público/arquivo

Um aluno sofre e os resultados finais também

Hoje é só mais um dia em que me sento à secretária e abro um dos nove manuais da disciplina de História – faz parte do processo que é, por esta altura do ano letivo, a minha rotina. E faço-o com prazer, pois acredito que a educação é a ferramenta mais crucial para a construção intelectual de um indivíduo. 

No entanto, ao fim de 12 anos de escolaridade obrigatória, não posso deixar de pôr em causa o modo como sou avaliada. Mas sei que não estou sozinha na minha indignação – outros 75 mil jovens também foram nesta quarta-feira avaliados no primeiro capítulo da sequela dos exames nacionais. E é desta forma que se inicia o clássico “andar às turras” com os “senhores do Iave”.

Com efeito, é assim que os alunos olham para quem os avalia – com distância, medo, uma autêntica montanha russa de sentimentos onde a desconfiança sai sempre vitoriosa. Se alguém considera que este ambiente disfórico fomenta resultados escolares positivos, então está muito enganado. Todavia, a culpa não é só do Ministério da Educação. O típico aluno do nosso país preocupa-se sobremaneira em apontar o dedo aos senhores do Iave, quando, em último caso, a culpa é-lhe precisamente intrínseca. Ora, nem um aspeto nem outro pode continuar assim. Agradeço a mensagem de esperança que Pessoa nos deixou, mas a verdade é que quase tudo em Portugal ainda precisa de reformas urgentes – e porque não começar pelo nosso sistema educativo?

Na realidade, sempre me foi dito que para uma compreensão ou análise objetiva da História, é necessário esperar, no mínimo, dezenas de anos. Não só a natureza humana se rege por princípios cíclicos, como os seus efeitos demoram bastante tempo até se manifestarem. Tome-se como exemplo significativo os últimos 40 anos em Portugal. Quem sou eu, nos meus 18 anos, para fazer uma análise crítica ao 25 de abril de 1974? E quem são os senhores do Iave para, um ano após o massacre, avaliarem o meu conhecimento relativo às repercurssões do Charlie Hebdo? Todos estes aspectos me levam a crer que o cerne do problema está enraizado num governo cronicamente otimista. Porém, demasiado antiquado para esta atualidade.

Naturalmente, um aluno sofre. Igualmente, os resultados finais sofrem. Enquanto Nação, estamos a criar cidadãos sobremaneira frágeis e pouco (ou nada) preparados para um viogoroso mercado de trabalho. Aprendam a avaliar-nos, e nesse momento nós aprenderemos as ferramentas cruciais para integrar uma sociedade de adultos propriamente formados. Sugiro começar pela revisão do conteúdo que nos ensinam e com o qual “enchem” os nossos manuais escolares. Além disso, será que conseguem tomar uma decisão definitiva acerca do acordo ortográfico que devo utilizar? A partir daí, podem proceder às outras inúmeras mudanças. Por exemplo, a falta de critérios mais abrangentes, aquando da entrada para a universidade, é prejudicial. Um aluno não é apenas um número estatistico nem uma média final ponderada e não deve viver na ansiedade do “tudo ou nada”. Apesar da minha concordância com os exames nacionais, acredito que o aluno, principalmente quando o resultado determina grande parte do seu futuro,  não deve ser severamente lesado pela sua prestação naqueles tenebrosos 120 minutos – refiro-me ao peso excessivo das provas de ingresso na média final. Mas lá está, também nos cabe a nós cumprir o nosso dever e devorar manuais, de modo a assegurar o sucesso no final de cada ano letivo.

Como nota final, quero apelar ao bom senso de todos os estudantes, que por vezes se deixam cair na aversão que estas semanas provocam, e quero que adquiram consciência da nossa realidade. Os nossos núcleos familiares estão fragilizados e a nossa sociedade sofre mutações constantes devido à crise que o nosso país atravessa. Hoje em dia, nada está fácil para ninguém. No entanto, acreditem em mim quando vos digo que a aprendizagem, por maior sacrifício que possa ser, nunca é feita em vão. E sabe tão bem chegar ao fim de 12 anos de escola e ver o reconhecimento do esforço que fizemos.

Votos de êxito a quem se cruzar, a partir desta quarta-feira, com os 120 minutos mais temidos do ano. Não é nada que não consigam fazer e, para incentivar o estudo, lembrem-se que estão cada vez mais perto de seguir a área que realmente vos cativa. Todo um novo capítulo se iniciará brevemente. Boa sorte.

O meu nome é Luisa Moreira, já somei 18 anos e sou de Lisboa. Acredito que é indispensável sermos cheios. Cheios de nós próprios, cheios do mundo e da vida, cheios de sentido e de amor. Damos sentido à vida e a vida dá-nos sentido a nós.