Série cinco bloggers, cinco estilos
Allure Urbano, o fenómeno Warhol
Os blogues de moda apareceram na primeira metade da década passada, conhecendo em Portugal um boom há cerca de dois anos. Alguns não resistiram. Outros têm surgido pela mão de autores cada vez mais novos. No ano passado, a blogger Tavi Gevinson, uma adolescente norte-americana agora com 15 anos, causou sensação depois de o criador de moda Karl Lagerfeld e da editora da Vogue, Anna Wintour, lhe gabarem o Style Rookie. Em Portugal, há bloggers emergentes sub-20 a tactear este universo há pouco tempo. É o caso de Catarina Ferreira Pinto.
Com 18 anos, Catarina Pinto assina as entradas do Allure Urbano, um dos mais recentes blogues de moda de origem nacional. Em Abril, publicou o primeiro post, num período em que andava a desunhar-se com trabalhos exigentes da licenciatura em Arquitectura no Instituto Superior Técnico. Estreava-se, então, na blogosfera a comentar uma colecção da marca TSE Cashmere, destacando uma aplicação tecnológica a tecidos. Catarina dava como exemplo uma camisola digitalmente impressa que evocava uma pintura à mão.
Poucos dias depois, estava a dar nas vistas com um sexto lugar na segunda ronda de um concurso da revista Elle, via Facebook, patrocinado pela Nokia. O prémio era nada mais, nada menos do que tornar-se “The Next Style Correspondent” [o nome da competição] da revista. Muitos desconhecidos, mais do que amigos e os amigos de amigos, votaram nela. Na terceira e última fase, os júris não elegeram a única portuguesa que conseguiu atingir os lugares cimeiros do concurso.
No decorrer da corrida, um press release circulava pelas redacções a dar conta do sucesso espontâneo e imprevisto do blogue de Catarina Pinto numa competição internacional. No comunicado à imprensa podia ler-se que “a ideia [de criar o blogue] era encontrar histórias no mundo da moda que a obrigassem a um trabalho de pesquisa e se convertessem em verdadeira informação para os leitores”.
Ao Life&Style, Catarina Pinto conta que o número de votações a surpreendeu e lhe deu um capital de confiança suficiente para regressar aos concursos. O último foi o Westrags Bloguers Contest 2011, cuja candidatura foi aceite, mesmo sem obedecer a uma das regras: o blogue não cumpria o requisito da longevidade.
“Agarrar oportunidades” como estes concursos online é um desígnio para Catarina. O objectivo final, afirma meio a sério, meio a brincar, é tornar-se “directora executiva da Vogue”. Catarina conta que o blogue – com 500, 600 visitas diárias - é um ponto de partida e não um ponto final. A sua ambição é escrever editoriais numa revista de moda. Para já, vai dando opiniões sobre marcas que lhe vão enviando press releases e produtos para promover, mas avisa que a filtragem é imprescindível, porque “nem tudo [o que lhe chega às mãos] interessa”.
Catarina Pinto não teme a auto-exposição no blogue - que passou a ter recentemente como domínio a Sapo e o apoio do Centro Comercial Alegro. É a autora do Allure Urbano que dá a cara a uma série de looks exibida no blogue, contrastantes com a imagem do uniforme que usava até ao ano passado no colégio católico Mira-Rio, de segunda a sexta-feira, e nos escuteiros, ao sábado. “Achei que um blogue seria uma boa maneira de divulgar as coisas que eu gosto de ver, e que acho que me ficam bem, e ganhei coragem [para aparecer]”.
O apoio popular que teve no concurso levou Catarina Pinto a parar para pensar sobre o que pretende fazer do blogue e no mundo da moda. “Os meus pais não são grandes fãs da ideia [de enveredar por esta via] e têm medo que me desvie”, confessa. Entre a torrente das aspirações e o travão do realismo, Catarina espera “ver sempre as coisas com uma perspectiva crítica, estar atenta aos problemas da sociedade e seguir o caminho certo em termos morais e éticos”.
Catarina Pinto tem como referências – e o seu blogue espelha-o – a arquitectura (publicou um post sobre sapatos que “são verdadeiras esculturas arquitectónicas”), a avó (o seu ícone de estilo, quem mais lhe ensina sobre moda, alega), sites como The Cherry Blossom Girl, as pessoas que vai apreciando na rua (“era capaz de passar horas no Chiado a olhar para as pessoas tão diferentes que ali circulam”), ou o próprio Alfaiate Lisboeta, de quem é “fã” assumida. Foi convidada recentemente para escrever num site internacional “para quem gosta de moda”, o Fashion Police.