempo de troika: a colecção é masculina e feminina, com acessórios para ambos os géneros, e com preços que vão dos 9,95 aos 149 euros por um par de meias ou uma parka, respectivamente. Independentemente das massas, um grupo estará lá: as marnistas, à falta de melhor nome.
Identificam-se nos eventos de moda mundiais, nas semanas de moda, a correr com os seus estampados impecavelmente coordenados apesar de terem sido separados à nascença — há as fãs de Balmain, silhuetas esguias e ar ligeiramente rock‘n’roll, há as leais da Chanel, com as suas it bags e o juramento de bandeira feito sob a égide do Kaiser Lagerfeld, e depois há as mulheres e homens Marni.
A Marni é mais geometria com um toque vintage e artesanal para o trabalho, enquanto a sua predecessora Versace é mais estampados barrocos, ostentação e ir à festa. Portanto, e para perceber o que vai estar nas lojas em mais um momento de ponte entre a moda de alta gama e os preços acessíveis, as roupas Marni+H&M são uma súmula do que é a marca italiana: “A ideia foi criar um compêndio do meu estilo: peguei nalgumas peças-chave e retrabalhei-as”, tudo com os noviços Marni em mente.
Um roupeiro modular
Milanesa, a marca diz ter transmitido para a colecção H&M a mesma ideia que está na base das suas colecções principais e que permite criar “um guarda-roupa Marni”. Perguntámos a Castiglioni o que é um roupeiro cheio de Marni. “Um guarda-roupa Marni é sempre modular: tudo dá com tudo, de acordo com o gosto individual. As peças essenciais são vestidos, malhas, casacos senhoris e jóias para mulher; para o homem diria que são parkas e casacos, camisas e um fato, talvez com calções.” Não é física quântica da moda, portanto. O que muda tudo é mesmo gostar de “fazer experiências com texturas, cores e formas”, “uma celebração de instinto e personalidade”, como explica ao PÚBLICO.
Depois de Karl Lagerfeld, Stella McCartney, Lanvin, Viktor&Rolf ou Sonia Rykiel, Marni. E convidámos a directora criativa de uma casa de moda que não faz licenciamento de produtos a comentar o que é que, nestes anos de trabalho, considera mais marcante no sector da moda. “Tornou-se tudo tão rápido, talvez demasiado rápido. Criamos colecções a uma alta velocidade constante. É como o sistema funciona hoje, mas penso que abrandar um pouco seria óptimo.”
Artigo publicado na revista Pública de 19 de Fevereiro