Fashion's Night Out
A noite em que se torna membro do clube
Entrar pela primeira vez naquelas lojas que intimidam. Festejar na rua noite dentro. A Fashion's Night Out volta esta quinta-feira a Lisboa. O Príncipe Real junta-se à festa da moda, que quer incentivar o consumo, mas com inteligência.
Centenas de pessoas nas ruas, vestidas a preceito, copos na mão ou sacos no braço, fotografias em catadupa. Uma festa de rua, sim, com temática moda. Algo como os santos populares, dizia o PÚBLICO na reportagem da Fashion's Night Out (FNO) de 2010. Qualquer coisa entre o Dia das Bruxas e as festas de Ano Novo, dizia uma nova-iorquina ao New York Times sobre a mesma noite, na sua cidade. Quinta-feira, dia 8, a segunda FNO portuguesa sai às ruas. Paulo Macedo, director de moda da Vogue Portugal, revista que organiza o evento em parceria com a Câmara de Lisboa, é directo: "A FNO vem angariar membros para este clube." O clube moda 2011, qualquer coisa como isto, em ano de troika e de crise, sim, mas de incentivo ao comércio de rua do sector.
"A crise não é sinónimo de não consumir: é consumir com cabeça", explica Paulo Macedo, corroborado pela directora da Vogue, Paula Mateus, ao frisar que o contexto de forte contenção financeira português foi discutido antes de pôr em marcha mais uma noite de horários alargados, festas, exposições, performances e dinamização do comércio de moda em Lisboa. "A FNO oferece oportunidades [descontos, vendas de stock, ofertas] e permite pensar" no que se compra, explica Paulo Macedo. E, ao mesmo tempo, de lembrar que "é importante para a nossa economia que a Prada abra, que a Gucci abra. Cria-se um núcleo de lojas boas, uma avenida dinamizada que existe em todo o lado no sistema capitalista em que nos incluímos. Criam-se postos de trabalho, há pessoas que consomem, o dinheiro circula e cria-se até um turismo específico". A ideia de clube tem muito a ver com a diversidade de espaços abertos até às 23h no dia 8: não é só o pronto-a-vestir de massas, mas também as marcas de luxo e alta gama.
"Lojas como a Prada, a Burberry... intimidam", nota Paulo Macedo. Em 2010 "as pessoas sentiram-se integradas e bem recebidas. Nesta noite estão todos convidados, a porta está aberta para todos", sublinha Paula Mateus, definindo: "Este evento tem dois objectivos essenciais: dinamizar o comércio, fazer rodar esta economia e fomentar o consumo com oportunidades como descontos especiais; e é uma noite de divertimento, uma festa."
A FNO realiza-se em 18 países onde há o título Vogue e em 2011 em Lisboa, além da Avenida da Liberdade, Chiado e Rua Castilho, junta-se o novo circuito de espaços recentemente abertos do Príncipe Real, dos bazares às jóias passando pela moda de autor, com autocarro de serviço especial para percorrer todas as artérias fashion da cidade.
Nuno Baltazar monta uma pop up store nas Galerias Garrett 60 na Rua Garrett, a dupla Alves/ Gonçalves estará numa loja especial no Bairro Alto Hotel, os Storytailors são anfitriões de uma performance de burlesco, as capas icónicas da Vogue mostram-se na Garrett 60. Há cocktails, DJ, buffets à la Nova Iorque, montras vivas e ofertas (mediante outras compras) de malas ou sacos exclusivos em perto de 140 lojas em que já entrou certamente e noutras em que nunca se aventurou. Estes circuitos de compras fazem "parte da construção da imagem de uma cidade europeia como Lisboa", diz Paulo Macedo.
A mãe de todas as festas
Tudo isto é obra da senhora número 69 na lista das mulheres mais influentes da Forbes: Anna Wintour, o eterno diabo que veste Prada ao leme da poderosa Vogue americana, que em 2009 lançou a ideia da Fashion's Night Out. A editora, que assim mostra porque é poderosa ao transbordar as suas funções, uniu 18 países e milhares de lojas (só em Nova Iorque são mais de mil) numa celebração da moda, mas sobretudo como incentivo ao consumo. O ano era 2008. O som era de crash - a falência do Lehman Brothers e o rebentar da bolha das subprime puseram as ruas de Nova Iorque em saldos quase permanentes e muitas pequenas lojas fecharam. A resposta do sector, em articulação com a autarquia, foi a festa FNO, que reuniu logo em 2009 os criadores mais conhecidos e artistas de várias áreas com os seus públicos, numa noite de lojas e promoções especiais. Em 2010 a Vogue Portugal juntou-se à celebração.
Mas quanto vale a FNO? O orçamento para montar esta operação não é divulgado e no ano passado em Nova Iorque, sem que nunca sejam avançados números, sabe-se que aumentou o tráfego de clientes nas lojas mas não necessariamente o volume de vendas. Os lojistas falavam em "investimento" e "construção da imagem da marca" ao permitir o contacto com potenciais clientes. No caso português, também sem quantificar, Paula Mateus afirma que muitas lojas venderam mais. "Tenho o feedback de 2010 de quase todos os países e nem todos dizem que foi uma noite de grandes vendas. Mas a maioria das lojas em Portugal disse que vendeu imenso nessa noite e foi dos poucos países em que isso aconteceu." O director de moda completa: trata-se de "investir em futuros clientes. Os portugueses são fiéis".