Enric Vives-Rubio

Ioga ao domicílio

Sábado de manhã, chão da sala de estar. Depois de um sumo de laranja fresco, o instrutor de ioga põe uma música de relaxamento a tocar para dar início à aula. Sem ser preciso enfrentar o trânsito, sem stress por causa de atrasos e horários, o ioga moderno toca à campainha e vem até sua casa à hora que lhe der mais jeito. 

“Vamos começar por trabalhar a respiração e concentrarmo-nos nela. Inspiramos suave e profundamente”, diz o instrutor Bruno Reis apontando o caminho para o ar que passa alternadamente pelo abdómen, costelas e peito, e vice-versa de saída. Quando o corpo está cansado de respirar, é o sinal para avançar com os exercícios físicos – alongamentos e outros mais direccionados para a tonificação muscular. Para alguém que experimenta o ioga pela primeira vez, as bases ficam desde logo assentes: a respiração, o equilíbrio e a concentração.

Bruno Reis estava atento. Corrigia a postura das costas com as mãos e as palavras: “Agora a coluna tem de estar direita, senão podes magoar-te.” Aos poucos os limites físicos eram revelados e respeitados para salvaguardar o corpo de lesões. Os exercícios são feitos em simultâneo por ambos num espaço confortável e inesperado: a sala de estar.

Segundo os mestres Jorge Veiga e Castro, da Confederação Portuguesa de Ioga, e Beatriz Katchi, presidente da Associação de Ioga Integral de Portugal, a práctica tem conquistado cada vez mais adeptos. Uma tendência que encontra explicação no facto de as pessoas procurarem hábitos de vida mais saudáveis e de a aparência saudável ser cada vez mais associada ao bem-estar psíquico e emocional, sendo que o ioga propõe ser uma forma de os atingir.

No caso do ioga ao domicílio, os alunos gozam de atenção individual e à medida de Bruno Reis: “A aula é adaptada ao perfil da pessoa e as técnicas são doseadas de aula para aula.” Já as aulas no áshrama, o local de prática, são feitas em grupo. Ou seja, os alunos não terão a atenção dos professores só para si. Porém, na opinão de Veiga e Castro, professor de ioga há 31 anos, "ter a aula em conjunto com outros alunos contribui para a criação de laços e para a entreajuda entre todos". Também por isso o ambiente possui uma “vibração diferente”.

Beatriz Katchi ensina ioga há cerca de 26 anos e não estranha a nova tendência do personal trainer de ioga, embora partilhe da opinião de Veiga e Castro: “Na sala de prática o ambiente é propício a um maior recolhimento. Já em casa, o espaço familiar pode causar distracções.” Porém, encontra uma vertente positiva: “Se uma pessoa se desligar do seu habitat e criar aí uma rotina de interiorização, consegue um espaço de recolhimento em casa.”

Por outro lado, “sair de casa para praticar ioga e apanhar trânsito no caminho para lá e para cá aumenta o stress”, e é uma das razões que Reis aponta como uma das muitas que levam as pessoas a recorrer aos seus serviços sendo que a falta de tempo, a comodidade e a preguiça são as principais. No entanto, quando os alunos pagam as aulas com o personal trainer com regularidade mensal ou anual, é quase impossível ceder à preguiça: “Há quem se esqueça de que ia ter aula comigo, mas quando chego a casa das pessoas elas não têm escapatória. Acabam por ter a aula e depois sentem-se melhor.”

Para o instrutor ao domicílio, o treino físico é o que mais se evidencia no ioga. Isso, porém, não lhe retira o treino mental e o controlo emocional. Para Bruno Reis, a concentração, a determinação e a respiração permitem transformar o estado de espírito de um praticante em poucos minutos.

Contudo, Beatriz Katchi destaca a importância da espiritualidade – entendida como a consciência de que se pertence a um todo: “Desejamos formar a consciência das pessoas e fazê-las sentir-se integradas socialmente. Importa ainda que se aceitem como são e se sintam bem consigo próprias, aceitando as suas limitações e superando-as aos poucos.” Na sua opinião, tanto um professor como um instrutor do ioga devem ter na sua formação as disciplinas de fisiologia e anatomia: “Uma pessoa que não sabe como é a sua estrutura interna, não percebe o funcionamento do corpo humano. Assim, há o risco de os alunos poderem desenvolver patologias.”

Bruno Reis, de 28 anos, defende-se dizendo que, para além de ter tido uma formação muito prática ao longo dos dois anos em que estudou com o Mestre DeRose, na Universidade de Ioga, e de saber quais os efeitos dos exercícios no corpo humano, o que importa é que quem ensine saiba adequá-los ao aluno consoante as suas limitações e patologias. Defende que “O ioga é prático e não teórico.”

Relativamente aos custos das aulas, a Confederação Portuguesa de Ioga permite a prática grátis de algumas delas – não referindo os preços das que são pagas –, enquanto a Associação de Ioga Integral de Portugal (AYIP) desenvolve várias campanhas durante o ano com preços mais baixos. Já o pacote de preços que Bruno Reis coloca à disposição dos alunos varia consoante a carga horária, podendo o orçamento ser feito para cada caso – à semana, ao mês ou ao ano, sendo que o valor baixa gradualmente. Na AYIP, quatro aulas por mês são 35 euros, sendo que com Bruno Reis o valor de quatro aulas varia entre 120 e 160 euros, de 45 a 60 minutos, respectivamente. Cabe ao público pesar vantagens e desvantagens e optar pelo plano de aulas que melhor lhe convém.