Teresa Messeder
O ioga ajuda a combater a violência nas escolas
Estudou e deu aulas de pintura a crianças, mas também ioga. Em Paris, nos anos 1970, descobriu que podia juntar as duas coisas. Trouxe as técnicas aplicadas ao ensino para Portugal e, aos 68 anos, continua a ensiná-las a professores e educadores.
Quais são as vantagens de introduzir o ioga na sala de aula?
As vantagens do ioga na educação são muitas, não só para os alunos - ajudam-nos a relaxar, a concentrar-se, a trabalhar a memória e a descontracção -, mas também ajudam os professores. Conhecendo estas técnicas e os seus alunos, o professor pode, por exemplo, quando eles estão muito cansados, fazer uma pausa de dois ou três minutos para um relaxamento. Eles gostam muito e pedem até. Outras técnicas que podem ser utilizadas são de acolhimento de alunos, técnicas para se aquecerem quando têm frio, de memorização, de concentração, outras que os ajudam a libertar a tensão que têm antes de um teste ou de um exame. É tão variado... São exercícios que se podem fazer na sala de aula. Eles podem estar nas carteiras. São exercícios adaptados (com os pequeninos, são dados de uma forma muito lúdica, tendo cuidado com o crescimento). O trabalho que fazemos no Recherche sur le Yoga dans l'Éducation [RYE] é para levar o aluno a recentrar-se - as crianças andam muito dispersas e têm a necessidade de se reencontrar.
Os resultados são visíveis?
Os resultados estão muitíssimo comprovados. A primeira experiência, pela professora de ioga e inglês Micheline Flak, foi em 1973, e até 1978 chamou-lhes "técnicas de bem-estar", que tiveram muito sucesso. Foi esse sucesso que levou à fundação do RYE em 1978. São até os outros professores que pedem aos colegas para lhes ensinarem as técnicas. Ou então os próprios alunos, que vão às aulas de professores que utilizam estas técnicas, depois pedem. Os professores têm de ser, pelo menos, praticantes de ioga, porque ninguém pode dar uma coisa que não conhece. Isto é uma pedagogia, não é uma receita.
Conheceu as técnicas em Paris, nos anos 1970. Por que decidiu trazê-las para Portugal?
Estava em Paris e a directora da minha escola convidou a professora Micheline Flak para uma sessão de ioga nidra, uma técnica de relaxamento profundo com que ela trabalhava. Eu fiquei tão seduzida por essa técnica e por essa professora que fui ter com ela. Estava a estagiar no Museu das Artes Decorativas com crianças e a fazer formação de ioga. Depois acabei por trabalhar com crianças no ioga. Assisti, em Paris, ao nascimento do RYE, em 1978. Desenhei-lhes o logótipo, os cartazes e estive muito ligada, desde o início, a este movimento. Voltei, em 1983, para Portugal. No início, houve uma tentativa de uma professora que tinha ido a um estágio internacional [de introduzir estas técnicas] e vieram cá dois formadores franceses. Mas não teve continuidade. Também em 2001 vieram cá duas formadoras e não teve continuidade. Em 2007, arranquei com a primeira formação, tive 30 inscrições e gente em lista de espera.
Quantos professores portugueses recorrem a estas técnicas?
Em Portugal, temos 53 sócios. Nem todos têm diploma, porque para se ter um diploma é preciso fazer-se um estágio internacional [de formação às técnicas de ioga na escola que, desde 2000, se realiza a cada dois anos num país diferente]. Este ano é cá [em Ofir, entre 23 a 29 de Julho].
O objectivo do RYE Portugal é que venham a ser usadas de uma forma mais abrangente?
O objectivo é ir dando resposta àquilo que é preciso. Penso que pelos benefícios que estas técnias têm trazido só há vantagem em que elas se divulguem o mais possível. Para que possam ajudar os alunos a sentirem-se melhor, a aprenderem com alegria, a anularem todas estas tendências de violência nas escolas - porque a violência é criada pela enorme tensão em que os alunos vivem.
Curiosamente, as técnicas do RYE estão agora a chegar à Índia...
A professora Micheline Flak tem corrido o mundo inteiro. Também tem ido a Bangalore e a Calcutá fazer cursos do RYE. Diz que agora quer dar à Índia aquilo que a Índia lhe deu.
Texto originalmente publicado na Pública