Enric Vives-Rubio

Os alunos não são todos iguais

Nos últimos tempos o país tem sido abalado por toda a polémica escolas públicas/privadas. Certamente que é importante que os recursos económicos sejam bem geridos e de forma a dar à maior quantidade de alunos possível as melhores condições de ensino possíveis. No entanto, penso que a reforma que se está a precisar de fazer a nível do ensino é muito mais a nível de conteúdo.

Hoje em dia, nas escolas primárias, embora se façam as chamadas actividades extracurriculares, o currículo dos alunos passa essencialmente pela aprendizagem do português, da matemática e do estudo do meio, sendo que as duas primeiras têm especial ênfase. Como é óbvio, são disciplinas importantes, mas estamos a falar de crianças, com um poder de imaginação espectacular, cheias de ideias novas e interessantes para partilhar e com uma necessidade de se descobrirem e de se expressarem muitíssimo grande. E o que é que fazemos? Pomo-las todas numa sala, sentadas o dia todo, a aprender matéria como se fossem gente grande, e esperamos que, por milagre, eles cresçam pessoas informadas, curiosas e multifacetadas. Como esperam isto se tudo o que é expressão é visto como secundário? A música, a dança, as artes plásticas, o cantar, o brincar, tudo isso é secundário. Fará o mínimo sentido?

E este sistema de ensino insonso vai acompanhando os alunos até ao final do seu percurso escolar. No básico passam a ter mais disciplinas, mas disciplinas em que, na maioria das vezes, não é fomentado o debate, a troca de ideias, o dinamismo na aula; ao invés, há um professor que também já está cansado de ser mal tratado pelo sistema, que se limita a debitar matéria, para que os alunos a decorem para o teste ou exame, e para que mal o acabem se esqueçam de tudo o que decoraram, e por isso, ouvimos dizer tantas vezes que a disciplina x ou y “não me interessa para nada”. Porque se calhar, de facto, não interessa. Os alunos não são todos iguais, nem todos foram feitos para um tipo de escola muito teórica, que não valoriza mais nada senão as boas notas nas disciplinas vistas como importantes. E é por isso que vemos conservatórios de música a fechar por todo o país e conservatórios de dança com salas em que o tecto cai em cima dos alunos; alunos de artes a serem ridicularizados porque “artes é para quem não quer trabalhar”.

E no secundário não melhora. Escolhe-se um caminho muito mais específico, em que a margem de manobra é muito menor, escolha essa feita numa idade em que os alunos ainda se estão a conhecer a si mesmos. A grande maioria chega ao final do 12º ano e diz que mudou radicalmente desde o ponto de partida e muitos acabam por descobrir que a área que escolheram não era bem a indicada para eles, mas já não podem seguir outra porque não fizeram determinados exames ou não tiveram determinadas disciplinas. Não deveria haver uma flexibilidade curricular maior, que permitisse aos alunos ir, de forma controlada, moldando o ensino a si, em vez de acontecer o oposto?

Vivemos num país em que temos a possibilidade de ir à escola, de aprender, algo que tomamos por garantido porque somos uns privilegiados. E os professores e entidades superiores acusam as gerações mais jovens de serem desinteressadas e arrogantes, de não aproveitarem o que a escola tem para dar. Mas se já se tornou num problema global, não estará o problema na forma como se ensina e está construído o ensino e não nos alunos, ou não só nos alunos? O mundo está em constante mudança, é normal que as características dos alunos de hoje em dia sejam diferentes das dos alunos de há 20 anos atrás e assim, penso que era necessário reformularmos a maneira como encaramos o que é a escola, o que é aprender e o que é ensinar.

Sou a Maria Costa, tenho 18 anos e sou de Évora. O meu mundo é a arte, seja a fazer música, a dançar, a pintar ou a escrever, é aqui que me encontro.