• Ilustração de Daniel Lima & Cátia Serrão
  • Ilustração de Valerio Vidali
  • Ilustração de Bernardo Carvalho
  • Ilustração de André Letria
  • Ilustração de Simone Rea
  • Ilustração de Nina Wehrle e Evelyne Laube
  • Ilustração de André da loba

Ilustrarte 2012

Os melhores desenhos para crianças

Chegam de vários países e submetem-se à apreciação de um júri internacional. São originais de ilustrações para crianças e vão estar no Museu da Electricidade, em Lisboa, a partir de quinta-feira. Mas só os melhores. Cinquenta escolhas entre mais de 1500 candidaturas.

O que é uma boa ilustração para crianças? "Deve ser criativa, original, inventiva e estimular a imaginação... de crianças e adultos", responde por email Ju Godinho, comissária da Ilustrarte, Bienal Internacional de Ilustração para a Infância. Qualidades identificadas nas 150 imagens (três por cada ilustrador) que poderão ser vistas a partir de dia 12 de Janeiro no Museu da Electricidade, em Lisboa.

De dois em dois anos, expõe-se em Portugal o que de melhor se faz por aí na ilustração para a infância. É assim desde 2003, data da primeira edição da Ilustrarte. "Trata-se de um concurso internacional. Pedimos a ilustradores de todo o mundo que nos enviem três trabalhos originais publicados nos últimos dois anos ou inéditos. Depois, são sujeitos a um júri internacional de cinco pessoas reconhecidas, que seleccionam 50 candidaturas para uma exposição e atribuem um primeiro prémio e duas menções especiais de entre essas 50", explica Eduardo Filipe, também comissário da bienal. Para esta edição, receberam desenhos de 1585 ilustradores de 65 países. Portugal contribuiu com 30% das candidaturas.

A forte adesão dos ilustradores e também dos diferentes públicos a este universo resulta, segundo Eduardo Filipe, "do fascínio que toda a gente tem por uma história bem contada". No caso, por imagens. "O público percebe que, nas artes plásticas ditas aplicadas, lhe está a ser contada uma história e recebe-a com muito agrado. E os ilustradores, como gostam de contar histórias por imagens, cativam as pessoas de uma forma impressionante."

O vencedor e os seleccionados foram divulgados no início de Novembro de 2011. O Prémio Ilustrarte coube ao italiano Valerio Vidali e as duas menções especiais aos trabalhos do também italiano Simone Rea e da dupla de ilustradoras suíças Nina Wehrle e Evelyn Laube.

Para Ju Godinho, qualquer dos autores das menções especiais também poderia ser vencedor. "As decisões do júri não são absolutas. São o resultado da opinião de cinco pessoas, num dado momento, no fim de um determinado percurso."

Martin Jarrie (ilustrador e pintor francês), Isidro Ferrer (ilustrador e designer espanhol), Isabelle Vandenabeele (ilustradora belga, vencedora da Ilustrarte anterior), Paolo Canton (editor italiano) e João Paulo Cotrim (escritor e jornalista português) foram o júri desta 5.ª edição.

De entre os 50 escolhidos para a exposição, estão cinco ilustradores portugueses, dois com trabalho conjunto: Daniel Lima & Cátia Serrão, André Letria, Bernardo Carvalho e André da Loba.

O boom português

Perante a questão sobre se será mais fácil ver boa ilustração do que ver artes plásticas nos seus exemplos mais herméticos, Eduardo Filipe conclui: "Na ilustração, encontra-se mais facilmente o contexto. Há uma contextualização quase imediata que se sobrepõe às questões estéticas com que a pessoa possa estar menos à vontade. Percebe-se logo qualquer coisa. Como reconhecer o Capuchinho Vermelho, por mais deformado que apareça. Isso abre logo uma porta de entendimento."

Já para desfrutar das artes plásticas contemporâneas, "é preciso estar muito por dentro para decifrar alguns códigos, a fruição pura, simples e livre está um bocadinho vedada ao público não iniciado".

Os comissários notam diferenças significativas no âmbito da ilustração em Portugal: "Há uma evolução nítida, houve um boom da ilustração e do gosto pelos bons livros ilustrados, percebe-se um determinado cunho de qualidade dos ilustradores, dos editores, dos pequenos editores e também mais exigência do público."

nível internacional, apercebem-se de que a tendência é para abandonar uma certa exuberância e profusão de elementos gráficos e montagens que caracterizavam esta arte há alguns anos, naquilo a que o comissário chama "ilustrar à la Rouerge", em resultado da influência da editora francesa criada por Olivier Douzou.

"Hoje, a tendência é para uma ilustração mais depurada, clean, com o mínimo de meios. Talvez seja até um bocadinho mais conceptual. Nas técnicas, o digital está a assumir-se de forma inequívoca. E de várias maneiras. Desde os que fazem a ilustração digital logo de raiz, até aos que a iniciam "analogicamente", com tintas, pincéis e recortes, e depois digitalizam e manipulam a imagem no computador. Há também os que usam o computador a imitar ilustração não digital, e até é difícil reconhecer que não foi feito com pincel", diz Eduardo Filipe.

Na moda está também "a gravura, a monotipia, um certo revivalismo da ilustração dos anos 50, 60, com cores primárias e poucas".

Já durante a apresentação à imprensa dos trabalhos seleccionados, Ju Godinho tinha referido à Pública que havia muitas obras de gravura a concurso. E também o recurso, "até este ano pouco habitual", a costura (com pano e linha).

Lançar ilustradores

A Ilustrarte, segundo Eduardo Filipe, tem contribuído para lançar alguns ilustradores, que após a sua participação são contactados por editoras interessadas em contratá-los. Como exemplos, refere o caso da ilustradora polaca Gabriela Cichowska, que o informou que após constar do catálogo foi convidada para ilustrar dois livros, e o de Joanna Concejo, "que é hoje a coqueluche da ilustração internacional". E lembra que, quando foi seleccionada para a primeira bienal, "com umas imagens de umas alcachofras lindíssimas e uns cardos junto aos olhos de uma menina", ninguém a conhecia. "Para nós, é muito gratificante. Embora não possa estabelecer uma relação directa de causa-efeito, estou certo de que a Ilustrarte teve a sua quota-parte de responsabilidade ao mostrar aqueles desenhos que toda a gente adorou."

Tal como na edição anterior, a bienal tem o patrocínio exclusivo da Fundação EDP, o catálogo está a cargo do Silvadesigners e conta com os arquitectos Pedro Cabrita e Isabel Dinis para a concepção do espaço da exposição. Depois de, em 2010, as ilustrações terem sido apresentadas ao público em malas de pintura, este ano estarão em mesas-de-cabeceira gigantes.

"Partiram da ideia dos livros de cabeceira, criando uma visão alterada das mesas-de-cabeceira. Assim, iremos ter 50 dessas mesas com ilustrações dentro das gavetas. Uma peça fora de escala, com um candeeiro e um copo. É um convite para que abram as gavetas, onde encontrarão as ilustrações do livro que estará sobre a mesa. Há uma magia no meio disto tudo que acredito que as pessoas vão gostar muito", desvenda com entusiasmo.

"Entusiasmo" é também a palavra indicada quando se refere ao Museu da Electricidade, "um espaço magnífico". Sendo professor de Engenharia Química no Instituto Superior Técnico, diz divertido: "Eu poderia perfeitamente dar ali as minhas aulas de termodinâmica. Gostamos muito do espaço (a Ju também é professora de Química) e fomos muito bem acolhidos por todas as equipas do museu. Vê-se que gostam de ter ali a exposição. Há um interesse genuíno da parte do administrador Sérgio Figueiredo, mas sobretudo do director do museu, Eduardo Moura." As primeiras três edições decorreram no Barreiro, no Auditório Municipal Augusto Cabrita.

Em paralelo, o museu acolhe uma retrospectiva de Martin Jarrie, com 120 obras (pintura e ilustração). O autor colabora com títulos como o Libération, o Le Monde, a New Yorker e a Bloomberg, já assinou 30 livros individualmente e 13 em co-autoria. Também uma mostra sobre os livros do escritor António Torrado pode ser visitada no âmbito da Ilustrarte. Uma parceria com a Vista Alegre irá resultar na criação de um conjunto de chávenas de café com ilustrações dos vencedores das várias edições. Depois, há o projecto de se diversificar com outras peças e ilustradores.

A bienal pode ser visitada de terça a domingo, das 10h às 18h, termina a 8 de Abril e seguepara a Academia Real de Belas Artes de Ghent, na Bélgica.

Texto originalmente publicado na revista Pública, de 8 de Janeiro